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10 DE DEZEMBRO DE 1946 71

a generalização anunciada. E até -como bem preconiza a Comissão de Reforma do Ensino Técnico, criada pelo decreto-lei n.º 31:431, de 29 de Julho de 1941- a revisão neste sentido dos programas primários.
Elevar-se-ia assim para os 13 anos a idade em que o estudante precisaria de escolher caminho; até aí todo o ensino seria um sistema de vasos comunicantes, onde todos os movimentos seriam possíveis. Contudo, este encadeamento do ensino técnico com o liceal fará renascer o problema, já abordado, da duração do ciclo preparatório, para efeito de uniformização com o 1.º ciclo do liceu.
Em tais condições, a exclusão do Francês seria impossível, não só porque o liceu e o curso comercial o não dispensariam, mas ainda .porque a experiência de toda a gente, mesmo quando não viva na intimidade da pedagogia, mostra a vantagem de começar tão cedo quanto possível o ensino de idiomas estranhos, dando pleno valor ao aforismo de que burro velho não aprende línguas.
Mas uma dúvida é legitimo levantar: a inclusão do Francês como disciplina preparatória para os cursos industriais, imposta pela necessidade de uniformização, não poderá ter o inconveniente de parecer pretensiosa, de contribuir para o desvirtuamento da finalidade das escolas, de atenuar em quem as frequenta o verdadeiro sentido da formação que receberam, para usar as palavras do relatório do decreto n.º 18:420?
Confessa-se esse receio, e só por isso se não defende desde já a inclusão da Língua Francesa no ciclo preparatório, deixando a resolução deste ponto para quando se der a sua unificação com o 1º ciclo do liceu, porventura já mais aceite a ideia de que o conhecimento elementar de uma língua de grande expansão tem perfeito cabimento num curso preparatório de qualquer índole, não como primeira presença do grau de bacharel, mas como obrigação geral de quem não trouxe do berço essa importante regalia.
Pensa-se, aliás, que não será grande a influência perturbadora que poderá vir a ter no arranjo do ensino técnico esta nova disciplina de feição literária, se for integrada num conjunto de programas moldados na preocupação de revelar o munido real. o concreto, o palpável, com muitas experiências, muitas contas, muitos exercícios, sempre no sentido de fixar pela repetição as coisas simples, com o abandono sistemático do que só pode tratar-se pela rama e tem o destino fatal de ser esquecido.
Esta defesa do concreto contra o especulativo, que deve ser a índole do ensino técnico, precisa, como tudo, de não ser extremista; e daí o vir a propósito lembrar que a escola profissional não pode ser exclusivamente oficina ou escritório, porque se o fosse não seria precisa ; a sua função não está só em aliviar as actividades industriais e comerciais do encargo de ensinar o ofício aos que começam a vida. mas em corrigir os vícios do empirismo com que se faz hoje, na generalidade dos casos, essa aprendizagem.
Para findar esta análise das matérias compreendidas no ciclo preparatório, deseja a Câmara Corporativa dizer algumas palavras sobre a necessidade da educação estética. Não se trata, evidentemente, de incluir no programa das escolas técnicas a disciplina de História da Arte ou outra enormidade semelhante; pretende-se apenas que não ande afastada deste ensino a preocupação de insinuar nos alunos a noção do belo. o sentimento do bom gosto, a aversão por tudo aquilo cujo aspecto não mereceu atenção e se apresenta imperfeito, mal acabado, falto de equilíbrio e de expressão conveniente.
A questão não tem só a importância, que alguns verão nela, de um requinte de educação; é um factor de formação profissional que a escola não pode abandonar se quiser, e certamente quer, reagir contra certa tendência da nossa produção para fazer coisas desgraciosas, sem o esmero de um acabamento cuidado, sem unia linha em que os olhos caiam com prazer.
Toda a máquina, todo o produto industrial, qualquer que seja o seu valor, a sua forma ou o seu uso. é susceptível de ter bom ou mau aspecto, como pode ter boa ou má qualidade. Nem sempre a boa qualidade arras na consigo, obrigatoriamente, o bom aspecto, porque há certos temperamentos que parece não sentirem com igual força as duas necessidades; mas fora destes casos restritos, quando a falta de cuidado na apresentação de um artigo nasce da ausência de estímulos culturais do produtor, é seguro que o desinteresse pela harmonia do exterior se estende aos pormenores do acabamento interno; e a identidade do feio com o mau torna-se regra.
A preocupação, a um tempo espiritual e profissional, do que é belo e do que é bem feito não pode faltar no ensino técnico; a Câmara Corporativa espera que os programas o lembrem ao professor, para que ele se não esqueça de que lhe cabe ministrar uma educação de sentido estético e de que deve levar o aluno, pela palavra, pelo exemplo, pela comparação e ajudado até pelo ambiente escolar, a habituar a vista a sentir o que é feio e a tê-lo como erro que se não perdoa.
Se compararmos os tempos lectivos previstos na organização dos dois anos do ciclo preparatório, já decretado para a Escola Alfredo da Silva, no Barreiro (decreto n.º 3S:402, de 27 de Dezembro de 1945), com os dos dois primeiros anos dos principais cursos das actuais escolas industriais e do curso comercial, podemos organizar o quadro seguinte, em que, por comodidade, se uniformizam os nomes das disciplinas:

[ver tabela na imagem]

Nota-se neste quadro:

1.º O número de horas teóricas fica, pela nova reforma, sensivelmente na média das médias actuais na indústria e no comércio (respectivamente 12,8 e 16,5):