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12 DE FEVEREIRO DE 1947 521

pasmo muita gente. No entanto, a ninguém se pediram responsabilidades.
Típica amostra são os barcos alemães incendiados no porto de Mormugão, cheios de colossais riquezas, e que há anos jazem inertes, sem que alma caridosa deles se recorde.
Eles atestam a inércia dos governantes; talvez ocupados em assuntos de maior monta, deixaram que todos os barcos fossem impunemente «limpos» de preciosa carga e se corroessem pela acção do tempo.
Esta ponte do Sandalcalo foi construída por um engenheiro que dizia saber construir pontes e fiscalizada pelo governo local; mas a verdade é que ela desabou pouco dias depois de ser inaugurada!
Houve ainda outra ponte, que também desabou pouco depois de inaugurada. Tom o jornal ou não razão em invocar estes casos de voragem, para os quais a colónia em nada contribuiu?
A segunda ponte a que me refiro foi construída pôr um engenheiro mandado daqui, da metrópole. Depois pretendeu-se construir uma terceira ponte, entre a ilha de Tissuari e a aldeia de Cortalim, na outra margem do rio Inori.
Mas, de facto, Sr. Presidente, essa última ponte nunca chegou a ser construída e gastaram-se nela milhares de rupias.
Se isto não foi voragem, em que a colónia não teve culpa, o que será?
Mas continuemos a ler:

Quanto ao outro sintoma de estagnação a que se refere o preâmbulo - de a circulação fiduciária se manter a mesma de há dez anos atrás, havendo, contudo, mais de 30 milhões de rupias em depósito no Banco e Caixa Económica - prova à saciedade que a riqueza do país não se apoia nas notas do Banco emissor, mas em notas do Reserve Bank; são elas que, aos milhões, circulam no país, pois à emigração se deve o seu maior quinhão. E mesmo muitos capitais estão aplicados na índia vizinha em acções e por outros meios, por aqui não haver colocação condigna, porque na nossa terra não se avança, antes parece como o caranguejo - anda para trás. É que não se soube estimular iniciativas, ampará-las, mas, ao contrário, todas as peias se puseram para que as melhores vontades se entibiassem.

Isto são verdades iniludíveis; e, se inércia houve, não foi da colónia, mas dos governantes. Afirmar estas verdades não constitui injúria.
Como se verifica, até aqui não há qualquer expressão ofensiva para o Estado ou para o governador.
Com relação a funcionários, diz o Sr. governador no seu preâmbulo:
Ressalta-se no preâmbulo o fraco rendimento de grande parte do funcionalismo, atribuindo-se a sua causa «ao efeito do clima ou outros motivos, quando, se a premissa fosse verdadeira - que o não é-, a cansa seria diversa: a magra remuneração que, na maioria, o funcionário recebe, que lhe amputa os voos, que lhe tolhe iniciativa e faz perder o incentivo; quando em qualquer outra província ultramarina os funcionários de igual categoria auferem vencimentos que os põem a coberto das intempéries da vida.
Reconhece-se este princípio no preâmbulo; reconhece-se ainda que em alguns serviços há alguma inflação de pessoal; mas faz-se injustiça ao seu rendimento. Honra, porém, ao funcionalismo goês, que, tanto na metrópole como noutras províncias ultramarinas, ainda nas Áfricas inglesas e mesmo na vizinha índia, é preferido e estimado, não só pela sua inteligência, mas sobretudo pela sua honestidade e cordura. Vemo-lo nas melhores casas comerciais e em todos os serviços públicos: a sua assiduidade, o sen rendimento nada ficam a dever ao do sen colega de qualquer outra raça.
Bastos testemunhos poderíamos transcrever, mas não é necessário, porque está na consciência de todos, porque é uma verdade nua e crua.
Diz o Sr. governador ainda no referido preâmbulo:
Entretanto há quem reclame que a metrópole mande para aqui arroz como dádiva de soberania e apetreche os estabelecimentos hospitalares em homenagem aos antepassados, tudo, evidentemente, à custa do contribuinte metropolitano.
Esta parte do preâmbulo do orçamento é uma bisca ao nosso ilustre colega Sr. Dr. Froilano de Melo, que pediu que o Governo acudisse à necessidade de arroz que havia para a subsistência dos habitantes; mas o Sr. Deputado, cujo discurso está publicado, não disse que o arroz fosse fornecido à custa da metrópole, como dádiva de soberania, pois há na índia muito dinheiro para pagamento do arroz fornecido.
O jornal bem o explica assim:

Não fomos nós que fizemos tal reclamação; o que o país pediu e exige é que os laques provenientes do lucro de venda de arroz, farinha, trigo, açúcar e outros cereais se utilizem para aquisição de arroz, donde quer que venha, dando nos barcos portugueses preferência ao transporte de comestíveis do que aos vinhos e artigos de luxo. É essa a obrigação do Estado em toda a parte; é o que fazem os governos que pensam. Primeiro os abastecimentos, depois os projectos e planos. Antes de mais, prover a subsistência da população, à custa de todos os sacrifícios, e a seguir o resto.
Suponho que ainda nesta parte não há ofensa alguma, quer ao Governo ou à Nação, quer ao governador. Prossigamos a leitura:
Também para apetrechar os estabelecimentos hospitalares o público paga imposto sobre cada especialidade farmacêutica que entra no país. Dê-se-lhe o destino devido.
Depois, no fim do preâmbulo, diz-se isto:
Como se fosse pouco o sacrifício já por este suportado (contribuinte metropolitano) de ter adiantado até agora mais de 3,5 milhões de libras esterlinas para garantir um caminho de ferro de que só a índia beneficia e de há séculos vir suportando o Padroado, o mais alto e desinteressado testemunho de uma política ultramarina que simbolicamente já vinha definida do Príncipe Perfeito, pela sigla do pelicano que tira o sangue do próprio peito para alimentar os filhos.

Que culpa tem a índia de que se fizesse o mais desastrado dos acordos com a VV. I. P. Railway, denotando somente a incompetência das autoridades em apetrechar um porto natural como o de Mormugão, dádiva da Natureza, e em construir as poucas dezenas de quilómetros de linha férrea?

O Sr. Presidente: - Lembro a V. Ex.ª que já atingiu o período de tempo regimental.