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8 DE MARÇO DE 1947 783

O Orador: - Lá vamos.
Diz ou não a Federação Nacional dos industriais de Lanifícios, na sua representação enviada a esta Assembleia (Diário das Sessões n.° 74, p. 275), que a indústria não pode ser obrigada, a adquirir a lã nacional em bruto quando a emprega já classificada e lavada?
Diz ou não, nessa mesma representação (no mesmo Diário das Sessões e na mesma página), que a lã nacional é extraordinariamente variável na sua qualidade e rendimento, muito heterogénea, e que, encontrando-se dispersa por milhares de produtores, torna impraticável a compra directa pela indústria e dificulta a sua própria recolha para efeitos de comércio e lavagem?
Diz-se ou não, a p. 272 do já citado Diário, que as lãs nacionais devem cotar-se num nível de preços 60 por cento mais baixo que as lãs estrangeiras?
São ou não estas afirmações uma ameaça séria aos interesses da lavoura?
E que pede a lavoura, afinal, essa lavoura tão sacrificada? Pede que se não esqueçam já todos os sacrifícios que fez e tantos que está fazendo ainda, que se não permita, através de importações maciças, o aviltamento dos preços, repetindo-se a manobra que permitiu apresentar o preço de 1939 como um elemento sério nesta discussão. Pretende-se voltar a essa. velha manobra, do modo a que a indústria, abastecida de lã estrangeira, imponha o preço como entender.
Era assim anteriormente à guerra.
Quando a lavoura ia oferecer as suas lãs diziam que não eram precisas, o ela via-se na necessidade de aceitar os preços vis que servem agora de argumento contra ela.

O Sr. Cerveira Pinto:-Mas não há que considerar também o custo da vida?

O Orador: - Eu não estou a tratar do custo da vida.
O Sr. Deputado Alçada Guimarães citou ontem a opinião abalizada do Sr. Dr. Mário de Morais, uma verdadeira autoridade no assunto, a quem folgo de prestar a minha homenagem, pelo seu saber e pelas suas qualidades intelectuais e morais.
Mas S. Ex.ª não disse só o que aqui se citou. S. Ex.ª diz também neste folheto, que foi distribuído a todos os Srs. Deputados pela Junta Nacional dos Produtos Pecuários, o seguinte:

A actividade comercial tom gozado entre nós de condições do vida excepcionalmente favoráveis, graças à falta de conhecimentos e de meios de defesa dos produtores e à de uma conveniente ordenação o regulamentação de tal comércio, abandonado geralmente à mais desenfreada especulação ...

O Sr. Alçada Guimarães: -V. Ex.ª está a referir-se a quo actividade?

O Orador: - À comercial.

O Sr. Alçada Guimarães: - Pois então estamos absolutamente de acordo.

O Orador:

... Em parto à custa da produção e, às vezes, da própria indústria., alguns comerciantes conseguiram auferir largos proventos, não sendo poucos os que acabaram por comprar fábricas e transformar-se em grandes industriais.
Esta é a resposta à afirmação que V. Ex.ª, Sr. Deputado Cerveira Pinto, ontem fez de que a especulação era da lavoura.

O Sr. Cerveira Pinto:-V. Ex.ª faz-mo o Favor de não me pôr na posição, que não aceito, de defender os comerciantes.

O Orador: - Eu disse quo V. Ex.ª afirmou que a especulação era da, lavoura.

O Sr. Cerveira Pinto: - O que se discutia era a importação de lã estrangeira. Era isso que estava em discussão.

O Orador: - O que estava em discussão era o preço da lã nacional.

O Sr. Cerveira Pinto: - Só há especulação por parto do comerciantes ou de industriais, evidentemente que eles devem ser metidos na ordem; mas que mo coloquem na posição de defender a especulação, isso é que eu não posso acoitar.

O Orador:-Eu disse simplesmente quo V. Ex.ª acusou a lavoura de especulação.

O Sr. Cerveira Pinto: -Isso mantenho.

O Orador: -Pois mau tom mal, porque não ó verdade. Diz ainda o Sr. Dr. Mário de Morais noutra passagem :
Por isso, torna-se absolutamente indispensável levar a metrópole a intensificar a produção de lã, mas daqueles tipos que economicamente possa produzir.

E mais adiante:

Mas não se esqueça também que, paru fomentar a produção, é indispensável garantir um ambiento económico favorável, que só pode conseguir-se com uma verdadeira política nacional de lã que coordeno a actividade dos sectores que interferem no ciclo económico deste têxtil - a produção, o comércio o a indústria de lanifícios.

Finalmente, diz ainda o Sr. Dr. Mário do Morais:

Uma grande parte dos industriais portugueses interessados em trabalhar lãs importadas cheias do qualidade, que lhes são oferecidas com toda a segurança, comodidade e a preços acessíveis (compensados, aliás, pêlos preços por que se vendem os artefactos com elas confeccionados, graças, em parte, à protecção pautai dada a esses artigos), não se interessa grandemente pelo melhoramento das lãs nacionais, que se habituaram a considerar sempre de inferior qualidade em relação às importadas.

Notem V. Ex.ªs: «que se habituaram a considerar sempre do inferior qualidade»!

Simplesmente nos temos esquecido todos - d i/ ainda o Sr. Dr. Mário de Morais - de que os maravilhosos resultados conseguidos nos países de além-mar com o melhoramento das lãs foram alcançados principalmente à custa da comunhão de esforços das grandes casas da Europa transformadoras da têxtil, que mantinham íntimas relações com os organismos representativos dos criadores daquelas regiões, aos quais davam conhecimento dos resultados obtidos com as lãs de cada campanha, orientando o sentido em que à indústria convinha fosse dirigido o melhoramento da produção.