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12 DE MARÇO DE 1947 808-(19)

A tradição deficitária da balança comercial portuguesa quebrou-se por três anos, com um saldo positivo no total de 2.658:000 coutos. Mas ainda a guerra não era terminada, reapareceram logo os saldos negativos e em volume que faz prever embaraços no futuro. Nesta trágica realidade, e não é exagero classificá-la de trágica, reside uni pouco também o atraso do nível de vida. Em primeiro lugar deve notar-se que a capitação do nosso comércio externo é muito baixa. Em 1938 o total em valor atingia mais ou menos 8:450 mil contos, uns 34 milhões de libras. Só as exportações da Dinamarca em 1935 alcançaram 52 milhões e as da Noruega 32 milhões. Se se juntar as importações destes dois países, teremos este pequeno quadro, em milhões de libras:

Comércio externo

Portugal - 1938 ........... 34,51
Dinamarca - 1935 ........... 113,55
Noruega - 1935 ........... 71,43

Como a população é bastante menor, a capitação é, num e noutro caso, muito maior naqueles pequenos países escandinavos.

Diversas importações

40. Até certo ponto há dois contra-sensos na nossa balança comercial que, por mais que neles se atente, não conseguimos destruir. Em país essencialmente agrícola importaram-se em 3945 cerca de 500:000 toneladas de substâncias alimentícias, com o valor de mais de J milhão de contos. Em país que não é industrial também se importaram cerca de 1:200 mil toneladas - já haviam sido 1:800 mil em 1938 - de matérias-primas, no valor de mais de 2 milhões de contos. Nestas duas rubricas estão 3 ou 4 milhões de contos que em 1945 saíram do País para pagar importações. Nas matérias--primas têm influência sensível, em tonelagem, os combustíveis, que representaram cerca de meio milhão de toneladas só no carvão, com um valor de 300:000 contos.
As substâncias alimentícias exportadas tiveram o valor de 1:130 mil contos, mais 75:000 do que as importadas. Consistiram em grande parte em sardinhas de conserva e similares (482:000 contos) e em vinhos e aguardentes (318:000 contos). Estes três produtos perfazem 800:000 contos, ou 70 por cento da exportação total de substâncias alimentícias. Deve acentuar-se que a exportação de conserva de sardinhas não é líquida, porque toda a folha de Flandres se importou, e isso representa 86:000 contos em 1945.
No total da exportação de matérias-primas (700:000 coutos) tem lugar de relevo a cortiça (260:000 contos); os minérios produziram 100:000 contos, mais ou menos.
No resto há a notar a forte exportação de tecidos de algodão, que totalizaram mais de 250:000 contos, incluindo fio, e a cortiça em obra, que já atingiu perto de 250:000 contos. A cortiça em matéria-prima e trabalhada (em obra) alcançou a exportação total de mais de 500:000 contos, e, se se comparar a diferença entre os preços unitários e os pesos de uma e de outra, chega-se a não compreender as razões que impedem maior esforço no sentido de desenvolver a indústria corticeira.
Em 1945 o preço unitário da cortiça (matéria-prima), por tonelada, foi de 2.125$, enquanto que o da média da cortiça em obra atingiu 1.2.358$. Da primeira exportaram-se 123:000 toneladas e da segunda apenas 20:000. Pode visionar-se o progresso desta indústria e a sua influência na balança comercial no dia em que for possível transformar dentro do País, pelo menos, metade da que agora é exportada.

Importação de cereais

41. Resta ainda dizer umas palavras sobre os cereais consumidos este ano. O tempo tem influído nas produções de trigo dentro do País, que foram desde 1930 as que constam do quadro que segue, em toneladas.

[Ver Tabela na Imagem]

Parece que a experiência dos últimos dezasseis anos nos mostra uma coisa simples. É que, pelo menos, enquanto não forem modificados os nossos sistemas de culturas, tanto no que diz respeito à selecção de sementes como noutros aspectos, não poderemos produzir trigo para consumo interno. O problema em caso de guerra é grave, mas, infelizmente, os anos de 1940, 1941, 1942, 1943, 1944 e 1940, no que respeita a importação de trigo, mostram a impossibilidade de nos bastarmos a nós próprios.
Este é um facto que necessita de ser encarado a sério, fora de divagações teóricas, porquanto é conhecido o pouco rendimento da exploração trigueira na maior parte das terras.
O problema da adaptação de solos, que hoje produzem trigo em circunstâncias antieconómícas, é um dos mais importantes e sérios que se põem diante do País. Não è possível com índice de vida mais elevado continuar a semear trigo que em muitos anos não chega e produzir cinco ou seis sementes em certas zonas.
Persistir no erro, conscientemente, é condenar parte da população a nível de vida inferior ao que poderia ter.
Noutro lugar deste parecer se estudam as condições de muitos terrenos hoje utilizados na produção do trigo ou outros cereais.
No Alentejo, sobretudo, há possibilidades de uso desses terrenos em outras culturas mais rendosas desde que se confirme a existência de água em mananciais subterrâneos, como parece já estar provado em muitas zonas, sobretudo no pliocénico. A adaptação de solos, em regime de cultura intensiva, à produção de cereais em caso de emergência é, sob todos os aspectos, bastante fácil e produz maiores rendimentos quantitativos, como aliás se provou já nesta guerra.
Tudo indica, por consequência, a necessidade de encetar um vasto plano de readaptação de largos tratos de terrenos, susceptíveis de exploração mais rendosa, numa reforma agrária racional, que considere o abastecimento de água, o regime de propriedade, a escolha