O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

15 DE DEZEMBRO DE 1947 77

Para cabal elucidação desta Assembleia, para que todos os portugueses possam aperceber-se do que lado está a razão - pretendo admitir que são integral, inteiramente procedentes, todas as objecçoes do Sr. Dr. Pacheco de Amorim. Vou mais longe: peço a VV. Ex.ªs que esqueçam as irrespondíveis justificações que sucintamente alinhavei e que se disponham a verificar a balança e os processos de pesagem utilizados pelo nosso colega Sr. Dr. Pacheco de Amorim na sua crítica à proposta da lei de meios desta legislatura.
Reparem: num dos pratos dessa balança acumulam-se os 2 milhões de contos soi-disant dispersados em inutilidades e em prejuízo das reservas do Banco de Portugal. Transijam VV. Ex.ªs por momentos em que todas as suas arguições são exactas. Aceitem esse peso tremendo como autenticado pela aferição de pesos e medidas...
Mas... e no outro prato da balança?
No outro esqueceu-se S. Ex.ª de fazer pesar a densíssima atmosfera que em matéria de abastecimentos e salários se conseguira criar em Portugal nos últimos meses de 1946 e nos primeiros do ano que vai terminar: sucessivas, crescentes, instantes reclamações de aumento de salários; os braços caídos a desfalcarem a produção; cruciantes dificuldades de abastecimento em inúmeros lares: fogareiros que não era possível acender, dispensas vazias, angústias diárias das esposas e das mães de família obrigadas a zelar pela sustentação da família. E, porque não dizer tudo?, um rumor surdo e persistente de queixumes, de lástimas, do soluços, que surdia nem se sabe de onde e nos deixava antever a iminência de uma convulsão derruidora.
O avolumar de pequenas faltas, agravadas pela sua repetição do dia a dia, quase perdoava já o esquecimento da obra enorme levada a efeito nas finanças, no crédito interno e externo, nas obras públicas, no reequipamento industrial.
Dir-se-ia que, voltando as costas aos exemplos do resto do Mundo, não querendo ver que os males da nossa terra nada eram em comparação com as tragédias que de polo a polo se desenrolavam, a inflação e o desespero terminariam num daqueles cataclismos de dique que se rompe.
O Sr. Dr. Pacheco de Amorim profetizou-o mais que uma vez.
Pois a política deflacionista do Sr. Ministro da Economia desanuviou esse horizonte.

Vozes : - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Repetiu-se a divisa do Nelson: post nobilia phoebus: depois da nuvem surgiu o sol.
Custou 21 milhões de libras; 2.100:000 contos?
Há quem leve o exagero ao extremo de proclamar que não teve outros efeitos essa quantia além destes em que acabamos de transigir?
Pois - ainda nessa hipótese - , bem empregada despesa!
Eu, que abomino as aritméticas, quero terminar a embrenhar-me em contas!
Façamos a capitação desses 2.100:000 contos pelos 8 milhões de portugueses: dá cerca de 200$ por cabeça em relação ao período de dez meses em que foram despendidos ; 250$ em dez meses, 25$ por mês.
Em última análise, foi por este preço que cada um de nós comprou o sossego, as facilidades e a segurança da nossa posição actual - aquela que o Sr. Presidente do Conselho ainda há bem poucos dias nos definiu com excepcional calma.
Haverá quem discorde da modicidade do preço?
Os industriais que estão a trabalhar para perder, a dois e três turnos por dia, os lavradores que conservam as suas terras, todos os que puderam continuar no calmo exercício das suas actividades, acharão caro?
Pois que antes de responderem ponham a mão na consciência e os olhos no recente exemplo da França e na ilustradora lição aqui trazida pelo Sr. Dr. Pacheco de Amorim acerca do que aconteceu na Hungria.
E faltar-lhes-á a coragem para uma resposta afirmativa.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

Mapas a que o orador se referiu no seu discurso:

MAPA N.º 1

Consumos totais de gado bovino adulto e adolescente do País

[ver tabela na imagem]

MAPA N.º 2

ovinos abatidos para consumo em Lisboa

[ver tabela na imagem]

MAPA N.º 3

Bovinos abatidos para consumo no Porto

[ver tabela na imagem]