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82 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 119

porque não faltava nada em toda a França no que respeita a produtos agrícolas.
O facto é este: as conclusões tirará V. Ex.ª

O Orador: - Eu vou tirá-las e até aproveitar as palavras de V. Ex.ª para um argumento ad hominem.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Eu não sou contrário à intervenção; tenho dito isso muitas vezes. O que sou contrário é à intervenção sistemática, à intervenção transformada em sistema, como é, por exemplo, a dos partidos socialistas, que intervém por intervir.

O Orador: - Ah! Isso também eu.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Então estamos de acordo.

O Orador continuando... V. Ex.ª disse há pouco que o que afirmei pode ser teoricamente certo, mas praticamente não é; e argumentou com o caso de Paris.

O Sr. Pacheco de Amorim: - V. Ex.ª dá-me licença? Voltemos ao caso da carne em Coimbra. Em Coimbra passam-se meses em que se não abate nem uma vitela, nem uma vaca. Pergunto se isso é natural.

O Orador: - E eu pergunto: quem é o responsável por isso?

O Sr. Pacheco de Amorim: - Eu é que não sou!

O Orador: - Mas V. Ex.ª, que faz essa afirmação, poderia ter-se documentado relativamente às razões determinantes do facto.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Entre a carne e as razões eu prefiro a carne!...

O Orador: - Também eu, quando se trata de almoçar ou jantar; quando se trata de discutir problemas, prefiro as razões.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Eu vou então apresentar a V. Ex.ª o problema. A carne é um alimento indispensável, por exemplo, em casos de doença, em casos que se tenha doente um filho ou qualquer pessoa de família. E nesses casos não importa dar mais 20 ou 30 por cento pelo artigo. Isto é que é a verdade. Ora a carne em todas as redondezas de Coimbra existe; porque não a há em Coimbra?

O Orador: - Não há em Coimbra carne fresca porque os intermediários não querem que a haja. Por issso, foi preciso intervir e impor a carne congelada. O Dr. Bustorff da Silva explicou o caso; não tenho necessidade de voltar a ele.

O Sr. Albano de Melo: - Veja V. Ex.ª: se se não tivesse importado a carne, o que acontecia!

O Orador: - Fui desviado do rumo que levava. Não tenho a preocupação de me restituir a ele; mas, por que o Sr. Dr. Pacheco de Amorim anunciou que ia sair para não perder o comboio, não quero deixar de, antes que parta, lhe pôr o argumento ad hominem que lhe anunciei há pouco. Precisamente por se tratar de um argumento ad hominem, sinto-me mais à vontade, ao produzi-lo, se V. Ex.ª estiver presente do que me sentiria se o não estivesse.
Disse V. Ex.ª, quando eu procurava justificar a intervenção do Estado no mercado dos preços, ser o que eu afirmava teoricamente certo, mas praticamente não.
Ora bem. V. Ex.ª afirma que a alta dos preços é não só previsível, mas fatal. Porquê? Porque, segundo certa doutrina económica - a teoria quantitativa -, o nível dos preços é função da quantidade de moeda.
Se a quantidade de moeda era em 1939 de 2 milhões de contos e hoje é de 8 milhões, estando assim multiplicada por 4, é fatal que os preços hão-de multiplicar-se por 4 em relação ao mesmo ano de 1939, e, como neste momento estão só multiplicados por 2, é fatal que hão-de elevar-se até aparecerem multiplicados por outros 2.
Não discuto agora se a posição tomada por V. Exa, - que é a posição de um quantitativista puro - é cientificamente verdadeira; só digo que é uma posição teórica. E se digo que não vou discuti-la não é porque não me agradasse fazê-lo, mas só porque entendo que não podemos converter a Assembleia Nacional numa academia em que os representantes da Nação se entretém em discussões de carácter puramente teórico.
Mas se a posição do Dr. Pacheco de Amorim é teoricamente exacta, as consequências que dela logicamente deduz também o devem ser.
O Dr. Pacheco de Amorim acode, porém, a dizer-nos: o que é teoricamente certo pode praticamente não o ser.
Aqui o argumento ad hominem.
Praticamente a que assistimos no problema que interessa? Assistimos a isto: a circulação quadruplicou (mais do que quadruplicou), os preços duplicaram; a circulação mantém-se quadruplicada, os preços apenas duplicados.
Manter-se-ão os preços no nível em que se encontram? Eu não sei.
Inclino-me a crer que não podem manter-se, não por tomar na matéria qualquer posição teórica, mas pela simples verificação deste facto: é que os preços subiram no mercado internacional, designadamente nos mercados externos nossos abastecedores, e desde que o mercado português não é, não pode ser, nem se quer que seja, um merendo fechado, os seus preços não podem dissociar-se dos dos outros mercados. Inclino-me, por isso, a crer que os nossos preços não poderão manter-se; isso, porém, não significa que hajam de quadruplicar em relação aos de 1939.
Não me afastei do pensamento do Dr. Pacheco de Amorim, já que, segundo este, o que é teoricamente certo pode praticamente não o ser...
Isto, mesmo supondo estar certa a posição teórica que assume.
O que afirmo não contraria a posição política do Governo, expressa pelo Sr. Ministro da Economia no seu discurso de Portalegre.
E claro que as afirmações agora feitas por S. Ex.ª não foram as que fez de início. Isso, porém, só mostra que o Sr. Ministro da Economia é político e sabe considerar os fenómenos sociais na sua mobilidade e considerá-los como quem quer atingir resultados políticos.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - No seu discurso de Portalegre o Sr. Ministro da Economia não diz que vamos continuar na campanha da baixa dos preços. E estou convencido, como sei que o está a gente que no País é mais idónea para se pronunciar sobre a matéria, de que é condenável uma política de baixa do nível geral dos preços através da deflação monetária, por esta ser geradora de falências e desemprego e ainda de que seria de resultados restritos essa política feita através do aumento indiscriminado da quantidade de mercadorias.
Na verdade, não parece que convenha permitir indiscriminadamente as importações, por poder representar desperdício da reserva de divisas acumuladas durante