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272 DIÁRIO DAS SESSÕES-N.º 132

Sem ela alguma coisa se faria, mas então ai do produtor e do consumidor.
Felizmente que temos a nossa organização. Perfeita? Certamente que aqui e ali ela pode sofrer aperfeiçoamentos de estrutura e de acção. Mas seria negar a evidência não reconhecer os altos serviços prestados à economia e, porque não dizer?, à causa nacional em que estamos empenhados.
Compare-se o que se passou em Portugal em volta do problema do pão durante a guerra de 1914 - faltas, desordens, grandes fortunas feitas - com o que se pôde verificar durante o último conflito, devido à existência da organização corporativa das actividades ligadas ao trigo, para só por esse altíssimo serviço ela se impor à nossa gratidão.
Viu-se que o preço do trigo sofreu um aumento de 77 por cento de 1939 para 1945 e, no entanto, devido à organização, o pão subiu durante este período apenas 40 por cento. Pois durante a outra guerra o trigo de 1913 a 1919 sofreu um aumento de 290 por cento, enquanto o pão em igual período registou um aumento de 290 por cento também. O comentário destes dois factos, aparentemente simples, faria revelar em toda a sua transcendência a diferença do que éramos e do que somos hoje em Portugal.
Se pudemos contar com a organização corporativa no passado, mesmo em tempos duros, poderemos contar com ela no futuro para efectivar, de forma eficiente, o sistema considerado necessário para a resolução deste problema vital para o País.
Sr. Presidente: vou terminar.
Repito o que um dia disse falando à lavoura:
Quem rasga a terra generosamente, dos vales às serranias, tendo apenas por barreira as rochas, quando não leva sua teimosia heróica a destroçá-las para alargar os limites acanhados da sua fazenda;
Quem desde a madrugada até para além da luz do dia, tantas vezes fustigado pela chuva, regelado pelo frio ou escaldado pela ardência do Sol, se debruça apaizonadamente sobre a Terra;
Quem vive a tortura quotidiana da incerteza de que os capitais, a técnica e o suor investidos numa cultura poderão ser compensados, pois temporal ou geada, cheia ou seca, vento ou praga não têm horário nem caminho certo sofre-se-lhes o rasto;
Quem faz vida sóbria de poupança para conservar ou alargar o torrão que herdou e poder legá-lo aos filhos, património de valor incalculável, porque não têm cotação alegrias e sofrimentos amassados nessa terra sagrada;
Quem reparte coração e dinheiro, tantas vezes até ao sacrifício, com os que trabalham a seu lado:
Bem serve a Pátria e bem merece que lhe proporcionemos um clima que se pode induzir pela palavra confiança.
Os tempos anormais que acabamos de atravessar perturbaram muito os espíritos, fazendo subir à tona ambições desmedidas, egoísmos, inconformações, hipercríticas que envenenaram a vida colectiva, por muitas vezes se perder b sentido das realidades, por muitas vezes se tomar a altura da onda pela altura da espuma.
Eu sei que na seara da Nação há escalrachos que convém estirpar, mas sei também que sob a protecção da Providência, apoiados nas virtudes de uma doutrina, guiados pela luz de um génio político, conseguimos transpor ou vencer escolhos e dificuldades onde outros soçobraram e, entretanto, prosseguir a marcha do Renascimento.
Poderá dizer-se que apenas vim aqui trazer dúvidas e que no fim venho pedir confiança.
Mas no momento em que se abrem ao País tão largos horizontes no campo industrial eu também creio, e creio firmemente, nas possibilidades económicas, sociais e morais que a agricultura ainda nos oferece. Investimos toda a nossa capacidade de pensamento e da acção na obra que temos a realizar, semeemos confiança, pois não tenho dúvidas de que a terra e os homens responderão à chamada. Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Belchior da Costa:- Sr. Presidente e Srs. Deputados: descansem VV. Ex.ªs, que eu procurarei não me alongar e farei todos os esforços para os não maçar.
Neste debate que se estabeleceu à volta dos problemas do pão e do trigo em determinado momento a minha natural inclinação, filha da terra de onde venho, sentiu-se solicitada, inelutàvelmente, para vir trazer ao conjunto deste debate não mais que uma impressão, apenas um depoimento - um breve apontamento -, visto me minguarem, como é evidente, todos os atributos que me pudessem apresentar com qualquer qualificação especial.
Mas, pelo adiantado da hora a que venho falar, quase me arrependo de o ter feito e lembro-me, Sr. Presidente, de uma história que me contaram quando fiz um curso de oficiais milicianos acerca de matéria e táctica de guerra, que me ensinava que quando um general lança uma ofensiva é preferível romper com ela - a despeito de prévio inêxito assegurado- do que desfazê-la ou voltar ao primeiro pé.
E o que acontece comigo; já que organizei a ofensiva, vou lançá-la, ainda que sob pena de assegurado inêxito.
Não quero, por isso, deixar de trazer ao conjunto deste debate o meu próprio depoimento, que, quando muito, será um reflexo do pensar e sobretudo do sentir daqueles que na província vivem e sentem tanto como nós outros um problema que interessa à economia geral da Nação.
Está inteiramente explanado o assunto; minguam-me quaisquer recursos especializados para trazer ao debate qualquer contributo essencial; mas a verdade é que, mercê do ofício a que me tenho destinado, e agora essencialmente mercê da minha posição de Deputado, a lavoura do meu distrito e a lavoura do meu concelho muitas vezes trazem até mim os seus pesares, as suas reclamações e as suas ânsias.
Eu serei, portanto, quando muito, um reflexo dessas aspirações, por vezes tão insistentemente apresentadas.
Em tempos, quando em representação do meu concelho fiz parte do conselho da província do Douro Litoral, pertenci a uma comissão, que então se formou, de inquérito à lavoura. Isto foi em 1938.
Esse inquérito não se fez tanto em largo nem tanto em fundo que chegasse a conclusões isentas de discussão. Mas, em todo o caso, chegou a estas, que me parece que ainda infelizmente se verificam em relação a regiões sobre que o inquérito incidiu - província do Douro Litoral -, e que são as seguintes:
1.º A agricultura da província do Douro Litoral enferma de alguns males graves;
2.º Torna-se urgente a publicação de medidas que possam embaraçar ou impedir o abandono da terra.
Nesse inquérito, presidido pelo Dr. Augusto Pires de Lima, e em que representei o concelho da Feira, chegou-se a essas aflitivas conclusões.
Estava então a lavoura do Norte sofrendo o resultado de dois males, igualmente graves: a emigração e o urbanismo.

O Sr. Querubim Guimarães:- Quanto ao mal da emigração parece-me que ele está sanado actualmente.