O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

278 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 132

forma de aumentar a espessura das terras delgadas, formam os grandes pilares da progressiva rotina alentejana...
Se compararmos ainda as médias da produção alentejana com aquelas que se verificam em ambientes semelhantes do Norte da África (Tunísia, Algéria, Líbia e Marrocos), cerca do dobro da produção desses países tornará ainda mais favorável a nossa posição. O céu azul e límpido do Mediterrâneo tem, como vemos, também os seus inconvenientes...

O Sr. Rui de Andrade: - V. Exª. dá-me licença?
A Grécia, a Ásia Menor, a Itália e o Norte da África têm terrenos terciários, calcáreos e argilosos e o nosso Alentejo é constituído por pedras de granito e de xisto, dunas e aluviões do mar.

O Orador: - Agradeço a V. Ex.ª a sua explicação; ela vem reforçar as minhas afirmações.
E este, nas suas linhas gerais, o aspecto que apresenta a cultura cerealífera europeia.
E o que se passa nos países novos da América e da Oceânia, Austrália, Argentina, Estados Unidos e Canadá, países considerados eminentemente progressivos sob o ponto de vista agrário? Em todas estas nações domina a cultura extensiva. Nelas a terra abunda e o homem rareia, sendo necessário levar ao máximo a mecanização da cultura.
Autocharruas, distribuidores de adubos, semeadores, sachadores, ceifeiras-debulhadoras e outras máquinas trabalham em pleno rendimento. Domina aí a monocultura cerealífera, assistindo-se já como resultado deste regime esgotante à esterilização de muitas terras.
Outro erro que se comete com frequência em relação à apreciação do valor do cultivo dos cereais nas planuras alentejanas é supor-se que nos países novos da América se conseguem produções unitárias muito mais elevadas que no nosso Alentejo.
Contudo, as médias de 7 a 9 quintais desses países não nos deixam com certeza qualquer dúvida sobre a falta de fundamento das críticas derrotistas dos nossos velhos do Restelo das coisas agrárias.
Nos países novos que se aproximam da fase da adolescência agrária, como os Estados Unidos, começam já a sentir-se os efeitos perniciosos da monocultura dos cereais. E apelam então para a única forma de combater o mal - o descanso das terras, que não é mais do que o tão discutido pousio alentejano.
E agradável dizê-lo neste momento que quando passou pelo nosso País um distinto técnico agrário europeu, chamado pelo então Subsecretário de Estado da Agricultura americano, H. Wallace, para estudar as causas da esterilidade de alguns solos americanos, afirmou, ao visitar o celeiro português, que ele bem representava a paisagem ideal dum moderno país agrícola. Os grandes lavradores do nosso Alentejo não tinham sido felizmente levados pelo canto das sereias para esse maravilhoso paraíso das utopias agrárias.
Fixemos agora a nossa atenção sobre o território português, e, ao fazê-lo, fácil é divisar no seu todo um mundo de climas e de situações. Querer comparar, por exemplo, a zona árida do sul do Tejo com o mimo e o viço do Noroeste é o mesmo que pôr em paralelo Marrocos com a verdejante Dinamarca...
O notável cientista português Barros Gomes caracterizava o clima nacional pela distribuição de árvores- seculares, algumas das quais teriam assistido aos alvores da nacionalidade. Foram os carvalhos e os pinheiros as espécies escolhidas para definição dos ambientes climáticos.
Ao sul do Tejo dominam, como afirmara, os sobreiros e as azinheiras. As azinheiras na zona mais influenciada pela continentalidade e o sobreiro na região bafejada pelas aragens do Mediterrâneo.
É a zona do latifúndio; é o grande celeiro português.
Os reformadores das coisas agrárias quereriam ver, com certeza, nos seus sonhos um Alentejo transformado nessa miríade de minúsculas propriedades do nosso litoral ao norte do Vouga.
O clima, contudo, não se compadece com estas utopias de visionários.
Teremos de ter sempre no Alentejo a propriedade do tipo latifundiário, excepto onde a hidráulica agrícola venha a permitir que se realize aquela simbiose tão necessária entre o regadio e o sequeiro.
Este aspecto do problema não foi esquecido pelo Estado Novo, e assim é que dentro de breves anos anais alguns milhares de hectares de território alentejano poderão contribuir largamente para a produção de cereais, produtos hortícolas e carne.
O nosso ilustre colega Sr. Rui de Andrade deu-nos no seu interessante discurso ideia clara sobre as possibilidades agrícolas dos territórios do Sul. Não vou repetir essas considerações, que estão ainda, com certeza, no espírito de todos.
Mas há um aspecto que desejo realçar: quero-me referir à reserva de terra que aguarda oportunidade para o seu integral aproveitamento. São cerca de 600:000 hectares de areais depositados no pliocénico, entre o Tejo, Vendas Novas e Aljezur, mancha de terras leves que a pequena profundidade tem a valorizá-la fértil toalha de água subterrânea. Dentro de poucas décadas o aproveitamento destas terras deverá permitir que se verifique a resolução definitiva do difícil problema do abastecimento da capital do Império.
O posto de cultura de sequeiro localizado em Pegões, em pleno coração dessa zona, deu-nos nestes últimos unos uma indicação excepcionalmente valiosa sobre as possibilidades agrícolas desta mancha agrológica. A média de produção de cereais não caiu abaixo dos 10 quintais e a produção de gado passou do número-índice 100 para 350.
A acrescentar a estes resultados animadores convém mencionar que tudo isto se passou durante um período de estiagens prolongadas.
Continuemos a analisar as características mesológicas das várias regiões do território português.
No Noroeste e na Beira Litoral domina o carvalho de folhas amplas, exprimindo riqueza, que a pujança dos milharais e das pastagens, bem como o viço das videiras de enforcado, engrinaldando arvoredos, bem define.
E neste pequeno território onde se alberga uma grande parte da população portuguesa.
Mas a elevada densidade demográfica do Noroeste e Beira Litoral deve constituir motivo de orgulho. Ela exprime o nível progressivo atingido pela agricultura nortenha, capaz de alimentar, sem recursos industriais comparáveis aos duma Bélgica ou aos duma Dinamarca, uma população rural muito mais densa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Caminhando para o interior do País encontramos um Portugal que os climatologistas denominam «continental», mas a que eu chamarei Portugal «infernal». E o Portugal das gentes rudes e sofredoras, capazes de vencer os maiores obstáculos dos elementos. E nesta zona montanhosa e agreste onde se cultiva o rústico centeio e onde as florestas dão também pão - fruto de frondosos castanheiros.
E a região eleita do carvalho negral.
E neste Portugal continental que está encastoada uma das jóias mais preciosas do território pátrio: o vale