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30 DE ABRIL DE 1973

da política ultramarina (revisão constitucional e Lei Orgânica do Ultramar), do acordo com o Mercado Comum. Lembre-se, também, como as recentes re- núncias de Sá Carneiro e Miller Guerra provocaram a autonomização e o distanciamento das forças reaccionárias.

Note-se ainda que os ataques de parte da imprensa de esquerda ou de extrema direita, clandestina ou não, ao grupo chamado liberal foram igualmente úteis ao Governo, na medida em que lhe permitiram acentuar o isolamento desse grupo do contexto clás- sico das oposições e, assim, continuar a dividir para reinar. Também no plano externo, a ala parlamentar apo-

dada de liberal serviu — e, sem dúvida, serve ainda — para projectar no estrangeiro uma intenção gover- namental de aproximação do modelo democrático europeu ocidental,

O Sr. Serras Pereira: — Isso é que foi uma honra!

O Orador: — A nossa simples existência, o facto de nunca termos sido perseguidos, no campo pessoal ou profissional, pelas nossas actividades políticas (o que, diga-se de passagem, é, pelo menos no meu caso, absolutamente verdade), a possibilidade de, com regularidade, discordarmos das teses do Governo, de- monstrariam (demonstrarão?) ao Mundo uma inci- piente, mas, na maior parte dos países, bem-vinda, evolução da situação política portuguesa.

Em algumas viagens que durante estes quatro anos fiz. como Deputado, por designação de V. Ex.º, Sr. Presidente, ou por convite directo de Governos estrangeiros, tive ocasião de verificar que assim era — e, segundo creio, ainda é: ao nível oficial, sindical, cultural, jornalístico, económico, pessoal, persiste em vários países a convicção de que Portugal saiu do monolitismo salazarista e se aproxima das democra- cias ocidentais, permitindo que cada cidadão pense como queira e actue de acordo com o seu pensamento, concedendo à partida a cada pessoa uma igualdade de oportunidades na realização do seu futuro. Na formação e manutenção de tal convicção, a ala dita liberal desempenhou —e continua, embora muito teoricamente, a desempenhar — um papel importante.

Abrimos portas fechadas há anos, facilitâmos diálo-

gos até aí considerados de difícil concretização, con-

seguimos contactos rotulados de irrealizáveis. Tem aqui pleno cabimento uma pergunta: o facto

de o balanço de actividades da chamada «ala liberal»

ser positivo para o Governo não implicará que seja

negativo em relação aos próprios Deputados «libe-

rais»? Com efeito, se o grupo dito liberal tiver sido

um mero joguete de certas finalidades governamen-

tais, é duvidoso que os seus membros possam enten-

der que cumpriram a sua missão parlamentar.

O Sr. Cunha Araújo: — V. Ex.* dá-me licença?

O Orador: — Por mim, com certeza. Simplesmente

a minha intervenção é grande e o Sr. Presidente pe-

diu-nos para sermos breves. Por mim, sabe que eu

nunca nego licença para que me interrompam.

O assunto é tão aliciante! O Sr. Cunha Araújo:

O Orador: — Com certeza. Muito obrigado!

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O Sr. Cunha Araújo: —V. Ex.: não tem culpa,

nem eu. Era só para ver se V. Ex. me podia dizer a sua opinião acerca da opinião, segundo li nos jor- nais, da Comissão de Unidade Democrática do Porto no sentido de não considerar a chamada «ala liberal» representante das forças oposicionistas.

O Orador: — Eu há pouco, se me permite recordar o meu pensamento expresso atrás no meu discurso, disse claramente que os ataques de parte da imprensa (e na imprensa podem-se incluir outras entidades) de esquerda ou de extrema direita, clandestina ou não, ao grupo chamado liberal foram igualmente úteis ao Governo, na medida em que lhe permitiram acentuar o isolamento desse grupo do contexto clás- sico das oposições.

Parece-me que fui claro.

O Sr. Cunha Araújo: — Muito obrigado!

O Orador: —- Por amor de Deus! Pela parte que me toca, não penso assim. Quando

aceitei ser candidato na lista da União Nacional (da qual nunca fui sócio, como não sou da Acção Nacional Popular, sua sucessora), pus um certo nú- mero de condições que, pelo meu lado, respeitei. Durante a campanha eleitoral, fui muito claro sobre o que pretendia fazer na Assembleia Nacional, caso fosse eleito; falei, por exemplo, de liberdade de in- formação e dos partidos políticos e, num caso direc- tamente, no outro indirectamente, não deixei, du- rante estes quatro anos, de pugnar por esses dois aspectos, que continuo-a reputar essenciais para a normalização da vida política portuguesa,

No decorrer da legislatura, arrostando com muitas incompreensões, mas gozando de suficiente autono- mia, expus o que pensava sobre as questões funda- mentais do País e tive ocasião de abordar os pro- blemas do círculo que me elegeu, o da Guarda, tanto aqui como nas vilas e aldeias do distrito.

Mantive, portanto, a minha coerência e não atrai- çoei os princípios de colaboração não servil, de ami- zade não cegamente obediente, que me nortearam, quando aceitei ser candidato a Deputado. Não me senti, nem me sinto, joguete de ninguém.

As desilusões, os desencantamentos com os homens e os seus actos são outro aspecto da questão, que prefiro guardar para mim, porque só a mim dizem respeito. Será preferível falar dos resultados, e estes, se apenas se atender ao que de concreto e palpável a ala dita liberal conseguiu, foram nulos ou quase.

No plano regional, pouco ou nada se progrediu. A zona interior, da qual a Guarda faz parte, con- tinua a ser a menos desenvolvida, a mais pobre, a mais vulnerável à emigração. O que na região se fez nos últimos quatro anos não estancou a diminuição da população, não foi bastante para aumentar a ri- queza, nem para cumprir as promessas programáti-

cas da Lei de Meios. ; Os Deputados —e aqui não se trata apenas da

chamada «ala liberal) — protestaram, denunciaram, apontaram caminhos. A sua voz, no entanto, como ainda há pouco tempo assinalava o nosso colega Almi- rante Roboredo e Silva, não foi ouvida e raramente foi consultada. .