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No plano das grandes questões nacionais, tão-pouco as solicitações principais da ala baptizada de liberal foram satisfeitas.

Dos projectos de lei «chumbados» aprioristicamente nas Comissões às ratificações de decretos-leis obtidas sem grande custo pela maioria, passando pelas derro- tas em inúmeras discussões na especialidade, pela desaprovação expressa ou tácita em tantas interven- ções antes ou durante a ordem do dia, pela impos- sibilidade de negociar fosse o que fosse, pelas igno- radas afrontas recebidas em algumas Comissões, é

muito fraco o panorama do que podemos apresentar em termos práticos. Quase nada arrecadámos, quase

nada deixámos de nosso em termos de legislação apli- cável ou de decisões tomadas por nossa influência directa.

Vozes: — Não apoiado!

Vozes: — Deixaram muito!

O Sr. Roboredo e Silva:

tucional.

“Até na revisão consti-

O Orador: — Muito obrigado. Nem sempre, no en- tanto, o que se fez se deve medir segundo o que de imediato e prático provoca. Nalguns casos, os efeitos sobre aquilo a que o Prof. Marcelo Caetano chamou «as correntes profundas da opinião pública» são in- dependentes das actuações no dia a dia, tardam a concretizar-se, mas não deixam, por isso, de influir nos destinos de um povo.

Veja-se que, mesmo no decorrer da presente legis- latura, vários temas abordados por Deputados da cha- mada «ala liberal» foram retomados pelo Governo ou por outros Deputados. Estão neste caso aspectos fun- damentais ligados à educação, ao fomento industrial,

às despesas militares, ao cooperativismo, à Europa, ao ordenamento do território, à livre criação de títu- los jornalísticos, à organização judiciária, etc.

Entramos, assim, Sr. Presidente, no terceiro e mais relevante prisma sob o qual gostaria de analisar a actividade, dentro e fora desta Casa, da ala dita liberal: o das suas vantagens ou desvantagens para O País. É este, na verdade, o aspecto que conta, pois nem o Governo nem os Deputados apelidados de li- berais são o País. : Também sob este terceiro prisma penso não ser

errado afirmar que o saldo final é positivo. Num país onde os benefícios do associativismo político con-

tinuam a não ser extensíveis-a todos, fomos, quase

sem darmos por isso, erigidos em minoria parlamen-

tar. Um pequeno grupo de Deputados, dez, quinze

— não fixo números nem cito nomes, por receio de

ser indelicado para alguns ou injusto para outros —,

conseguiu ser porta-voz dos anseios e reivindicações

de muitas centenas 'de milhares de portugueses.

Quase sem organização, vivendo, na maior parte das ocasiões, de um condenável espírito de improvi- sação, lográmos trazer à discussão pública diversos

problemas que estavam há anos propositada ou des-

leixadamente enterrados ou disfarçados, dos direitos

e liberdades individuais ao cooperativismo, da organi-

zação judiciária à integração europeia, da reforma do

ensino ao ordenamento do território.

DIARIO DAS SESSÕES N.º 258

Em grande parte devido ao nosso esforço — repito que esta interpretação é inteiramente pessoal — ...

O Sr. Serras Pereira: — Inteiramente pessoal!

O Orador: — Nós aqui falamos sempre em nome individual, não é verdade, Sr. Deputado Serras Pe- reira? ;

-.. politizou-se uma camada importante da popu- lação portuguesa. Pessoas, quase todas colocadas em lugares estratégicos, que até aqui não se interessa- vam pela política passaram a ter de optar por um ou outro ponto de vista, a ter de tomar posição. Cidadãos influentes, regra geral não extremistas, que até aqui não se sentiam envolvidos pelo que se pas- sava nos órgãos de soberania do seu país, viram-se forçados a participar, a apoir ou rejeitar, a aplaudir ou criticar. Mulheres e homens, novos e velhos, con- cluíram que não era mais tempo de se colocarem ao lado do que se passava, que o alheamento ou a indi- ferença só conduziam à concentração do Poder nas mãos de uns poucos, que o direito de admissão não podia continuar reservado.

Surgiu, assim, o escândalo inaceitável de uma nova força política, não enquadrável no eterno esquema Situação-Oposição. O mérito do seu aparecimento não pertence, como é óbvio, totalmente à chamada ala liberal, mas entre as duas há, sem dúvida, uma intensa relação de causa e efeito. São os relatos das sessões lidas no Diário das Sessões ou em alguns ór- gãos da imprensa que os reproduziram com fidelidade que levam os cidadãos anónimos a tomar. consciência de que acabou a época da sua não intervenção. São as cartas, os convites para colóquios, conferências e reuniões, as visitas individuais, o público a encher (ou não) as galerias desta Câmara, os actos de permanente encorajamento, os resultados das sondagens à opinião pública que levam os Deputados ditos liberais a pros- seguir na sua cruzada, a reforçar as suas certezas, a sentirem-se acompanhados nos momentos mais di- fíceis.

Esta terceira força tende a crescer, a assentar e terá, por via parlamentar ou por outra via, a sua palavra a dizer nos anos que se seguem.

O Sr. Pinto Castelo Branco: — V. Ex. dá-me li- cença?

O Orador: — Com certeza. Por mim, desde que haja tempo ... :

O Sr. Pinto Castelo Branco: — Uma vez que temos hoje o gosto — já o não tínhamos há muito — de o ter aqui entre nós, e aproveito também para lamen- tar que esta intervenção seja tão tardia, no sentido de não dar tempo, como é óbvio, para podermos continuar o diálogo, a não ser fora daqui, eu pedia licença para o interromper para lhe perguntar o que é que V. Ex.º quer significar com a expressão «por uma via ou por outra», quando se referiu à aplica- ção de reformas ou à modificação da situação actual.

O Orador: — É muito fácil responder. Quer dizer: ou pela via parlamentar ou por outras

vias — por exemplo, pessoas desta terceira força com presença no Governo, em instituições com interfe-