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exemplo, «os conservadores», «os liberais», «as forças reaccionárias» ... Sabe porquê? Porque tem um per- fume rousscauniano, parece que têm um século, pelo menos. E em relação à sua juventude e à sua moder- nidade esta terminologia choca-me profundamente. Desculpe-me, Sr. Deputado.

O Sr. Camilo de Mendonça:

piada!

Boa piada! Boa

O Orader:

vista.

Com certeza, aceito o seu ponto de

O Sr. Pontífice Sousa: — V. Ex. dá-me licença?

O Orador:

Sr. Presidente.

Por mim! O problema é com o

O Sr. Pontífice Sousa: — Sr. Presidente, eu pediria a V. Ex.? para considerar ...

O Sr. Presidente: — Tenho a maior das penas, Sr. Deputado. Peço ao Sr. Deputado Pinto Balsemão o favor de continuar com o seu discurso, VV. Ex.ºs sa-

bem quais são as condições, puramente programáticas de trabalho da Assembleia, que me impõem a neces- sidade de pedir aos Srs. Deputados que não interrom- pam o Sr. Deputado Pinto Balsemão, a fim de que ele possa ir até ao fim do seu discurso sem mais demoras.

O Orador: — Eu só queria dizer ao Sr. Deputado Agostinho Cardoso que desde há meio século que se não dão nomes às coisas e por isso há tantas situa- ções confusas.

Quem tem medo em Portugal dos partidos políticos? E porquê?

Por mim, não penso que sejam a solução para todos os males. Mas creio que sem uma lei que os crie, evi- tando a pulverização, nunca viremos a ter uma vida política normal...

O Sr. Pinto Castelo Branco: — Não apoiado!

O Orador: —... ou seja, uma vida política que não se limite a permitir que todas as correntes apenas se manifestem um mês de quatro em quatro anos. E só com uma vida política normal os grandes pro- blemas nacionais — do ultramar à educação, da eco- nomia à saúde, da previdência às obras públicas, da defesa aos negócios estrangeiros — poderão ser resol- vidos com a intervenção consciente de todos, e não apenas de alguns «iluminados», beneficiando a grande maioria dos portugueses, e não unicamente os que há anos gozam em exclusivo dos dividendos, para usar uma linguagem capitalista, de uma sociedade de que todos somos accionistas.

O que acabo de dizer, Sr. Presidente, não pretende repetir supostos lugares-comuns, nem advogar teses obscuras de diletantismo, nem justificar atrasos de consciência de pessoa bem instalada na vida que se pode dar ao luxo de de vez em quando pensar nos outros.

O que desejo deixar bem claro é que os meus qua- tro anos como deputado não me identificam com um sistema no qual não acredito. É

DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 258

Não posso aceitar que algumas pessoas tenham o direito de dizer que é (ou não é) assim, que definam e circunscrevam a nossa vida e o nosso futuro, que tenhamos de obedecer às suas ordens e acatar sem discussão as suas opiniões, só porque ocupam deter- minados lugares.

Não posso aceitar que o Governo, porventura pres- sionado ou mal informado por um grupo crescente de burocratas pseudo-amigos e incapazes, não tenha uma política bem esclarecida sobre os principais problemas da Nação e, uma vez ela estabelecida, não autorize, não deseje, a sua livre divulgação e o seu debate por todos os cidadãos. É impossível estar-se de acordo quando se ignoram os objectivos a atingir e se assiste quotidianamente ao espectáculo da indecisão, da proi- bição e do abrir à direita.

Estará a massa tão impreparada como alguns afir- mam? Ou terão as élites que chegaram ao Poder medo do confronto? Será um país como o actual, influen- ciado pela propaganda da televisão, enfraquecido: pela emigração, económica, cultural e sanitariamente nos últimos lugares das estatísticas europeias, que inte- ressa? E, na hipótese, muito improvável, de interes- sar, a quem interessa? As massas, ao povo? Ou às élites, a certas élites, que temem as mudanças, lutam contra a evolução, anseiam pela manutenção do statu quo?

É esse o problema fundamental da sociedade por- tuguesa: poderemos e quereremos continuar a ser comandados por um grupo restrito de indivíduos, de- masiado susceptíveis à crítica, demasiado invulnerá-' veis mercê dos seus vários recursos, demasiado egois- tas (ou ineficientes) para abdicarem dos seus privilé- gios, ou necessitaremos e preferiremos alargar as ba- ses de decisão, chamar todos os grupos já existentes e não intervenientes, formar a massa de modo que: ela deixe de ser amorfa e subserviente?

O Sr. Henrique Tenreiro: — Para isso, vamos para | o Congresso de Aveiro.

O Sr. Pinto Castelo Branco: — Não apoiado!

O Orador: — Por mim, opto, sem reservas, pelo segundo termo da alternativa. Não concebo Portugal a permanecer no saudosismo doentio, no sebastianismo frustrado, na tradição das classes dominantes

O Sr. Serras Pereira: — Como V. Ex.2?

O Orador: «-» (que O são só por tradição), no formalismo dos «V. Ex.*», no ritual das «cunhas» e das influências, nos usos e abusos do autoritarismo nas fraquezas do paternalismo.

Acredito, quero, lutarei, sim, por Portugal a liber- tar-se das sujeições seculares, das inibições causadas por quem delas beneficia, dos atentados diários contra a essência da pessoa humana. Portugal em movimento olhos postos na Europa, riqueza distribuída por todos os que a gerem, educação concedendo oportunidades iguais a quem nasça num berço dourado ou na casa mais humilde da aldeia mais atrasada, civismo real resultante de uma vida política e comunitária sã e activa. Portugal a projectar-se em África pela irra- diação do seu prestígio e do seu poder económico e cultural (e político). -

Vozes: — Muito bem!