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3182 I SÉRIE - NÚMERO 84

car essas coisas por outros meios: no terreno da luta política e não tanto na barganha jurídica, jurisdicista, fixista que aqui nos exibiu.
«A questão é a Constituição.» Ó Sr. Deputado Lucas Pires, a Constituição impede ou é a causa da censura na RTP? A Constituição é a causa dos almoços dos industriais de Vale de Cambra com o Sr. Primeiro-Ministro? A Constituição é a causa terrível da presença do Sr. Reagan aqui nas condições que V. Ex." aplaudiu? Por amor de Deus, a Constituição não é causa de nenhuma dessas coisas!

Risos do PCP e do PS.

Compreendemos, no entanto, que tenha feito o que fez: subiu à tribuna, agitou os véus de Salomé e apresentou ao PS o prato de lentilhas habitual, sempre o mesmo.
O PS diz, como tem vindo a dizer ultimamente - não sabemos durante quanto tempo se manterá nessa posição: «Não, tais lentilhas nós não queremos...

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Por enquanto!...

O Orador: - ... por enquanto, por essa quantidade ou por esse preço. Venham cá outra vez.» Isto como quem despede o caixeiro viajante que traz uns livros e diz: «Olha, hoje não, passas cá depois!»

Risos do PCP, do PS e do MDP/CDE.

O Sr. Deputado Lucas Pires, presidente do CDS, na presente circunstância sujeita-se a esse papel, sobe à tribuna e, periodicamente, vem perguntando: «PS, queres? É hoje?» E o PS diz: «Não gostei, não quero mais. Passa cá depois.»

Risos do PCP e do PS.

O Sr. Deputado Lucas Pires insiste nesse esforço atlético, digamos que com pouco fôlego, como já se constata.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Tudo isto para quê, Srs. Deputados?
Ouvi o Sr. Deputado Lucas Pires verdadeiramente fascinado. Ele queria uma Constituição que não dominasse, que não fosse estanque, que não maximizasse controles, que fosse uma Constituição sem o maldito carácter irreversível das nacionalizações.
Eu estava a ouvi-lo e a dizer: «Mas este homem quer a Constituição de 1933» - aliás, sempre quis - «com retoques, sem corporações». Vá lá!
Mas essa Constituição tinha uma coisa maravilhosa, na óptica de V. Ex.ª: a proibição da intervenção do Estado para além de certos limites. Bela cousa! Bela cousa!

Risos do PCP.

Estava lá, numa cláusula específica, numa excelente cláusula!
Essa nova Constituição - velha, arquivelha e bolorenta - serviria, então, para desfazer as necessidades dos Portugueses, estava virada para o futuro, etc.
Sr. Deputado Lucas Pires, esse seu discurso tem um poder de convicção baixo. Percebo que se deu ao trabalho de subir à tribuna para o repetir pela circunstância desafortunada de ter um problema dramático: é que eu sei que o regresso do filho pródigo é uma coisa encantadora; o regresso do pai pródigo deve ser uma grandíssima dor de cabeça. Tome uma aspirina e deixe a Constituição em paz!

Aplausos do PCP, do MDP/CDE e da UEDS.

O Sr. Presidente: - Para responder, se o desejar fazer, tem a palavra o Sr. Deputado Lucas Pires.

O Sr. Lucas Pires (CDS): - Em primeiro lugar, o Sr. Deputado César Oliveira falou - censurando, segundo julgo - a falta de metáforas em que, desta vez, eu teria caído.
Enfim, não tenho muito para dizer sobre isso a não ser que estranho o facto de a crítica ser no sentido inverso àquela que é habitual, isto é, a de que há um excesso de metáforas da minha parte.

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Foi falta de imaginação!

O Orador: - Em segundo lugar, parece-me estranha essa crítica, na medida em que não há motivo para ser imaginativo perante uma situação que se repete e que tem somente uma coisa nova: é que é cada vez mais grave!
Embora, de facto, seja fácil divertirmo-nos um pouco sobre algum destes temas, a mim parecia-me bastante mais fácil constatar a evidência de que a situação é cada vez mais grave e que não tem havido na mudança de maiorias, de políticas, qualquer solução para essa mesma questão.
V. Ex.ª disse que eu defendia porventura uma Constituição asséptica e perguntou-me se achava que essa mesma Constituição evitaria o caminho da ditadura. Julgo que se há um caminho da ditadura ele está nesta Constituição - e digo-o sinceramente!
Esta Constituição com uma maioria de esquerda - que felizmente nunca houve em Portugal desde que está em vigor esta Constituição - levaria exactamente ao caminho da ditadura. Afirmo-o porque esta Constituição não coloca nenhum obstáculo a que a tal transição para o socialismo se complete e a que o País seja transformado, do ponto de vista económico, num campo de concentração.
Na verdade, o que ninguém percebe é que se pode facilmente passar do campo de concentração económico ao campo de concentração político.

Risos do PS, do PCP e da UEDS.

Essa é, pelo menos, a minha análise e o meu juízo sobre as coisas. E não é por acaso que não há iniciativa privada nas sociedades do Leste, como também não é por acaso que as sociedades mais democráticas do mundo são as que têm uma economia de mercado. E até alguém, sem metáforas, me ser capaz de demonstrar o contrário, o que aceitarei se for possível, pensarei assim. Portanto, como julgo que ninguém é capaz de demonstrar isso, continuarei a pensar assim.

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Mas o seu partido é do «centro democrático cristão»!...

O Orador: - Peço desculpa ao Sr. Deputado César Oliveira, mas, no fim, poderemos comentar as suas últimas observações...