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3184 I SÉRIE - NÚMERO 84

O Sr. Deputado Lopes Cardoso fez aqui um aceno de despedida que não sei se equivaleu a um voto sobre a dissolução da Assembleia e uma esperança de ser reeleito, inclusive, não sei em que termos de acordo com o Partido Socialista...

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Em qualquer caso, espero realmente que nos vejamos aqui para o ano.

O Sr. Deputado Lopes Cardoso pode ter a certeza absoluta de que, se estivermos aqui para o ano no exercício das mesmas responsabilidades que temos neste mesmo momento, terá de votar e discutir aqui uma proposta do CDS de revisão da Constituição. Talvez nessa altura tenha ocasião de, mais uma vez, nos censurar pela nossa falta de imaginação, de originalidade, porque não desistiremos. É que nós sabemos que os problemas do País não serão solúveis enquanto essa revisão não for possível.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Isso é que é ser conservador!

O Orador: - O Sr. Deputado Raul Castro falou aqui num banco que apresentava alguns milhões de contos de lucro, mas esqueceu-se talvez que existem dois bancos em Portugal que, como toda a gente sabe e também os jornais, pois estes, inclusive, até explicam, que têm de ir em socorro dos outros bancos. Há inclusivamente em prática mecanismos de compensação para essas dificuldades, há fundos incobráveis dos bancos que são em alguns casos maiores do que as suas próprias reservas, sendo isto descrito em várias inconfidências públicas trazidas nos jornais. Essa realidade é infelizmente conhecida de toda a gente.
Por outro lado, há uma questão que me coloca em relação à qual julgo que V. Ex. tem alguma razão. Isto é, V. Ex.ª questiona como é que o sector privado tem tanto interesse no sector público se ele está tão mau. A verdade é que, neste aspecto, partilho a sua dúvida. Acho que o sector privado não tem tanto interesse no sector público como isso. Talvez até fosse, nesse tal plano das desnacionalizações, necessário fazer alguma coisa que estimulasse o interesse do sector privado. Agora, devo dizer-lhe que pela, minha parte não vejo nenhum mal no interesse do sector privado. Não há nenhum mal no dinheiro! Não há nenhum mal no lucro! Não há nenhum mal no interesse do sector privado! Não temos nenhum preconceito a esse respeito. O lucro não é pecado, mesmo para um partido democrata-cristão, nem sequer um pecado venial, muito menos «capital». É perfeitamente legítimo! É este tipo de mentalidade que queremos introduzir em Portugal e não temos nenhuma vergonha, nenhum problema em dizê-lo, sendo certo que quase nenhum de nós, e muito menos eu próprio, alguma vez viveu dessa forma de remuneração que se chama lucro.

O Sr. César Oliveira (UEDS): - E então os pecados capitais?!

O Orador: - Mas, apesar disso, não temos nenhum problema, complexo, ressentimento e achamos que só por essa via, por essa lógica conseguiremos fazer do nosso país aquilo que queremos. Aliás, quando o Partido Socialista fala de liberalização uma coisa que tive algumas vezes ocasião de lhes dizer foi que há uma diferença: acontece que nós podemos dizer que «viva o lucro» e o PS, por muita liberalização que pregue, não pode dizer tal. E nós podemos dizer claramente: «viva o lucro»!

O Sr. César Oliveira (UEDS): - O slogan do CDS para as próximas eleições legislativas poderia ser: «Vote no CDS! Viva o lucro!»

O Orador: - O Sr. Deputado Marcelo Curto começou por dizer que a minha intervenção estava afectada de um preconceito ideológico. Não, Sr. Deputado! Nenhum ... O preconceito ideológico está na Constituição que se diz socialista e a opção é esta, em Portugal: entre aqueles que acham que a democracia plena está no socialismo ou aqueles que, como eu, acham que tal está apenas em dar ao socialismo um lugar exactamente igual àquele que têm as outras ideologias. E no fundo é esta a questão! Na verdade, o que o partido socialista produziu foi a pior de todas as expropriações, ou seja, a expropriação do documento que é a base da vida colectiva: a Constituição.

Aplausos do CDS.

O que queremos em Portugal, Sr. Deputado Marcelo Curto, é acabar com a expropriação e o confisco da base moral da comunidade em que vivemos. Enquanto a Constituição for socialista teremos um privilégio dessa bancada,- desse partido, do conjunto das forças de esquerda em Portugal que combatem contra nós. É um combate desigual porque é o combate do privilégio constitucional.

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Tem-se visto!...

O Orador: - Sr. Deputado Marcelo Curto, há mais algumas questões que me colocou, como seja, a do desemprego, por exemplo. Perguntou-me se quero um «modelo à Sr.ª Thatcher». Realmente, não quero um modelo à moda da Sr.ª Thatcher e devo dizer que nos bastaria uma liberalização semelhante àquela que existe na maioria dos países europeus. Agora, o drama em Portugal é este: temos um modelo que não é o da Sr.ª Thatcher mas que produz os mesmos inconvenientes que o da Sr.ª Thatcher. Quer dizer: não temos as vantagens e temos os inconvenientes da política da Sr.ª Thatcher. A nossa política não produz o suficiente para pagar aos desempregados os subsídios que lhes são devidos, mas produz o mesmo número de desempregados. Não é por acaso que, em fins de 1984, a percentagem de desempregados em Portugal era de 13,4%, segundo as estatísticas oficiais, e há 10 anos era de 2%. É esta a questão!

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Isso tem a ver com a Constituição! O CDS «virou» gonçalvista!

O Orador: - É que o argumento do desemprego contra as políticas liberais não existe, porque quem produz desemprego em Portugal são as políticas socialistas.
Chegámos em Portugal a um absurdo completamente insuportável que é este: temos um país em que é proi-