I SÉRIE — NÚMERO 36
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Rodrigues, quem ouvisse a sua
declaração política, proferida da tribuna, havia de pensar que o Sr. Deputado é apenas um mero espetador da
vida política nacional e que não tem parte ativa nem na situação em que o País se encontra hoje, nem naquilo
que se adivinha para o futuro, que, infelizmente, não é muito bom.
Protestos do PSD.
Sr. Deputado, queria lembrá-lo, porque pensei que estava esquecido disso, que o senhor, a sua bancada e
o seu partido têm responsabilidade na situação de desgraça nacional que hoje estamos a enfrentar. Têm
responsabilidade, não só por aquilo que têm feito enquanto estão no Governo, mas também por aquilo que
faziam antes de estarem no Governo.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Os senhores iniciaram esta Legislatura dizendo que não queriam fazer
ajustes de contas com o passado, que o que estava para trás era passado e que só queriam discutir o futuro.
Mas, Sr. Deputado, é preciso alguma memória histórica, sobretudo para que se peçam responsabilidades a
quem é responsável pela situação em que o País hoje se encontra. E, se é verdade que o Partido Socialista
governou nos seis anos anteriores aos senhores terem chegado ao poder, também é verdade que os senhores
são os responsáveis por uma boa parte da situação em que hoje o País está, também por medidas que foram
tomadas naquela altura.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Isto porque o PSD aprovou os Orçamentos do Estado do Partido Socialista
para 2010 e para 2011, quando o PS já não tinha maioria absoluta e quando, nesta Assembleia da República,
podia ter sido apontado outro caminho para o futuro do País. Os senhores foram coniventes com aqueles dois
Orçamentos do Estado do Partido Socialista. Tal como foram coniventes com a aplicação de três PEC
aprovados pelo Governo PS/Sócrates e que os senhores subscreveram — aliás, também subscritos, Sr.
Deputado António Rodrigues, pelo atual Primeiro-Ministro e líder do seu partido.
Queria dizer-lhe outra coisa: o Sr. Deputado disse, da tribuna, que é preciso que Portugal se compare com
os melhores. Os senhores têm, uma vez mais, em cima da mesa uma proposta de redução do valor das
indemnizações por despedimento. Pergunto-lhe: já pensaram em comparar-se com os melhores da Europa em
relação aos salários? Já pensaram em fazer a comparação entre Portugal e os países que pagam salários
mais elevados? Ou apenas pretendem comparar-se para reduzir o valor das indemnizações? Já pensaram em
comparar-se com os países da União Europeia que mais investem em saúde, em educação ou em cultura? Já
pensaram em comparar-se com os países da União Europeia que mais garantem investimento público? Essas
comparações com os melhores da Europa os senhores nunca estão dispostos a fazer.
Sr. Deputado António Rodrigues, quero colocar-lhe mais duas questões. Os senhores sentem mesmo que
têm legitimidade para continuar a governar? Os senhores, que se apresentaram a eleições dizendo que os
cortes nos subsídios de férias e de Natal eram uma invenção de campanha eleitoral, sentem que têm
legitimidade para governar, quando essa foi a primeira medida que tomaram?
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Termino já, Sr.ª Presidente.
Os senhores sentem que têm legitimidade para continuar a executar um Programa do Governo que não
legitimaram no sufrágio eleitoral? Os senhores sentem que têm legitimidade para continuar a afundar o País?!
Por último, coloco-lhe uma questão que tem a ver com o seguinte: os senhores apresentaram-se a eleições
com a promessa de retirarem Portugal do fundo do poço do endividamento em que tinha sido colocado. Um
ano e meio depois, estamos mais afundados nesse poço do endividamento e sem perspetivas de lá sairmos.
Sr. Deputado António Rodrigues, como é que os senhores conseguem fazer intervenções como aquela que