25 DE OUTUBRO DE 2013
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responsabilidade de governar, também é preciso ter capacidade para atrair investimento e para dar sentido a
esse investimento, porque só isso pode melhorar a nossa situação económica.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João
Galamba.
O Sr. João Galamba (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Esta é uma
reforma inoportuna neste momento. É um pouco difícil de entender como é que um Governo que esmaga a
procura interna e que corta salários e pensões, começando em 419 €, avança com uma reforma desta
natureza, a qual tem, à cabeça, uma redução que beneficia, sobretudo, as grandes empresas.
O Sr. Deputado João Pinho de Almeida disse aqui que a procura não se decreta. Bem, os senhores
decretaram destruição da procura. E não é a oposição, não é o Partido Socialista que fala da procura, são os
empresários. São os empresários que, desde 2009, dizem uma coisa muito simples: o principal impedimento
ao investimento e à criação de emprego é a procura, e não é a procura por uma pequena margem, é a procura
por uma larguíssima margem de 70%. Mas isto não acontece só em Portugal! A Europa tem uma crise de
investimento neste momento, e a principal razão é a queda da procura.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — A queda da procura é uma consequência!
O Sr. João Galamba (PS): — Se olharmos, por exemplo, para países como Malta, Holanda e, já agora,
Irlanda, de que os Srs. Membros do Governo tanto falam, podemos ver o que está a acontecer ao
investimento: estes três países têm taxas de impostos baixas, mas o investimento cai. Em França, por
exemplo, esse País que está esmagado com impostos, na última década houve mais investimento do que em
Malta, que, supostamente, tem um sistema fiscal altamente competitivo.
Um estudo recente, feito com todos os países da OCDE, entre 1970 e 2004, o que é que conclui? Conclui
que a fiscalidade não tem qualquer impacto no crescimento e no emprego; a procura é e sempre foi, aqui e em
todo o lado, a maior determinante do investimento. Aliás, a Sr.ª Ministra das Finanças não parece estar muito
preocupada com estudos ou com avaliações, porque diz que isto é uma questão de convicção,…
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — De fé!
O Sr. João Galamba (PS): — De fé, de convicção. Não há estudos, não interessa, não queremos saber de
estudos,…
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Ao que chegou o PS!
O Sr. João Galamba (PS): — … de multiplicadores que mostram, por exemplo, que o corte no consumo
público ou nos salários tem um impacto muito mais negativo no investimento e na economia do que o aumento
de impostos. Não interessa, é uma questão de fé, mas, com base na fé, este Governo vai tirar 3900 milhões
da economia portuguesa e, segundo este Orçamento do Estado, vai dar 70… — que não são realmente 70,
porque só a participation exemption, segundo a Comissão, representa 126 milhões de euros, o que é
inaceitável. Dão com uma mão, mas tiram muito mais com a outra, e o impacto só pode ser, e será,
certamente, negativo.
Basta ver o que aconteceu ao supercrédito fiscal, que foi aqui apresentado como a maravilha das
maravilhas e nada fez pelo investimento em Portugal. Aliás, a prova disso é que, neste Orçamento do Estado,
quando comparado com o Orçamento retificativo, baixam a estimativa de investimento. É estranho perceber
como é que, com o supercrédito fiscal e com esta megarreforma do IRC, as vossas próprias estimativas de
investimento baixam.
Mas esta reforma é errada, sobretudo porque parte da ideia de que investimento financeiro é investimento
empresarial. Não é! Não é investimento empresarial! Não é a mesma coisa! Já temos regimes de