25 DE OUTUBRO DE 2013
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para que se saiba o que estamos a discutir. Que serviços são estes? Que avaliação e estimativa existem na
base desta proposta quanto ao valor de financiamento decorrente desse alargamento? Que consequências
decorrem desta medida?
Por outro lado, coloca-se aqui a questão da obrigatoriedade do acesso à rede postal do serviço universal
por parte de outras empresas, isto é, de a rede dos CTT ficar ao dispor de outras empresas, se assim for
designado, com força obrigatória geral. Daí a minha segunda pergunta, Sr. Secretário de Estado: qual rede?
Do que é que estamos a falar? Estamos a falar de quantas estações de correio? Estamos a falar de que bases
de dados, inclusivamente de endereços? Estamos a falar de que serviços? De que meios? De que
equipamentos? E de que postos de trabalho?
A rede postal, tal como a conhecemos, tem vindo a ser sucessivamente desmantelada ao longo de meses
e anos. Pergunto-lhe, então: no momento em que pouco ou nada restar junto das populações num serviço de
proximidade — porque as pessoas, já hoje, em largas parcelas do território nacional têm de se deslocar
dezenas de quilómetros para ter acesso a serviços postais —, como é que se dá acesso a uma rede que não
existe? E qual é a perspetiva do Governo para que uma medida de caráter puramente instrumental de uma
política de liberalização e privatização seja apresentada às pessoas e ao País como uma boa medida e uma
boa opção estratégica?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Uma vez que o Sr. Secretário de Estado optou por responder em
conjunto aos pedidos de esclarecimento, tem agora a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Secretário de Estado, esta proposta de lei, e não
seria de esperar outra coisa, está enquadrada no processo de privatização dos CTT. Sabemos que o Governo
quer privatizar e que tem em curso a privatização e a forma como esta proposta de lei chega ao Parlamento
demonstra que ela vem tentar dar o nó conveniente ao Governo na distribuição do serviço postal, mas também
tentar responder já a algumas pressões dos privados.
Sr. Secretário de Estado, gostava de lhe perguntar o que é que significa, na prática, estes serviços
permutáveis. Porque é verdade, há uma opacidade enorme nesta lei, que faz reflexo do modelo que o
Governo pretende para o setor, reconhecidamente ideológico, em que o Estado se demite das suas
obrigações, delega no regulador e este terá o tratamento junto das empresas do setor.
Esta é a visão que o Governo tem defendido e, honra lhe seja feita neste aspeto, o Sr. Secretário de
Estado promove-a ipsis verbis na sua aplicação. Sabemos que essa visão é errada, temos essa convicção,
que dirá o Sr. Secretário de Estado ser ideológica e que direi eu, para além disso, já ter provado estar errada
em vários países, e o Sr. Secretário de Estado e o Governo sabem bem disso.
Mas na aplicação desta proposta de lei, o que são os serviços permutáveis? O que é que veremos no
terreno em concreto? Estará o Governo a pensar que os CTT, depois de privatizados, possam ser
esquartejados pelo País fora para ser dada a concessão de alguns serviços a nível local? É disto que estamos
a falar? Por exemplo, o serviço dos CTT no distrito de Bragança, na atuação da sua responsabilidade
enquanto resposta ao serviço universal, é dado uma determinada empresa, o serviço de Castelo Branco é
dado a outra empresa, aliás, pode até fazê-lo, no mesmo distrito, a empresas diferentes consoante os serviços
que estejam a prestar.
É disso que estamos a falar? São estas as possibilidades que o Governo quer implementar? É este o
modelo que tem para o correio postal em Portugal? É que, devo dizer-lhe, Sr. Secretário de Estado, é isto que
dá a entender esta proposta de lei.
Esta proposta de lei não é clara, já o sabemos, delega na ANACOM a definição de muitos dos seus
pormenores, e nesta matéria, muitas vezes, é nos pormenores que está a essência do modelo, mas, pelo que
dá a entender, não desmente aquilo que eu disse.
Peço-lhe, por isso, Sr. Secretário de Estado, alguma informação para podermos, com toda a clareza e
transparência, avaliar a verdadeira intenção do Governo.
Aplausos do BE.