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I SÉRIE — NÚMERO 36

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Depois de ter sido umas das duas empresas selecionadas para a aquisição da Caixa, a Fosun congelou o

seu interesse e não apresentou nenhuma proposta. Este desinteresse coincidiu com o momento em que a

empresa pública chinesa, dona da EDP, levantava a voz ao Governo por causa da taxa da energia. Também

curiosamente, o interesse da Fosun reapareceu, depois de uma visita relâmpago de Paulo Portas à China.

Como as coincidências são muitas e demasiadas para acreditarmos que são apenas coincidências, há

muito para esclarecer. Que garantias deu o Vice-Primeiro-Ministro a este fundo especulativo? Que promessas

fez Paulo Portas ao Governo chinês? Que garantias deu este fundo ao Governo português?

Todos estamos lembrados que o Governo justificou a venda da EDP a outra empresa chinesa, com base

em promessas de investimento, que passavam pela construção de uma fábrica de turbinas eólicas.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Exatamente!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Os investimentos, entretanto, foram cancelados, ficando claro que entre

os «charters de dinheiro que vão vir da China» e a realidade vai a longa distância da demagogia deste

Governo.

Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: A anterior líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, diz que ficou

«abanada» com a venda do setor segurador da Caixa. E não é para menos. Basta fazer contas. Só em 2012,

os seguros da Caixa deram 96 milhões de euros de lucros. Os 1000 milhões que o Governo canta como se

fossem uma grande vitória são pouco mais de 10 anos de dividendos desta empresa.

A partir de 2024, o País já vai estar a perder dinheiro com esta operação. E isto sem contar, claro, com os

dois ou três meses que vão ser necessários para a sede fiscal desta seguradora voar imediatamente para a

Holanda, e o mesmo virá certamente a acontecer com parte dos seus impostos. Assim foi com a Galp, assim

foi com a REN, assim foi com a EDP, assim foi com todas as empresas que o Estado privatizou nos últimos

anos.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Não há nenhuma razão para acreditar que, desta vez, será diferente.

Para tapar os desvios do défice causados pelas políticas da austeridade, CDS e PSD hipotecam o futuro do

País e colocam o Estado mais pobre. Os dividendos da Caixa pagam escolas, pagam hospitais e pagam

salários. São dividendos que, com a privatização, vão deixar de entrar.

Da próxima vez que virem Paulo Portas ou Pires de Lima com a voz embargada por uma falsa comoção a

defenderem mais impostos, lembrem-se dos CTT, lembrem-se da EDP, lembrem-se da REN, lembrem-se da

Caixa, que deixaram de contribuir com centenas de milhões de euros para o Estado.

O que está a acontecer com estas privatizações tem um nome: chama-se entregar o ouro ao bandido. Para

quem tanto fala na dívida como hipoteca do futuro, Sr.as

e Srs. Deputados do CDS e do PSD, hipotecar o

futuro é vender por tuta e meia algumas das melhores empresas deste País.

Aplausos do BE.

Sr.as

e Srs. Deputados, por um punhado de euros, com a venda da Caixa Seguros, o Governo abdicou do

papel regulador do Estado e de dispor de um mecanismo de correção, num mercado tão importante como o

segurador. Sabemos por que o faz: quer abrir as portas à privatização da Caixa Geral de Depósitos, a maior,

mais sólida e segura instituição financeira portuguesa.

Há uma forma simples de perceber a crise de confiança que uma venda destas vai criar. Em quem é que

os portugueses mais acreditam para defender o interesse da economia nacional, para gerir as suas contas e

as suas poupanças? Numa empresa pública, cuja história se cruza e se confunde com a História portuguesa

nos últimos 140 anos, ou num fundo de investimento especulativo, sem experiência, sem compromissos e sem

raízes neste País?

Há quem nunca aprenda, Srs. Deputados. Se há uma lição que a crise financeira devia ter ensinado, e

cujas duras consequências estão a ser sentidas na pele por quem vive em Portugal, é a importância de uma

voz pública e reguladora, num mercado financeiro cada vez mais selvagem. Percebemos que isso, no entanto,