16 DE JANEIRO DE 2014
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A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: O País tem
vindo a assistir, progressivamente e de forma cada vez mais clara, ao difícil relacionamento do Governo com
os direitos sociais, em geral, e, em especial, com o direito à proteção na velhice, sobretudo no que tem a ver
com as pensões.
Estas têm vindo a ser objeto de um ataque sem precedentes na nossa vida democrática, quer em termos
de objetivos, quer em termos da metodologia seguida para os atingir.
O Governo não convive bem com direitos constituídos ao abrigo de um modelo constitucionalmente
consagrado e que nos garantiu, até hoje, paz social. E não convive bem com ele porque, simplesmente, não é
aquele que defende. Está no direito de não concordar, mas não tem o direito de, torpedeando os mecanismos
democráticos e ao seu arrepio, procurar impor a sua visão de forma unilateral, sem qualquer tipo de
concertação, quer política, quer social, e sem qualquer respeito pelos normais períodos de transitoriedade.
O PS demonstrou sempre, enquanto Governo e enquanto oposição, que não tem uma visão imobilista em
relação ao conteúdo e ao desenho da proteção social. Protagonizou reformas modernizadoras, negociadas em
concertação social, elogiadas internacionalmente, quer pela União Europeia, quer pela OCDE, e contra as
quais os grupos parlamentares que hoje suportam a maioria sempre votaram contra.
O Sr. José Magalhães (PS): — Bem lembrado!
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — É natural, porque enquanto o PS tem uma visão construtiva que
assenta na combinação entre o respeito pelos princípios constitucionais da segurança jurídica, da proibição do
excesso, da proporcionalidade e da justiça social assente na solidariedade, combinados com a
sustentabilidade do sistema, os atuais protagonistas que sustentam o Governo têm uma visão destrutiva dos
atuais modelos, brandindo sistematicamente o «papão» da sustentabilidade para justificar a negação dos
princípios.
O Sr. António Braga (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — Neste caminho destrutivo, repito, contarão sempre com a firme e
inabalável oposição do PS.
Aplausos do PS.
Vamos a factos.
O Governo incluiu no Orçamento do Estado para 2013 uma contribuição extraordinária de solidariedade
sobre os pensionistas com pensões superiores a 1350 € que o Tribunal Constitucional deixou passar para
aquele ano, tendo em consideração o seu carácter excecional e transitório. Repito: excecional e transitório!
Em maio de 2013, o Primeiro-Ministro comprometeu-se, em carta enviada à troica — unilateralmente e só
conhecida mais tarde — com cortes vários, entre eles, cortes definitivos nas pensões.
No final de 2013, o Governo aprovou um diploma sobre convergência de pensões que implicava um corte
de até 10% a pensões dos funcionários públicos já em pagamento. Esbarrou com o pedido de fiscalização da
constitucionalidade apresentado pelo Presidente da República, como é seu dever, e esse diploma veio a ser
declarado inconstitucional.
Não desistindo dos seus propósitos, e persistindo no seu comportamento de provocação constitucional, o
Governo anunciou já uma nova contribuição extraordinária de solidariedade a incidir sobre pensões ainda mais
baixas. Anuncia-se, agora, ainda, a criação de um grupo técnico com a missão de tornar definitivos os cortes e
a sobretributação, introduzidos com a contribuição especial de solidariedade.
O Sr. António Braga (PS): — É verdade!
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — Ora, ao atacar os pensionistas em várias frentes, como alvo
preferencial de discriminação negativa, o Governo não tem em conta que eles já pagam os impostos