I SÉRIE — NÚMERO 36
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correspondentes aos rendimentos que recebem, nem ouve os insistentes clamores da sociedade civil, como
também não ouve os persistentes apelos de quem institucionalmente tem a noção do trágico impacto social e
económico que esta escolha determina, e demonstra enorme insensibilidade e desrespeito para com as redes
intergeracionais básicas de suporte, que devem ser estimuladas e apoiadas e que o PS, intransigentemente,
defende.
Aplausos do PS.
Mas há algo de muito grave que, subliminarmente, o Governo faz nascer quando, persistente e
reiteradamente, ataca os pensionistas nos seus direitos sociais fundamentais: é que não vale a pena cumprir a
nossa parte no contrato social que aceitámos, porque quem definiu os seus contornos e os tornou de
imposição obrigatória não cumpriu a parte que lhe competia e tudo faz, agora, para fugir às suas obrigações,…
O Sr. Alberto Martins (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — … pretendendo apropriar-se do que não é seu, um Estado que se
intromete na vida privada como nunca se viu e que viola a sacralidade do direito constituído à pensão.
Mas, pior, ao atacar dirigidamente os pensionistas, os mais velhos da nossa sociedade, desrespeitando-os,
retirando-lhes o que é seu de direito próprio e colocando-os na impossibilidade de cumprirem as suas
obrigações e/ou ajudarem os seus filhos, os seus netos e, muitas vezes ainda, os seus pais, a viver com
dignidade, vão fazendo nascer neles o sentimento de culpa por estarem vivos, o que é verdadeiramente
revoltante!
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — O PS considera que uma atuação no Governo, completa e
frontalmente ao arrepio dos compromissos assumidos em campanha eleitoral, está ferida de ilegitimidade.
O Sr. António Braga (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — Neste caminho de construção de uma «sociedade de baixos
direitos», como lhe chamou Tony Judt, e de uma sociedade com portugueses subalternos, contarão sempre,
mas sempre, com a firme, intransigente e «irrevogável», verdadeiramente «irrevogável» oposição do Partido
Socialista.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge
Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Maria de Belém Roseira, uma simples
questão e uma consideração prévia que lhe quero fazer.
Ao que, efetivamente, assistimos por parte deste Governo, de desgraça nacional, PSD/CDS-PP é a uma
autêntica perseguição aos direitos dos reformados portugueses. O corte nas reformas é um escândalo e, sem
margem para qualquer dúvida, um roubo a quem trabalhou uma vida inteira.
Nós consideramos que o que foi atribuído pelo Estado, nas regras de aposentação, aquando do momento
da passagem à aposentação, é resultante de descontos de uma vida de trabalho. Como tal, entendemos que
não há qualquer legitimidade por parte do Governo PSD e CDS-PP de, retroativamente, retirar aquilo que não
lhe pertence, como, aliás, a Sr.ª Deputada muito bem disse e é também a posição do PCP sobre um conjunto
de considerações.
Mas opomo-nos não só ao corte das reformas que já estão em pagamento, mas também ao corte das
pensões futuras, que também é levado a cabo pelo Partido Social Democrata e pelo CDS-PP.