16 DE JANEIRO DE 2014
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os mais cínicos, ao vosso amor próprio: não aceitem que o inaceitável tenha a vossa assinatura. Não aceitem
mais que aquilo que faz de nós um povo seja tão sistematicamente menosprezado. E quando se debruçarem
sobre o que querem para Portugal tenham presentes as simples palavras de Vergílio Ferreira: «Toda a cultura
é um diálogo com o seu tempo».
Não aceitem que este tempo de tantas indefinições e incertezas, de crescente desconfiança das
instituições democráticas seja feito de silêncio.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel
Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Inês de Medeiros, em primeiro lugar, em nome
do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, quero saudá-la pela sua intervenção, bem como pelo
instrumento regimental que utiliza para poder trazer a debate, hoje, no Plenário da Assembleia da República,
questões relacionadas com a política cultural.
É um facto que as políticas de cultura, em Portugal, principalmente desde a assinatura do pacto de
agressão que foi celebrado entre o PS, o PSD e o CDS e o FMI, o Banco Central Europeu e a União Europeia,
passaram a ser uma espécie de adorno político que não encontra qualquer espécie de amparo na estrutura do
Governo, neste caso até com a obliteração do respetivo ministério e a sua conversão numa secretaria de
Estado.
Isso é acompanhado também da extinção, na prática, de todo o edifício administrativo que deve dinamizar
a cultura em Portugal, quer a programação cultural do Estado, quer as artes e a produção cinematográfica,
que o Estado deve apoiar junto das estruturas de criação artística.
A Sr.ª Deputada destaca dois elementos que ilustram essa política do Governo e o PCP subscreve a crítica
que lhe dirige nessa matéria, um Governo que finge fazer frente aos grupos económicos, nomeadamente aos
das comunicações, mas que não só acaba por não lhes fazer frente como, em muitas outras matérias, termina
sendo obediente. É um Governo que cobra uma grande taxa, fingindo que está do lado do cinema, mas assim
que as empresas dizem que não estão disponíveis para pagar a taxa, o Governo, invés de recorrer aos
mecanismos legais e administrativos que tem para fazer a sua cobrança coerciva, altera a lei, diminuindo a
taxa para metade, dizendo «não faz mal, os portugueses põem a diferença».
A coleção Miró que resulta de uma coleção do BPN é um outro exemplo da completa abdicação do
interesse nacional que este Governo tem vindo a protagonizar. É um Governo que vende o património cultural
a pretexto da satisfação do interesse do contribuinte. o mesmo Governo que não teve nenhuma preocupação
com o interesse do contribuinte quando vendeu o BPN por uma bagatela depois de os portugueses terem lá
gasto mais de 4000 milhões de euros, podendo ainda virem a gastar mais.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues):— Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Termino, Sr. Presidente.
Sr.ª Deputada, saudamos integralmente o conteúdo da sua intervenção, porque nos identificamos quer com
a crítica quer, inclusivamente, com algumas das considerações que faz para as soluções, e não deixamos de
questionar a situação política com que o País está confrontado.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues):— Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Deputada, não é possível estar bem com a cultura e com a troica ao
mesmo tempo. E o Partido Socialista ainda não afirmou que não está bem com a troica e ainda não referiu, em
momento algum, que se desvincula deste pacto de agressão sobre os portugueses.
Portanto, Sr.ª Deputada, não é possível uma política de cultura ao serviço do interesse nacional, dos
portugueses e do País enquanto se mantiver o apoio às políticas de agressão que têm vindo a ser lançadas
sobre o povo português.