I SÉRIE — NÚMERO 42
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O caminho está a ser desenhado para a ciência. É uma decisão política — é verdade —…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É errada!
A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — … é uma decisão vincada — é verdade —,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É errada!
A Sr.ª Nilza de Sena (PSD): — … porque consideramos que ciência são as 10 000 bolsas em execução,
são 2300 projetos em execução, são projetos de cooperação internacional, são 1700 bolsas em projetos, são
também bolsas individuais. Mas não são só bolsas individuais. Não consideramos as bolsas individuais a única
e exclusiva aposta na ciência, porque definimos metas concretas ao encontro dos relatórios da Comissão
Europeia e dos indicadores internacionais. É disto que estamos a falar.
Temos centros de excelência, temos grandes investigadores, mas queremos também investigação e
ciência de qualidade.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina
Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Começo por cumprimentar a ABIC
(Associação de Bolseiros de Investigação Científica), bem como os bolseiros de investigação.
Se há situação que deve preocupar todo o País e que devia unir todas as vozes é a situação da ciência e
da investigação em Portugal. Este é um problema dos bolseiros, mas não é um problema só dos bolseiros; é,
acima de tudo, um problema do País, do conhecimento e do desenvolvimento.
Os bolseiros de investigação científica têm sido muito maltratados no nosso País: não têm contratos de
trabalho; têm remunerações muito baixas; não têm quaisquer direitos; e todos os que ficaram agora sem bolsa
estão no desemprego, sem sequer terem acesso a subsídio de desemprego.
Mas mais, Sr.as
e Srs. Deputados: se há ciência e investigação é porque há cientistas e investigadores.
Ora, ouvimos a Sr.ª Deputada Nilza de Sena, como já ouvimos o Presidente da FCT, tentarem fazer-nos
acreditar que é possível fazer ciência sem cientistas, investigação sem investigadores.
Protestos do PSD.
A verdade é que nos dizem que o problema não são as bolsas, é outro qualquer. Mas sobre todos os
pontos que abordam, sobre todos eles, este Governo não tem nenhum projeto, nenhum investimento. Nada,
nada está a acontecer!
O que sabemos é que há menos 40% de bolsas de doutoramento, o que sabemos é que o Orçamento do
Estado prevê menos 15% para a FCT. E bem podem os senhores querer baralhar números plurianuais com
números anuais para tentar disfarçar o indisfarçável, mas a verdade é que, ainda por cima, o quadro de
financiamento que aí vem irá piorar esta situação no futuro.
Os bolseiros investigadores em Portugal dão provas em toda a sua carreira — nas suas teses, nas suas
dissertações, nos artigos que publicam. Se há, em Portugal, quem seja avaliado, quem seja escrutinado, quem
tenha dado provas que são o melhor que temos são os bolseiros de investigação; contudo, só têm sido
maltratados pelos sucessivos Governos.
Chegámos agora ao ponto em que os bolseiros não só continuam a ser maltratados como está até em
causa o nosso País poder continuar a ter investigação, poder continuar a ter ciência. Bem sei que o Ministro
da Economia, Pires de Lima, acha que isso da ciência é uma chatice, que o que interessa é «dar jeitinho» às
empresas neste momento!… Bem sabemos que a Sr.ª Secretária de Estado do Ensino Superior acha que os
bolseiros até devem estar contentes por estar no desemprego porque o seu vínculo laboral era muito
precário!…