I SÉRIE — NÚMERO 60
22
É verdade que as taxas de juros nominais aplicáveis à divida publica acompanharam a tendência para a
baixa que se registou na generalidade dos países sujeitos a processos de ajustamento, e isso é positivo.
É também verdade que o equilíbrio dos saldos externos evoluiu positivamente, ainda que demasiado
dependente da redução das importações de bens estratégicos, o que não esconde o bom comportamento das
exportações, apesar de as mesmas demonstrarem, mais recentemente, alguns sinais de abrandamento da
sua dinâmica.
Se acrescentarmos a este quadro uma clara degradação dos equilíbrios sociais, expresso nos fortes
indícios de crescimento da intensidade e da dimensão real da pobreza e no dramático agravamento dos
saldos demográficos, só poderemos retirar uma conclusão: os três anos do processo de ajustamento deixam
Portugal — o País das mulheres e homens que o fazem e não o Portugal da propaganda — numa situação de
enorme fragilidade para enfrentar o futuro.
Aplausos do PS.
Sr.ª Presidente e Srs. Deputados: enfrentar o futuro com a criação de riqueza igual à de há 10 anos é o
sinal do fracasso de uma política e de um Governo.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Vieira da Silva (PS): — Enfrentar o futuro com o emprego ao nível do século passado é o sinal do
fracasso de uma política e de um Governo.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Vieira da Silva (PS): — Enfrentar o futuro com o investimento ao nível dos anos 80 do século XX é o
sinal do fracasso de uma política e de um Governo.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Vieira da Silva (PS): — Diz, desde há algum tempo, o Governo que a culpa é do Programa, que
estava mal desenhado. Longe vão os tempos e as vozes que o glorificavam como obra maior da inspiração da
direita.
Mas cabe perguntar: então e as múltiplas e sucessivas mudanças no Memorando serviram para quê? A
estratégia de ir para além da troica serviu para quê? A duplicação da austeridade serviu para quê?
A resposta é clara: a estratégia da austeridade expansionista que em tempos que já lá vão alimentava os
discursos do Governo deu nisto: uma recessão mais forte, um desemprego mais alto, um empobrecimento da
maioria da população portuguesa e as metas por cumprir.
Aplausos do PS.
Com mais ou menos propaganda, não há maneira de dar a volta: este é o resultado de opções de política
que têm nome e rosto, os de Passos Coelho e de Paulo Portas, acompanhados, talvez com incómodo, pela
sombra de Vítor Gaspar.
Aplausos do PS.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A verdade sobre o futuro tem de ser debatida em Portugal e na
Europa, para além dos cálculos eleitorais, nacionais ou europeus.
Não é possível recuperar a economia e devolver a esperança amarrados a uma estratégia de divergência
prolongada com a Europa. Não são os subscritores do manifesto dos 70 que o afirmam, é o próprio Fundo
Monetário Internacional que o ameaça: a dimensão da nossa divida não é gerível com uma estratégia de mais
do mesmo.