I SÉRIE — NÚMERO 79
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Nós, hoje, poderíamos ter uma sociedade em que se trabalhasse muito menos horas, em que houvesse mais
tempo para viver e quando nós, aqui, discutimos a participação política, quando nós, aqui, discutimos o acesso
à cultura, quando nós, aqui, discutimos a conciliação do trabalho com a vida familiar, quando nós, aqui,
discutimos os problemas dos cuidados estamos também ou deveríamos estar a discutir a redução do horário de
trabalho.
Há um segundo problema que é o do desequilíbrio profundo que foi introduzido na legislação laboral, e a Sr.ª
Deputada falou disso. Sabemos que com a legislação laboral que vem do PSD e do CDS, mas que, em alguns
aspetos, já vinha de antes, vinha do Código do Trabalho de 2003 e do Código do Trabalho de 2009, sabemos,
repito, que há um desequilíbrio profundo que desregulou os horários, que introduziu o banco de horas,
nomeadamente o banco de horas individual, que aumentou os fundamentos para se poder contratar a prazo,
para se poder recorrer à escravatura do trabalho temporário, que representou uma transferência profunda de
rendimentos do trabalho para o capital.
E sobre cada uma destas matérias, seja sobre os despedimentos, seja sobre os horários, seja sobre o
combate à precariedade, seja sobre a reconstrução da contratação coletiva por via da reposição do princípio do
tratamento mais favorável ou do fim da caducidade das convenções, sobre tudo isto estamos a perder tempo e
precisamos de fazer estas alterações.
Mas também precisamos de fazer outras alterações e também precisamos de ter ganhos novos, de respostas
novas como aquelas que respondem, por exemplo aos trabalhadores por turnos.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Queria acabar com a seguinte nota: para além da lei, sabemos como
entre a lei e a prática vai um passo de gigante. Por isso é que precisamos não só de um Estado que fiscalize
como de trabalhadores com capacidade de organização e de exigir o cumprimento dos seus direitos nos locais
de trabalho.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria
das Mercês Borges, do PSD.
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Rita Rato,
nesta sua declaração sobre o 1.º de Maio traz-nos a evolução tecnológica. Tem toda a razão. Devemos estar
todos empenhados em debater, em dialogar, em concertar todas as implicações que a evolução tecnológica vai
trazer ao mundo do trabalho, ao desenvolvimento económico, à prosperidade e ao bem-estar, que desejamos
para o nosso País.
A primeira situação, mais do que só a palavra da Sr.ª Deputada — e aí a grande dicotomia entre as nossas
bancadas e os nossos partidos —, é que nós não defendemos a luta pela luta, nós defendemos o diálogo, a
concertação, a conciliação. Daí a aposta que o meu Grupo Parlamentar faz em apoiar sindicatos que dialogam
com entidades patronais, que promovem a concertação social, que promovem a contratação coletiva e que
procuram, nesse fórum, discutir essas matérias. E discuti-las não apenas nos planos em que a Sr.ª Deputada
as colocou, mas, acima de tudo — e o mais importante —, colocando a questão que a Sr.ª Deputada nunca
citou, que é a de exigir mais e melhores qualificações para todos os trabalhadores.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Isto porque só trabalhadores qualificados, só trabalhadores
permanentemente atualizados podem garantir o seu posto de trabalho, podem dialogar e tentar demonstrar que
têm mais direito a receber melhores salários porque produzem com mais qualidade, porque não se deixam
ultrapassar pelos avanços tecnológicos.