18 DE DEZEMBRO DE 2020
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O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada não inscrita Cristina Rodrigues.
A Sr.ª Cristina Rodrigues (N insc.): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O ano de 2020 foi atípico. Foi o ano em que nos vimos a braços com uma pandemia; em que as crianças deixaram
de poder brincar juntas, como sempre fizeram; em que tivemos de deixar de ver os nossos pais ou avós ou de
redobrar os cuidados com eles para os proteger.
Perdemos pessoas, passámos a ter medo, uns da doença, outros da fome, mas também mostrámos que
somos resilientes.
Estamos no caminho da recuperação e devemos manter-nos nele, mantendo a responsabilidade, mas sem
perder a humanidade.
Aproveito esta oportunidade para chamar a atenção do Governo para duas situações que exigem uma
intervenção célere.
O encerramento das escolas e dos centros de atividades ocupacionais em março e os atrasos na colocação
de professores do ensino especial e de terapeutas contribuíram para um maior isolamento das pessoas com
deficiência e têm levado a um aumento do cansaço dos cuidadores.
As respostas têm sido lentas e insuficientes. As escolas e universidades não estão a ser capazes de apoiar
as crianças e jovens com deficiência garantindo o ensino à distância, deixando-as mais expostas a situações de
discriminação.
Por isso, apelo ao Governo que tenha em atenção a situação específica das pessoas com deficiência e dos
seus cuidadores e que tome medidas que garantam o acesso destas crianças e jovens à educação, pois
tememos que, se nada for feito, tal possa levar ao aumento do abandono escolar.
Soubemos também que diversas crianças e jovens que se encontram em casas de acolhimento não estão a
ter autorização para ir a casa no Natal devido ao perigo potencial que o convívio familiar pode representar no
regresso à casa de acolhimento. Isto apesar de terem permissão para passar férias e mesmo fins de semana
com a família e de nada no decreto do estado de emergência ou nas normas ditadas pela DGS impedir tal
convívio.
Já é suficientemente difícil para uma criança estar numa casa de acolhimento. Impedi-la de passar o Natal
com a sua família é profundamente triste. Neste Natal, há um convite para viver os afetos de forma diferente do
habitual, mas isso não significa que o amor, a vontade de partilha e a solidariedade se tenham esgotado, antes
pelo contrário.
Todos estamos cansados destas medidas, mas é importante não baixarmos os braços. Devemos fazê-lo por
nós, pelos nossos amigos e familiares, mas também como reconhecimento por todo o esforço que tem sido feito
pelos profissionais de saúde.
O Sr. Presidente: — Para encerrar este período de debate, tem a palavra o Sr. Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, em nome do Governo.
O Sr. Ministro da Administração Interna: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos hoje a discutir e aprovar a sétima declaração do estado de emergência em quase meio século de democracia. Estamos na
quarta renovação do período do estado de emergência, neste quadro encetado no início de novembro e que
marca a resposta àquela que, em toda a Europa, é considerada uma gravíssima segunda onda, aliás com uma
dimensão mais mortal e mais marcante no quanto afeta a vida das populações, a atividade económica, o futuro,
a esperança de todos em relação à vaga que a precedeu.
Por isso é tão importante que hoje renovemos aquele que é o nosso compromisso com o combate pela
saúde, o nosso compromisso com a afirmação das liberdades e dos direitos fundamentais, que são restringidos
na estrita medida adequada, proporcional e necessária à prossecução do objetivo maior que todos queremos
defender: retomar a normalidade da vida, eliminar a pandemia, defender a saúde, manter a democracia.
Por isso é tão relevante que o Presidente da República, a Assembleia da República — novamente com a
viabilização desta declaração por mais de 90% das Sr.as e dos Srs. Deputados — e o Governo conjuguem
esforços para responder àquilo que é fundamental: dar esperança aos portugueses, dar confiança na
capacidade de luta para ultrapassar este momento tão difícil.