18 DE DEZEMBRO DE 2020
45
Produtores de Eletricidade, no Parlamento, e que até hoje não teve provimento nem iniciativa pelo lado do
Governo.
Peço, portanto, a atenção de todos.
Começo por recordar o nascimento deste problema, por alturas do Memorando de Entendimento com a
troica, em 2011. Nessa altura, o Governo PSD/CDS decidiu aplicar o Memorando pela bitola máxima — não foi
o único tema em que assim decidiu — e aumentar para a taxa máxima o IVA (imposto sobre o valor
acrescentado) da eletricidade.
O choque que isso provocou nas faturas de energia elétrica deu origem à procura de formas de compensação
e houve quem encarasse essa oportunidade como uma ocasião para fazer aumentar os seus rendimentos no
setor elétrico.
Portanto, após ter sido recusada a proposta que a EDP (Energias de Portugal) dirigiu ao Governo pelo então
Secretário de Estado Henrique Gomes, pouco depois, com o afastamento de má memória, que todos temos
presente, desse Secretário de Estado que iniciou as medidas de combate às rendas excessivas, o Secretário
de Estado Artur Trindade, que lhe sucedeu, veio aceitar a proposta que a EDP dirigiu ao Governo naquela altura.
No fundo, tratava-se de vender às elétricas um prolongamento dos preços administrativos das rendas
garantidas à produção de energia eólica, para além dos 15 anos que a lei já previa. Foi exatamente essa a base
que o Secretário de Estado Artur Trindade veio depois a adotar e a desenvolver, em diálogo com as empresas
de energia eólica.
Simplificando, o que tivemos em cima da mesa foi que a maior parte da produção de energia eólica em
Portugal resultou de investimentos privados feitos sob a lei de 2005, que estabelecia o prazo que referi de 15
anos para o pagamento de uma tarifa fixa por toda a eletricidade produzida.
Findo esse prazo de 15 anos, haveria ainda tarifa fixa por mais cinco anos, mas reduzida ao valor que se
verificasse nos novos concursos para a produção de energia eólica e que teriam já custos muito reduzidos. Na
altura, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o Eng.º Carlos Pimenta dizia, em relação aos últimos leilões
realizados, que «se se fizessem leilões agora, a descida seria de uns 70 €/MWh para 50 €/MWh». Portanto,
essa baixa do valor já se refletiria nas faturas dos consumidores.
Ora, foi precisamente para evitar esse risco que os produtores de eletricidade vieram a obter, em 2013, do
Governo PSD/CDS, uma garantia de tarifa mais elevada no final dos 15 anos e uma extensão por cinco a sete
anos e para um número mais alargado de empresas.
Em troca, fizeram uma «contribuição voluntária» — assim lhe chamaram — para a sustentabilidade do
sistema elétrico nacional. Foi aqui que passámos do atrevimento da proposta da EDP para o desplante na forma
como esta medida veio a ser apresentada aos consumidores.
Os produtores de energia eólica, que já tinham ficado isentos do pagamento da contribuição extraordinária
sobre o setor energético, ainda conseguiram que a sua «contribuição voluntária» lhes desse novas e altíssimas
taxas de rentabilidade no futuro, que não tinham no contrato inicial.
A Comissão Parlamentar de Inquérito estudou a fundo tanto o regime de 2005, que veio a ser alterado, como
o regime que passou a vigorar em 2013 e comparou-os, na ótica dos consumidores.
As conclusões são alarmantes: a partir de 2021, logo no primeiro ano de extensão da garantia, as elétricas
vão recuperar quase tudo o que pagaram, entre 2013 e 2020, a título de contribuição e por mais seis anos ainda
acumularão as vantagens desta espécie de negócio. Os consumidores, esses, vão perder ao todo entre 700 e
1000 milhões de euros.
Do que se trata, e o que concluiu a CPI, é que importa reverter este processo, interrompê-lo e restaurar o
quadro em que foram feitos os últimos concursos de potência eólica.
Claro que os produtores recusaram de imediato qualquer negociação e começaram as ameaças habituais
de litigância contra o Estado. No entanto, a recomendação feita pela Comissão Parlamentar de Inquérito — e
os Deputados do Partido Socialista votaram a favor dela (curiosamente, não estou a ver aqui nenhum dos que
participaram nos trabalhos da Comissão de Inquérito, o que não deixa de ser estranho) — foi aprovada pelos
Deputados do Partido Socialista, mas o Governo tem fechado as portas a essa possibilidade. Assim, do que
hoje se trata é de cumprir essa recomendação.
O Secretário de Estado da Energia, que também não está connosco hoje, prometeu avaliar a viabilidade
financeira da revogação. Bom, Srs. Deputados, essa avaliação está feita. Foi feita aqui, nesta Casa, no âmbito
dessa Comissão de Inquérito.