I SÉRIE — NÚMERO 18
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peso no PIB de 2 % para 2,8 %, isto num cenário de redução de dívida para 92 %. Se essa redução não vier a
ser alcançada, acrescerão àquele valor cerca de 6000 milhões de euros só em juros entre 2023 e 2027 ou, dito
de outro modo, se não optássemos por essa planeada redução da nossa dívida, acabaríamos a gastar, só em
juros, mais de duas vezes e meia o que o Orçamento do Estado dedica anualmente ao ensino superior, apenas
para dar um exemplo.
Aplausos do PS.
O que lhe pergunto, Sr. Primeiro-Ministro, é se as decisões de política monetária do BCE, que se somam à
incerteza hoje redobrada da conjuntura geopolítica, recomendam ou não a persecução de uma política
orçamental que crie as condições para uma diminuição efetiva dos encargos com a nossa dívida e, ainda, se
partilha, tal como eu, a ideia de que promover essa redução não pode mais ser visto como uma excentricidade,
tendo de ser visto, como, de facto, o é, uma questão central da nossa soberania.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para um pedido de esclarecimento, em nome do PSD, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Sónia Ramos.
A Sr.ª Sónia Ramos (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Srs.
Deputados, neste Orçamento do Estado, o Sr. Primeiro-Ministro faltou à chamada dos professores, dos alunos,
das escolas e do futuro de Portugal.
A escola pública vive no limiar da pobreza, com um orçamento que continua a ser de gestão corrente, de
serviços mínimos, em que o Estado português mantém o subfinanciamento de menos 14 % por aluno face à
média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).
Investe zero na recuperação do tempo de serviço dos professores, zero na atratividade da carreira, zero na
mobilidade por doença — que, aliás, foi um dossiê que envergonhou o País perante os professores — e uma
vinculação dinâmica que tornou a «casa às costas» numa lotaria nacional e anual.
Faltou à chamada dos alunos. Continuamos com um início de ano letivo com cerca de 100 000 alunos sem
professor a, pelo menos, uma disciplina, o que, aliás, é um padrão.
A escola digital simplesmente desapareceu do Orçamento do Estado, a ação social escolar não é uma
prioridade e a recuperação das aprendizagens também não, Sr. Primeiro-Ministro, apesar do recente estudo do
IAVE (Instituto de Avaliação Educativa I.P.) sobre aprendizagens, que é absolutamente preocupante: o
desempenho global dos alunos piorou, em particular no 9.º ano, e desfaz-se o mito que o próprio Ministério da
Educação se esforçou por manter e divulgar, de que os alunos aprendiam mais em casa, durante a pandemia,
do que na escola.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — Bem lembrado!
A Sr.ª Sónia Ramos (PSD): — E, reconhecendo o erro de retirar 3300 créditos horários à recuperação das
aprendizagens, vem o Sr. Ministro da Educação dizer que, afinal, algumas ações do Plano Escola+ vão ser
estruturais e vão ficar, desde que as escolas as consigam implementar, reforçando que não são precisos mais
professores.
Espante-se: temos milhares de jovens afetados no seu percurso educativo, que não recuperam
aprendizagens — isto está, agora, oficialmente decretado —, e o Sr. Ministro da Educação continua a dizer que
não são precisos mais professores.
O Sr. Primeiro-Ministro faltou à chamada das escolas. A recuperação e requalificação dos estabelecimentos
escolares é um fiasco lento. A escola inclusiva é um slogan. O elevador social foi trucidado pelo rolo compressor
e continua a ser o maior aliado dos privados, mas o pior parceiro dos contratos de associação, que continuam
a substituir-se ao Estado onde não há escola pública.