I SÉRIE — NÚMERO 22
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Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o
Sr. Deputado Duarte Alves.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, o Governo
prossegue uma política de agravamento das injustiças fiscais. Num momento de profundo contraste entre os
lucros da banca, da grande distribuição e do setor da energia e os sacrifícios da maioria que vive do seu trabalho,
a função redistributiva da política fiscal deveria funcionar com medidas corajosas que enfrentassem os grandes
interesses. Não é isso que vemos neste Orçamento, nem na política fiscal que tem sido prosseguida pelo
Governo e pela maioria absoluta do PS.
Desde 2019, aumentou o peso do IRS em relação ao IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas)
e aumentou o peso dos impostos indiretos, que são os mais injustos.
Precisamos de garantir a tributação, em Portugal, dos lucros que são realizados em Portugal;…
O Sr. João Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — … precisamos que os grupos económicos paguem os seus impostos, para que
seja possível baixar a tributação suportada pela maioria da população em sede de IRS e em sede de IVA.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — No IRS, é preciso baixar a tributação sobre o trabalho e sobre os rendimentos
mais baixos e intermédios. Mas é preciso fazê-lo de forma a aumentar a progressividade e a justiça fiscal, e não
de uma forma que acaba a beneficiar sobretudo quem tem rendimentos mais elevados, como faz tanto a
proposta do Governo, como a proposta do PSD.
Por isso, o PCP propõe uma redução mais significativa nos primeiros três escalões do IRS, beneficiando
assim de forma mais significativa os rendimentos mais baixos e intermédios.
Propomos, ainda, a atualização da dedução específica. A dedução específica, que é a parcela abatida ao
rendimento bruto para calcular o rendimento coletável sobre o qual incidem depois as taxas, está congelada
desde 2010. Desde 2010, é de 4104 €, ou seja, desde essa altura, os contribuintes com rendimentos até 2600 €
estão a perder poder de compra. Por muito que se alterem as taxas, se a base de cálculo continuar a ter esta
verba congelada, há perda de poder de compra para os contribuintes.
Perguntamos ao PS e ao PSD porque é que nenhum destes partidos propõe o descongelamento da dedução
específica, que está congelada desde 2010. Há mais de 10 anos que está congelado este valor de 4104 €. Qual
a razão para mais um ano de congelamento desta verba e, assim, de agravamento fiscal escondido, através da
manutenção da dedução específica no valor atual?
Ao mesmo tempo, voltamos a chamar a atenção para a questão do englobamento obrigatório de todos os
rendimentos para contribuintes do mais elevado escalão de IRS. É inconcebível que salários medianos tenham
de pagar um IRS superior ao dos rendimentos prediais ou de capital, que podem ser de centenas de milhares
de euros. Há quem fale em um só IRS, mas queira manter esta profunda desigualdade.
Perguntamos ao PS: onde é que está o PS que chegou a ter no seu programa eleitoral o englobamento
obrigatório? Veja-se que, agora, até propõem prolongar o regime dos residentes não habituais.
Estas são medidas que aumentariam a receita fiscal para permitir, de forma justa, aliviar o IRS sobre os
trabalhadores e os pensionistas e manter a existência de recursos que são necessários para financiar a saúde,
a educação, a segurança, as infraestruturas e os serviços públicos, dos quais não abdicamos e para os quais é
necessária uma política fiscal que os garanta, mas de forma justa, de forma a aliviar a vida daqueles que têm
rendimentos mais baixos e intermédios.
Aplausos do PCP.