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II SÉRIE-A — NÚMERO 195

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colossais nos últimos anos – na casa das muitas dezenas de milhar de milhões de euros – de grupos como a

Volkswagen, a Stellantis ou a Renault, entre outras multinacionais, falam por si.

Em 2024, foram ultrapassados todos os recordes em Portugal: foram produzidos 332 546 veículos, mais

4,5 % do que em 2023, e foram colocados em circulação 249 269 veículos, mais 5,6 % do que em 2023.

Num País confrontado com políticas que desprezam o aparelho produtivo e particularmente a indústria, não

tem pouca importância a necessidade de defender e desenvolver este setor em Portugal.

O setor, apesar das potencialidades, está hoje confrontado com problemas e ameaças a que urge

responder. Nos últimos anos, têm-se adensado problemas entre os principais fabricantes europeus e que não

deixam de ter reflexos no nosso País.

Apesar dos alertas e da intervenção do PCP houve quem só agora acordasse para os problemas com que

a indústria em Portugal, e no plano da UE, está confrontada. Mas esses problemas têm causas e

responsáveis:

– A política de confrontação e guerra comercial (e também militar) em que a UE se deixou envolver a

reboque dos EUA e que está a ter os seus impactos e consequências no setor automóvel;

– A política energética, e, por conseguinte, todo o processo de transição, que está hoje debaixo do

comando das multinacionais, nomeadamente o ritmo de eletrificação da atividade económica, incluindo com a

substituição dos motores de combustão pelos elétricos, que subestimou claramente dificuldades que já se

antecipavam, sendo que se verificam impasses nesta matéria que afetam todo o setor automóvel;

– A política de desindustrialização e deslocalização da atividade industrial, e a sua substituição por uma

economia predominantemente orientada para os serviços.

No entanto, os principais responsáveis por este caminho continuam sem reconhecer o desastre das

políticas que foram promovendo. Tanto assim é que, ainda recentemente, o Presidente do Partido Popular

Europeu e um Deputado do PSD no Parlamento Europeu assinaram um texto no Expresso (03/01/2025) – «O

futuro da indústria automóvel europeia em jogo» – onde, depois de referir (e bem) que o «coração industrial

europeu» está a «enfraquecer», atiram para «fatores económicos adversos» e «erros políticos de

consequências desastrosas» as causas da situação que a indústria automóvel enfrenta. Consideram, aliás,

que «a situação é crítica» e que «não se trata apenas da perda de empregos – está em jogo a própria

soberania do nosso continente». Infelizmente, não enumeram, nem nomearam, quer os «fatores», quer os

«erros políticos», nem os autores políticos, governos, partidos e órgãos da UE responsáveis por este percurso.

Percebem-se as razões destas omissões. De facto, uma abordagem séria sobre as dificuldades da

indústria automóvel tinha que responsabilizar a política industrial, a política de comércio externo, a substituição

de uma política de cooperação pacífica e mutuamente vantajosa com todos os povos pela subserviência aos

EUA, nomeadamente no confronto com a China, as políticas de liberalização e privatização dos mercados e

empresas públicas de áreas estratégicas como a energia e os transportes, o desastre das suas orientações e

pactos para a transição energética e o transição digital.

É também por isso que as medidas que reclamam são, em grande parte, o agravamento das políticas que

conduziram a indústria automóvel à situação em que se encontra.

Ou seja, em vez de repensar a política de confrontação, sanções e guerra comercial, em vez de recuperar

o controlo público de setores estratégicos e transversais a toda a atividade económica como é o da energia, o

que pretendem impor é:

− Uma ainda maior subsidiação pública às multinacionais do setor, incluindo por via do layoff, como tem

vindo a acontecer;

− Avançar ainda mais no «mercado único», de capitais;

− Promover uma ainda maior concentração e centralização de capital – com novas fusões e aquisições à

escala global, com o risco de esvaziar unidades industriais em países como Portugal para os concentrar nas

grandes potências do centro da Europa, que comandam a UE;

− O despedimento de milhares de trabalhadores, que é sempre a primeira solução do grande capital, ou

seja, dos grandes grupos/marcas dos fabricantes, que ainda nos recentes anos apresentaram lucros colossais,

incluindo no ano, que agora terminou, de 2024.