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II SÉRIE-A — NÚMERO 195

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cumprir com os objetivos sociais e de combate às alterações climáticas da própria União Europeia. Portugal

não era exceção, sendo instado a cortar anualmente até 2,8 mil milhões de euros em despesa pública.

O novo plano «Rearmar a Europa», menos de um ano depois dessas regras estarem em funções, em clara

marcha atrás, prevê uma única exceção para os países poderem incrementar a sua despesa pública: o setor

da defesa. Deixa de lado todas as prioridades do bem-comum: habitação, saúde, educação, mobilidade ou

combate à pobreza. As prioridades da União Europeia ficam claras, alinhando-se com o programa político de

pauperização do Estado social, como defendido por Mark Rutte, Secretário-Geral da NATO.

A UE entra assim oficialmente numa lógica de economia de guerra, pretendendo canalizar a maior parte

dos seus recursos naturais e financeiros para a indústria militar. Acresce que esse setor é disputado por um

pequeno número de grandes empresas, detidas essencialmente por França, Alemanha e Itália, e que tem

aumentado exponencialmente nos últimos anos o seu orçamento destinado ao lóbi junto das instituições

europeias. As 10 maiores empresas do setor da defesa de países da UE gastaram entre 3,95 e 5,1 milhões de

euros em lóbi, em 2022, e entre 5,5 e 6,7 milhões de euros, em 2023. Os dados públicos disponíveis indicam

um aumento de 40 % em apenas um ano.

A construção da União Europeia, assente em tratados que impõem austeridade, foi precisamente o que

impediu a sua modernização, independência energética e autonomia estratégica que a colocaria hoje mais

bem preparada para enfrentar os grandes desafios do nosso tempo.

O permanente estrangulamento do investimento público foi acompanhado, na esperança de o compensar,

com um alinhamento acrítico e de dependência dos Estados Unidos da América nas mais diversas áreas,

nomeadamente de tecnologias, defesa e informação. A recente eleição do Presidente Donald Trump e o

realinhamento que promoveu na política externa, nomeadamente com ameaças expressas de intervenção

militar contra território da União Europeia, de continuação da ocupação da Palestina, de imposição da

pilhagem de matéria-prima crítica na Ucrânia e de não garantir os mecanismos da NATO vieram expor o

fracasso desse modelo.

O abandono de populações e compromissos internacionais por parte dos Estados Unidos da América não é

novidade. Vimo-lo, mais recentemente, em 2021 na saída do Afeganistão e na sua entrega da administração

do país às forças talibã, logo após o fim do primeiro mandato do Presidente Donald Trump. Atualmente repete-

se no abandono do povo ucraniano e na imposição de um acordo ao país vítima de invasão que, na prática,

significa a pilhagem das suas riquezas naturais, nomeadamente das suas terras raras. Este realinhamento da

política externa estadunidense colocou no mesmo plano de cooperação os interesses da atual administração

do Partido Republicano e os da Federação Russa de Putin.

O alinhamento entre as políticas estadunidenses e russas não se fica por esfera, alargando-se à tentativa

de interferência na política e nas eleições dos Estados-Membros da União Europeia. Ao financiamento russo à

extrema-direita europeia, de guerra híbrida utilizando infraestruturas de informação e redes sociais detidas por

tecno oligarcas estadunidenses, junta-se a campanha aberta do oligarca Elon Musk contra as democracias

europeias. Das intervenções de diversos membros da nova administração estadunidense saem saudações a

regimes autoritários e o ataque às democracias europeias.

A subserviência acrítica à política externa estadunidense fez com que a União Europeia não se

empenhasse ativamente na construção de uma solução de paz justa e duradoura para a Ucrânia e para a

Palestina. Perante o realinhamento da Casa Branca, a União Europeia encontra-se perante um dilema

estratégico e a reboque de um novo diretório composto pelo Presidente francês Emmanuel Macron e pelo

primeiro-ministro Keir Starmer do Ex-Estado-Membro Reino Unido.

Perante o revés da sua política de alianças e a sua incapacidade produtiva e tecnológica, a União Europeia

quer repetir uma política fracassada e lançar os Estados-Membros numa nova ronda de austeridade, desta vez

de cariz bélico. Esta austeridade bélica consiste em investimento público em defesa, sem avaliação prévia das

necessidades e do que falhou com o investimento anterior nesta área, enquanto pretende promover novos

cortes na saúde, educação e outros serviços públicos, em que comprime salários e agrava as condições de

vida no espaço europeu. Se a União Europeia decidir trocar o Estado social por uma escalada armamentista

aprofundará a sua crise.

Nessa fuga para a frente, a União Europeia parece ainda querer caminhar para a irresponsabilidade

nuclear. A vertigem nuclear não protege o mundo ou a Europa. A segurança mundial e de toda a Europa

garante-se com uma comunidade internacional comprometida com a construção da paz. É na prossecução