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82 | II Série B - Número: 066 | 22 de Dezembro de 2012

Cheguei lá às 19 horas e 30 minutos, e quem estava na reunião? O Sr. Primeiro-Ministro, a Sr.ª Secretária de Estado do Tesouro e das Finanças e eu.
O Sr. Primeiro-Ministro, com a simpatia que sempre teve para comigo, disse-me: “Mira Amaral, como compreende, eu, como Primeiro-Ministro, tenho o dever de tentar fazer tudo para salvar a liquidação do BPN e apelo á sua boa vontade para conseguirmos ter uma solução para salvar o BPN”.
Eu disse-lhe: “Sr. Primeiro-Ministro,» — tratei-o por Primeiro-Ministro porque tinha a Sr.ª Secretária de Estado ao lado, senão tinha-o tratado de uma forma mais informal, possivelmente — “» o que ç que põe em cima da mesa, porque a sua Secretária de Estado, anteontem, disse que não conseguia cumprir o acordo de 31 de julho, que o Governo era incapaz de cumprir o acordo. Portanto, o Sr. Primeiro-Ministro compreenderá que eu nem sequer vá falar com os acionistas, a menos que o Sr. me apresente algum facto superveniente, porque se não me apresentar nada, nem sequer vou falar aos acionistas, porque o assunto ficou fechado na segunda-feira, e eu já mudei o chip na minha cabeça. O Sr. Primeiro-Ministro ou apresenta qualquer coisa de novo»”. Como não apresentou nada de novo, eu conclui dizendo: “Sr. Primeiro-Ministro, veja se a Sr.ª Secretária de Estado, face ao que nos disse na segunda-feira, emenda ou corrige alguma coisa”. A Sr.ª Secretária de Estado não abriu a boca e eu conclui, calma e tranquilamente: “Sr. Primeiro-Ministro, lamento, mas nem sequer vou falar aos meus acionistas. O assunto está fechado”.
Saí de São Bento ás nove da noite, dizendo: “Sr. Primeiro-Ministro, gostei muito de o ver, o assunto está fechado, eu nem sequer falo aos meus acionistas, porque os Srs. não apresentam facto nenhum novo. Então, a sua Secretária de Estado disse, na segunda-feira, que não pode cumprir o acordo, o Sr. Primeiro-Ministro chama-me» Eu sou um gestor profissional e isto não vai só com simpatia! Ou há factos em cima da mesa, ou então»” Qual é o meu espanto quando, sexta-feira de manhã, às 8 horas, telefona o Dr. Fernando de Teles de Luanda a dizer: “Eng.ª Mira Amaral, pedia-lhe o favor de ir comigo, na segunda-feira, ao gabinete do Sr.
Primeiro-Ministro, porque ele telefonou-me de Lisboa a pedir-me para ir a Lisboa falar com ele”.
Portanto, o Sr. Primeiro-Ministro fez uma diligência para Luanda, telefonou ao Dr. Fernando Teles para Luanda, dado que eu não lhe tinha dado aberta nenhuma, pelas razões que já vos expliquei, e convenceu o Dr. Fernando Teles a vir a Lisboa.
Então, na segunda-feira de manhã, dia 28 de novembro, vou a São Bento, a uma reunião numa sala que conheço, que era onde havia os Conselhos de Ministros do tempo do Prof. Cavaco Silva, antes da Gomes Teixeira. E quem estava do lado do Governo? O Sr. Primeiro-Ministro, o Sr. Ministro das Finanças, a Sr.ª Secretária de Estado do Tesouro e Finanças e, do lado do BIC, o Dr. Fernando Teles, como Presidente do Conselho de Administração, eu, como Presidente da Comissão Executiva, e o meu colega Dr. Jaime Pereira, como CFO do banco — os três.
O Sr. Primeiro-Ministro disse aquilo que eu tambçm diria no caso dele: “É dever de um Sr. Primeiro-Ministro tentar tudo para salvar o Banco, para não o fechar, porque são 1700 trabalhadores liquidados. Eu já tentei junto do Eng.º Mira Amaral e não consegui, venho apelar ao Dr. Fernando Teles para que consigamos chegar a um acordo”.
O Dr. Fernando Teles, que estava ‘brifado’ por mim, como ç óbvio, perguntou: “Então, o que ç que os Srs.
dão de novo?” E o Sr. Primeiro-Ministro começou a lamentar-se, a dizer que era muito difícil mudar o contrato coletivo para acordo de empresa. E eu expliquei ao Sr. Primeiro-Ministro e ao Sr. Ministro das Finanças aquilo que tinha aprendido como ministro do trabalho, porque já tinha sido dirigente do Sindicato dos Engenheiros antes de entrar para o Governo: “Eu acho que os sindicatos são realistas, são responsáveis, defendem os seus legítimos interesses, mas os Srs. se não querem fazer por via legislativa uma imposição para os sindicatos, que, aliás, já fizeram para o setor empresarial do Estado — voltei a repetir isto —, quando, de forma unilateral, esquecem os acordos que existem no setor empresarial do Estado e impõem», por razões que eu percebo de austeridade. Porque ç que não querem fazer isso aqui” Os Srs. até têm outra solução, tentam chegar a acordo connosco e, depois, vão aos sindicatos dizer-lhes o seguinte: «Meus amigos, temos todo o acordo fechado com o Banco BIC, só que o BIC põe agora uma pequena questão, a de que só aceita tomar conta do BPN se os sindicatos aceitarem passar do contrato coletivo para o acordo de empresa.» Acho que isto é fair, não é imposição nenhuma. Os Srs. façam isso.