O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

21 DE FEVEREIRO DE 1992

211

de a revista Passa por mim no Rossio deixar de ler as lotações completamente esgotadas!...

Tínhamos programado uma saída de cena para 31 de Março, mas, Sr. Deputado, é impossível! Se alguma vez eu der uma orientação para que Passa por mim no Rossio saia de cena e lhe pedir o favor de ir ao Rossio, junto à estátua de D. Pedro IV, explicar por que razão sai de cena, não sei se o Sr. Deputado ficará no mesmo estado de compostura com que aqui está,...

Risos do PSD.

... porque se trata de uma exigência da comunidade nacional e não é só à porta das bilheteiras do Teatro Nacional de D. Maria II que esse sentimento se faz sentir!

Sr. Deputado, não queira saber os pedidos que, todos os dias, caem no meu gabinete da parte de pessoas que não encontram maneira de arranjar bilhetes. £ o Sr. Deputado quer o quê? Que eu tire de cena a revista Passa por mim no Rossio1}

Sabe que estava para estrear o Caminho para Meca, com a Eunice Munoz e o Rui de Carvalho? E sabe que esses são os actores que se recusam a entrar numa dessas produções que o Sr. Deputado tanto queria ver no Teatro Nacional de D. Maria II porque têm receio de que se verifique um fiasco a seguir a este grande sucesso em que estão a participar?

Pela primeira vez, desde há muitos anos, são «os actores» — e não, como os senhores dizem depreciativamente (aliás, devo dizer que tenho tanto respeito por eles como pelos outros), «actores de revista» ou «do Sr. Vasco Morgado», que fez muito mais pelo teatro em Portugal do que qualquer um de nós dos presentes nesta sala—, como a Eunice Munoz e com ela praticamente todo o elenco do Teatro Nacional de D. Maria II envolvido, que não querem abandonar o Passa por mim no Rossio\

De maneira que, Sr. Deputado, faça-me um favor: vá convencer os cidadãos e os actores do que é melhor para eles! Mesmo os próprios encenadores só querem trabalhar depois de outro espectáculo ter estado cm cena, em segundo lugar. Produção logo a seguir ao Passa por mim no Rossio? Isso não querem!

No outro dia, um jornalista dizia que «são os efeitos perversos do sucesso» e eu prefiro os efeitos perversos do sucesso aos efeitos perversos do fiasco,...

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Orador: — ... que é aquilo que acontece em muitos casos em produções permanentemente pagas na íntegra pelo Estado.

Por isso, não sei que lhe dizer! Quem encomendou, quem fez de Vasco Morgado não fui eu. O «Vasco Morgado» do Passa por mim no Rossio foi o Sr. Ricardo Pais; foi ele que encomendou ao Sr. Filipe la Féria esta produção, não fui eu! Não sou eu que vou comprar todos os bilhetes! Não sou eu que exijo que a produção esteja em cena!

Compreendo que isto custe, que o contraste custe, que o contraste choque, mas, ó Sr. Deputado, a culpa não é minha!

O Sr. Fernando Pereira Marques (PS): — Sr. Secretário de Estado, dá-me licença que o interrompa?

O Orador: — Não dou! Pela minha parte não dou! Não interrompi ninguém, pelo que neste momento também não estou na disposição de permitir que me interrompam, a não ser que o Sr. Presidente determine o contrário...

O Sr. Presidente: — Como o Sr. Secretário de Estado está no uso da palavra, se não dá licença que o interrompam, V. Ex.*, Sr. Deputado Fernando Pereira Marques, querendo, inscreve-se de novo e eu dou-lhe a palavra.

O Orador: — Por exemplo, o Grupo de Teatro O Bando também tem este ano um apoio de 30 000 contos e dispõe de um espaço cedido pela Caixa Geral de Depósitos. Tal como diz o Sr. Deputado Calos Lélis, é a Secretaria de Estado da Cultura a fornecer o espaço, a fornecer os apoios...

E posso dizer-vos que este é o último ano em que se opta por este esquema de atribuição de subsídios indiscriminados. E, nesse aspecto, parece-me que a Sr.1 Deputada Julieta Sampaio tem toda a razão.

Os Srs. Deputados irão ver dentro de poucas semanas a revolução que a própria Secretaria de Estado vai fazer no seu interior. É uma revolução que começa no interior e que se vai projectar no exterior. Queremos, cada vez mais, diminuir os apoios a companhias de teatro sediadas em Lisboa e dar apoios equivalentes a companhias que estão fora de Lisboa.

No entanto, Sr.1 Deputada, o júri que constituí para atribuição de apoios ao teatro diz-me que, praticamente todos os trabalhos em cena fora de Lisboa — quero, repetir tão fielmente quanto possível— são produções que não merecem ser incentivadas por falta de qualidade.

Dou-lhe como exemplo o Grupo de Teatro de Animação de Setúbal, mas outros casos há,... Portalegre, Braga... São casos em relação aos quais não tenho pareceres favoráveis em termos de qualidade. Mas, mesmo assim, também apoiamos o Grupo de Teatro de Animação de Setúbal com 30 000 e o de Braga com 21 800 contos, subsídios em relação aos quais as pessoas, há um ano, diziam assim: «É extraordinário!» Ou seja, agradeciam imenso os apoios concedidos, mas também lhes foi dito que, no ano seguinte, agora, os «saldos» não seriam os mesmos.

Como referi, vamos trabalhar e investir cada vez mais em espaços e em equipamentos e abrir concurso para espaços de modo que esse concurso seja distribuído de forma tão equilibrada quanto possível em termos quer regionais quer geográficos.

Aliás, gostaria aqui de realçar a participação das autarquias. Como sabem, Srs. Deputados, tenho excelentes relações e lenho trabalhado dia-a-dia com a Câmara Municipal de Lisboa — e isto não envolve menor consideração nem menor apreço por outras câmaras — e, por isso, gostava que os Srs. Deputados, um dia, na Subcomissão de Cultura, conversassem com a Câmara Municipal de Lisboa, perguntassem pelo orçamento para a cultura e pelos apoios (esses que os senhores reclamam para a Secretaria de Estado da Cultura) e vissem qual a relação entre apoios duradouros/organizações festivaleiras, como dizem. Quanto é que da verba do orçamento da cultura da Câmara Municipal de Lisboa é gasta em festivais ou em pavilhões meramente provisórios e que contas pedem os Srs. Deputados à principal autarquia do País?

Na verdade, nenhuma autarquia da capital de nenhum

país das Comunidades Europeias gasta com a cultura