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1484 II SÉRIE - NÚMERO 47-RC

cente, supérfluo, decorativo, folclórico e não influente na vida real. Pela minha parte, poderia responder que o modelo que o PCP preconiza para Portugal é bem mais sofisticado, se calhar, é o modelo italo-mexicano: recolheria do modelo italiano, a italianização do PS, ou seja, um PS enfezado, diminuído, raquítico, inte-lectualóide...

Voz.

O Sr. António Vitorino (PS): - Por outro lado, um PSD entronizado, estabilizado, mexicanizado...

O Sr. José Luís Ramos (PSD): - (Por não ter falado ao microfone, não foi possível registar as palavras do orador.)

O Sr. António Vitorino (PS): - Estão para Portugal como a democracia cristã; o Estado DC não é muito diferente do Estado PSD.

E a grande contradição política do discurso do PSD é que nunca sabe, dentro do seu coração, se as aurículas e os ventrículos dos fixistas do Estado do PSD bombeiam mais sangue para a vossa actividade política do que as aurículas e os ventrículos daqueles que querem renovar e introduzir reformas estruturais na sociedade portuguesa. Portanto, o vosso coração deve ser sujeito a uma análise cirúrgica falhada porque, qualquer dia, com tantas tensões, acaba por estoirar!

O Sr. Presidente: - Que pena!

O Sr. José Luís Ramos (PSD): - Isso é um juízo moral!

O Sr. António Vitorino (PS): - Não! Não é sequer um juízo moralista. De maneira nenhuma! Aliás, eu sou jurista, não sou médico!

E nesse sistema italo-mexicano, com um PS subjugado, em termos de peso relativo ao PCP, o PCP seria o partido falsamente alternante, porque seria um partido que, provavelmente, nesse modelo, só poderia verdadeiramente alternar em termos hipotéticos, teóricos e não em termos práticos nem realistas, como por exemplo a Itália. Neste modelo italo-mexicano, a recusa que o Sr. Deputado José Magalhães faz tão veemente, tão convicta, tão transbordante de argumentos e, sobretudo, de adjectivação, uma dela mais personalizada, outra mais generalizada ao Partido Socialista no seu conjunto, não deixa de revelar uma certa descrença da parte do Sr. Deputado José Magalhães, na capacidade do PCP se transformar no maior partido da esquerda em Portugal e beneficiar da moção de censura construtiva.

O Sr. Presidente: - Esse argumento é de arromba! De todos, é o mais sedutor.

O Sr. António Vitorino (PS): - Mas eu não estou a fazer um exercício de sedução.

Risos.

O Sr. Presidente: - É que fez um tal esforço de sedução do PSD que eu já estava com receio que agora passasse a aplicar os mesmos empenhes numa dança de Salomé em relação ao PCP, que, como sabe, nessa matéria, é mais difícil de seduzir...

O Sr. António Vitorino (PS): - A sedução, ou é assumida, ou, quando é subjectivamente praticada sem que se tenha consciência dela, é muito mais dramática. Eu não seduzi o PSD, limitei-me a estoirar o coração do PSD: se isso é um acto de sedução, é a chamada sedução violenta.

Mas, quanto à quarta observação, eu admito que o PS e o PCP, que são dois partidos de esquerda, que têm uma história que os faz convergir em alguns momentos e divergir em muitos outros, não tenham sobre o valor de estabilidade governativa o mesmo entendimento, a mesma leitura e o mesmo apego, sendo as próprias tácticas dos dois partidos contra os governos de direita distintas entre si, também deste ponto de vista, sobre o valor de estabilidade governativa. E é óbvio que, estando contra governos de direita, o PS entende, ao contrário do PCP, que não faz sentido, quinze dias depois da realização de um acto eleitoral, começar a exigir a dissolução da Assembleia da República porque o Governo não corresponde à vontade popular e aos interesses da democracia, táctica que o PCP tem tido e que, aliás, se tem traduzido em que cada dissolução gera governos sempre piores do que os anteriores (no próprio discurso do PCP) embora o acto de dissolução em si seja descrito como uma vitória pontual do PCP. E o PCP tem afirmado uma certa relação de exterioridade à participação no poder, na medida em que o seu discurso de poder é menos um discurso de reivindicação de participação e mais um discurso de reinvindicação de um poder de condicionamento do exercício do poder político. Isto é, o PCP não propõe uma coligação PS/PCP, por exemplo, um programa comum, como propuseram os comunistas franceses no passado, em 1978, em 1981, mas apenas diz que não é possível governar contra o PCP. Há, portanto, uma margem de diferente posicionamento face ao centro do poder, de não reivindicação da participação no centro do poder mas de reinvindicação de uma margem de condicionamento desse centro de poder, traduzida na expressão agradavelmente irónica do Sr. Deputado José Magalhães, sobretudo depois do tem que adoptou na intervenção que fez em relação ao PS, de apelar a uma cena solidariedade republicana. Só por ironia é que o Sr. Deputado José Magahães poderia, de facto, acabar a intervenção com esse cacharolete.

O Sr. Presidente: - Republicana e democrática.

O Sr. António Vitorino (PS): - Naturalmente, espero bem que sim! Nunca republicana e antidemocrática.

O Sr. Presidente: - É óbvio. Bom, poderia ser republicana e socialista, ou republicana e mais avançada do que isso.

O Sr. António Vitorino (PS): - Já nos ficamos pelos mínimos, já só republicana...

A verdade é que, independentemente da interpretação que façamos do significado histórico dessa solidariedade republicana, em França, por exemplo, constatamos que, se bem que exista hoje uma maioria do PS