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4.ª testemunha
Augusto Fuschini, natural de Lisboa, de idade quarenta annos, casado, engenheiro civil, actualmente deputado, morador na travessa de S. Mamede, n.° 76, testemunha jurada aos Santos Evangelhos; do costume disse nada. E sendo-lhe lido o interrogatorio do accusado, disse:
Que no dia 7 do corrente, no momento em que ía a sair da camara, ao passar em frente da porta que defronta com o local onde se deu o incidente, viu um grupo numeroso de deputados onde se notava uma certa agitação, e notou que se achava seguro por alguns d’elles um individuo que ao approximar-se verificou ser o sr. Henrique de Macedo, ainda na attitude de quem tenta aggredir ou desforçar-se. Que atravessou com difficuldade este grupo compacto, e suppondo que era apenas um incidente pouco importante, se dirigira ao sr. Henrique de Macedo, dizendo-lhe:
«Henrique, repare você que é um ministro», ao que elle respondeu: «Vejam que estou sereno».
Voltando-se depois ao sr. Ferreira de Almeida, a testemunha convidou-o a sair immediatamente com elle, julgando evitar por esta fórma o incidente que soube mais tarde ter-se dado.
O sr. Almeida respondeu: «Espera que eu já vou», e continuou a arrumar uns papeis- dentro da sua carteira.
A testemunha novamente instou com elle para que saísse, invocando as suas antigas relações, ao que elle replicou outra vez: «Espera, deixa me ir buscar o meu chapéu».
Então, puxando-o com um certo esforço, a testemunha obrigou-o a sair da sala e acompanhou-o até ao corredor. Em seguida tornou a entrar na sala, onde se deteve seguramente um quarto de hora, fallando com diversos dos seus collegas e nomeadamente com o sr. Francisco de Campos, que n’esse dia presidira á sessão, com o qual esteve lamentando b incidente que a esse tempo já conhecia, tendo notado que durante todo esse tempo os ministros se conservaram na sala, commentando acaloradamente, em diversos pontos da bancada ministerial, o facto que acabava de dar-se.
E mais não disse; e sendo-lhe lido o seu depoimento o achou conforme e assigna commigo e o official interrogante = Carlos Maria Pereira Vianna, primeiro tenente, interrogante = Carlos Augusto de Magalhães e Silva, primeiro tenente, secretario = Augusto Fuschini.
5.ª testemunha
João Pereira Teixeira de Vasconcellos, natural de Amarante, de idade quarenta annos, casado, proprietario e actualmente deputado, morador no Grand Hotel de Lisboa, testemunha jurada na fórma devida, do costume disse nada. E sendo-lhe lido o interrogatorio do accusado, disse:
Que estando collocado ao lado esquerdo do seu collega Ferreira de Almeida, observára, sobro o conflicto que se deu no fim da sessão da camara dos senhores deputados, de 7 do corrente, o seguinte: Tendo-se travado uma discussão sobre assumptos de administração de marinha, durante a sessão, entre o sr. deputado Ferreira de Almeida e o sr. ministro da marinha, discussão que terminou por uma phrase deste ultimo, que revelara a excitação de espirito de que se achava possuido, a sessão encerrou-se, e acto continuo p sr. Henrique de Macedo dirigiu se para o lado da carteira do sr. Ferreira de Almeida, e junto d’ella dirigiu-lhe, de um modo intimativo, a seguinte phrase: «Ferreira de Almeida, você engana-se commigo, porque não lhe tenho medo nenhum, nem aqui, nem lá fora». A estas palavras, respondeu o sr. Almeida com um tom sereno: «V. exa. está-me provocando», ao que o sr. ministro retorquiu, repetindo com a mesma iniciativa: «Repito, não lhe tenho medo nenhum, nem aqui, nem lá fóra». Então o sr. Ferreira de Almeida, vendo a insistencia na provocação, respondeu: «Pois mande-me v. exa. os seus padrinhos, que eu me entenderei com elles». A estas palavras redarguiu o sr. Henrique de Macedo, com uma palavra ou phrase, que elle, testemunha, não póde ouvir, porque já a esse tempo varios dos seus collegas se dirigiam em tumulto para o local onde estas phrases se acabavam de trocar em tom mais elevado, e que attrahíra a attenção, mas que elle suppõe ter sido grave e offensivo da dignidade do aggredido, por isso que foi interrompida por um murro arremessado pelo sr. Ferreira de Almeida e que attingiu o sr. Henrique de Macedo.
Durante este incidente viu a testemunha que os collegas do sr. Henrique de Macedo se conservavam em pé, junto da bancada ministerial, meros espectadores dó conflicto.
Ao murro do sr. Ferreira de Almeida tentou o sr. Macedo replicar com outro, tirando assim um desforço immediato, o que não póde conseguir, por isso que elle testemunha viu o seu collega Antonio de Azevedo Castello Branco interpor-se, separando os contendores. Depois disto viu que o sr. Almeida se demorou ainda na sala por alguns minutos, procurando a sua luneta e o seu chapéu, e saiu tranquilamente pelo braço do sr. Fuschini, sem que alguem lhe intimasse voz de prisão ou tentasse perseguil-o. A testemunha conservou-se ainda na sala, depois de findo o incidente, durante uns dez minutos approximadamente, sem que observasse que, por parte de alguns dos membros do gabinete, se tivesse feito alguma diligencia para a prisão do sr. Ferreira de Almeida.
E mais não disse; e sendo-lhe lido o seu depoimento o achou conforme e assigna commigo e o official interrogante. = Carlos Maria Pereira Vianna, primeiro tenente, interrogante = Carlos Augusto de Magalhães 6 Silva, primeiro tenente, secretario = João Pereira Teixeira de Vasconcellos.
Sétima sessão
Aos 21 de maio de 1887, na sala das sessões dos conselhos de guerra, em Alcantara, estando reunido o conselho, se continuou no inquerito das testemunhas de defeza, pela fórma seguinte. = Carlos Augusto de Magalhães e Silva, primeiro tenente, secretario.
6.ª testemunha
João Ferreira Franco Pinto Castello Branco, natural de Alcaide, comarca do Fundão, de idade trinta e dois annos, casado, auditor fiscal da segunda instancia, actualmente deputado, morador na calçada do marquez de Abrantes -n.° 44, testemunha jurada aos Santos Evangelhos; do costume disse nada. E sendo interrogado sobre o interrogatorio do accusado, que lhe foi lido, disse:
Que não reconhece a competencia legal do presente conselho de investigação para, perante elle, se instaurar este processo; mas não se recusou nem recusa a depor pelo unico motivo de não querer embaraçar ou demorar a instauração do processo, tal como ao governo pareceu que devia ser instaurado, prejudicando assim o seu collega Ferreira de Almeida. No dia 7 estava na camara dos senhores deputados quando entre o seu collega Ferreira de Almeida e o ex-ministro da marinha, Henrique de Macedo, se travou, uma discussão relativa a assumptos dependentes daquelle ministerio, discussão que se tornou a breve trecho bastante irritada e muito tensa, chegando o ex-ministro da marinha a interromper o sr. Ferreira de Almeida para lhe pedir que o não poupasse; que sobre esta discussão se encerrou a sessão, vendo que em acto seguido o sr. Henrique de Macedo se levantou do seu logar, dirigindo-se para o lado onde estava o sr. Ferreira de Almeida; que não ouviu as palavras trocadas entre aquelles dois senhores, porque a esse tempo estava elle testemunha conversando com o digno par do reino visconde da Silva Carvalho, ao fundo