O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

100 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 48

Luta contra o cancro

31. Embora o cancro não seja, por emquanto, uma doença da categoria das que se podem eliminar por meio da profilaxia, a sua extensão e os seus efeitos exigem a55istêneia especial. Também, como sucedeu com a tuberculose, parece terem subido no nosso Pais a morbilidade e a mortalidade por neoplasias malignas; mas tudo indica tratar-se igualmente dos efeitos de um mais correcto diagnóstico, devido à propaganda intensa com que o Instituto Português de Oncologia tem chamado para o mal a atenção do País.
Em 1940 morreram reconhecidamente de cancro e outros tumores malignos no continente e ilhas 3:533 pessoas de ambos os sexos - 1:479 homens e 2:0-59 mulheres -, o que corresponde a 0,464 por mil habitantes.
A mortalidade nos anos anteriores fora a seguinte:

Permilagem
1933............ 0,466
1934............ 0,460
1935............ 0,491
1936............ 0,482
1937............ 0,507
1938............ 0,485
1939............ 0,469

Ainda aqui os dois grandes processos a adoptar são: a profilaxia e o diagnóstico precoce.
Levantada a suspeita ou pesquisado o caso nos centros de saúde concelhios, deveria então entrar em acção o armamento próprio da luta anticancerosa:
a) Centros de diagnóstico que disponham dos elementos adequados à diagnose da doença, possivelmente junto dos hospitais distritais;
b) Centros regionais destinados a consulta e terapêutica (electrocirurgia, raios X, emanação de rádio) com enfermaria para hospitalização dos doentes pobres;
e) Um hospital central em Lisboa para doentes em tratamento, reputados curáveis;
d) Um asilo para cancerosos incuráveis e impossibilitados de trabalhar.
Todo este armamento está previsto e em via de obter-se e de funcionar pela execução sistemática do plano do Instituto Português de Oncologia 1.

As doenças do coração

32. Também a proposta não faz referência às doenças do coração, que, todavia, constituem hoje em todos os países, incluindo o nosso, um dos grandes problemas médico-sociais.
Ainda aqui a mortalidade nos dará idea da gravidade do mal.

[ver tabela na imagem]

Já esta tabela nos mostra que as cardiopatias matam mais gente em Portugal que todas as formas juntas de tuberculose!
Mas há ainda a acrescentar que, além da esta que lhe cabe nos óbitos por causas não especificadas ou mal definidas e por senilidade, são imputáveis ao coração muitos dos óbitos registados como causados por "outras doenças do aparelho circulatório" e por "hemorragia cerebral", esta na maioria das vezes devida a causa esclerósica ou hipertensiva (Prof. João Porto, Assistência médico-social aos cardíacos em Portugal, p. 12.
Para se poder ajuizar do que representam estas doenças ou acidentes no obituário português basta ver os seguintes números dos óbitos:

[ver tabela na imagem]

Olhando as estatísticas etárias, parece, à primeira vista, que se trata de doenças de velhos, que matam por cansaço ou desgaste naturais do organismo. Mas não é assim. Matam tarde e inutilizam cedo: têm por isso enorme significado social, porque tornam inúteis ou muito menos valiosos - senão onerosos - à colectividade durante bastantes anos indivíduos que de outra forma seriam francamente produtivos.
E não poupam a infância e a juventude. Por pouco que se saiba ainda a este respeito no nosso País, basta este dado para avaliar da gravidade do mal: metade dos jovens que o Centro de Medicina Desportiva da Mocidade Portuguesa proibiu de exercer desporto foi rejeitada devido a causas cardíacas, e destas a maior parta eram cardiopatias.
Tratava-se de candidatos voluntários a actividades desportivas, de indivíduos activos, portanto, e que se julgavam em boas condições de força e de saúde.
É preciso por conseguinte assistir os cardíacos.
Primeiro, profilàticamente, atacando as suas fontes, entre as quais o reumatismo, a sífilis e a arteriosclerose, para o que, infelizmente, tirante o esse venéreo, há por ora bem poucos meios eficazes.
Depois pesquisando, tratando, ou facultando o tratamento, e orientando profissionalmente o cardíaco.

Doenças e anomalias mentais

33. A fazer fé pelo censo da população de 1930, deveríamos aceitar que havia no continente e ilhas adjacentes 7:800 loucos, o que daria para uma população de, números redondos, 7.000:000 a permilagem de 1,12 1.
Estes números devem, porém, compreender apenas os casos mais evidentes que os agentes do recenseamento conhecem como de alienação e não podem por forma alguma ter-se por correspondentes à realidade, visto serem consideravelmente inferiores à média dos países europeus que possuem estabelecimentos com lotação bastante para recolher todos os loucos e sabem, por consequência, com rigor a totalidade dos seus doentes. Além disso não há razão para crer que os factores naturais e soeiais, cuja acção convergente condiciona a loucura e entre os quais predomina a hereditariedade,
_____________

1 Prof. Francisco Gentil, O Instituto Português para o Estudo do Canero, 1928; O Instituto Português de Oncologia. O passado, o presente e o futuro, 1988; "A luta contra o canero em Portugal", in Boletim do Instituto Português de Oncologia, vol. IV, 1937, p. 2.
2 O censo do distrito de Aveiro de 1940 (único até agora publicado) indica, porém, nesse distrito 812 alienados para uma população presente de 429:870 habitantes, ou seja 1,8 por mil.