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98 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 48

iriam de sezões, com mais de 1s anos de idade. E nota-se:
Aplicando ao caso português os cálculos internacionalmente estabelecidos, um indivíduo atacado de sezões deve perder, por motivo dessa doença, uma média de 18 dias de trabalho em cada ano.
Para simplificação dos cálculos, admitimos que cada indivíduo só perdesse, nestes 10 anos de luta, os dias correspondentes a um ano. Teríamos, pois, um total de 1.718:100 dias de trabalho que seria perdido.
Numa média, baixa, de 5$ diários, daria um total de 8:590.000$ de salários perdidos.
A despesa com a luta nestes 10 anos importou em 5.495:313$90.
Comparando somente estas cifras, de numerário despendido na luta e de salários que têm sido recuperados nestes anos de luta em virtude do tratamento estabelecido, e deixando de lado tantos outros factores, quer de ordem financeira quer de ordem moral, pode-se avaliar o lucro obtido para a economia nacional (Dr. F. Landeiro, Sezonismo, cit., p. 30).

Luta contra as doenças infecciosas

29. As doenças infecciosas endémicas são ainda um problema grave para a saúde pública portuguesa. Vimos já o que o perigo infeccioso representa na nossa mortalidade infantil; mas aos próprios adultos causa dano, que se traduz em graves prejuízos económicos, morais e orgânicos.
Para não alargar demasiadamente este parecer, far-se-á apenas breve referência à febre tifóide, sarampo, varíola e difteria. Não quere isto dizer que se negue importância às restantes, mas o objectivo deste estudo é somente o de dar balanço às necessidades públicas de assistência social, e por isso a menção das enunciadas bastará para pôr em relevo os aspectos do problema neste capítulo.

a) Febre tifóide. - Como é doença de declaração obrigatória, faz-se idea do número de casos em cada ano, número que não é rigoroso em virtude da falta de assistência médica em muitas regiões rurais e da omissão da participação em bastantes casos.
Segundo o Sr. Dr. Fernando Correia (Portugal Sanitário, p. 199), de 1928 a 1934 deram-se no continente, espalhados por todo o País, 19:156 casos, dos quais foram mortais 2:443, ou seja uma taxa de letalidade (número de óbitos por 100 doentes) de 12,7.
A média de doentes declarados por ano foi de 2:730; a dos óbitos 342.
Se considerarmos agora a mortalidade (número de óbitos por 1:000 habitantes), verificamos o seguinte:

1902 a 1910 (média). 0,166
1932 ............... 0,148
1933 ............... 0,165
1934 ............... 0,145
193s ............... 0,148
1936 ............... 0,160
1937 ............... 0,178
1938 ............... 0,157
1939 ............... 0,158
1940 ............... 0,204

O que há de grave nesta estatística (não é só a confirmação da endemia: é a verificação de que as febres tifóides e paratifóides não só não cederam durante todo o longo período que vem desde o princípio do século, como até parecem crescer, apesar do grande número de obras de saneamento e de águas que foram empreendidas nos últimos anos.
Ou essas obras não foram capazmente feitas, ou depois de feitas não têm sido vigiadas, ou as fontes de infecção são outras (moscas, mariscos, hortaliças adubadas com excrementos, contágio directo de doentes com sãos, etc.).
De qualquer modo, tem de se olhar para o problema com atenção redobrada. Pense-se que um adulto curado perde, pelo menos, um mês de trabalho; e que a maior mortalidade nesta doença se dá entre os 10 e os 30 anos, e fica visto o valor social da luta.
Uma campanha de extermínio das moscas, de proscrição de certos processos de adobação de hortaliças1, de vigilância contínua das águas, de substituição dos poços e fontes de chafurdo e de propaganda de hábitos elementares de higiene, torna-se absolutamente necessária. O problema da vacinação antitífica carece também de ser examinado com atenção.

b) Sarampo. - Faz-se referência especial ao sarampo porque, em virtude da sua difusão e aparente benignidade, há tendência para o desprezar. Como escrevem os Srs. Prof. Castro Freire e Dr. José Cutileiro (Profilaxia do sarampo, separata de Amatus Lusitanus, n.º 3, 1942): "Para o público leigo e a quási totalidade dos médicos, o sarampo é uma doença sem importância que todos sofrem em criança sem que daí tenha resultado mal evidente. Não pensam assim os pediatras e os higienistas: os primeiros sabem, pela experiência clínica, quantos dos seus pequenos doentes sucumbem a este morbo; os segundos vêem, pela estatística, a importante colaboração do sarampo na mortalidade infantil. Para o clínico geral a0 difteria, por exemplo, é de muito mais importância do que o sarampo. E, todavia, a estatística demonstra que nu ma cidade como Lisboa, apesar de grande parte da sua população infantil não estar vacinada contra a difteria, o número das vítimas desta doença é consideravelmente menor do que o das mortes por sarampo...".
Vejamos então o número de mortes por sarampo em todas as idades e a respectiva taxa de mortalidade:

[ver tabela na imagem]

Trata-se de uma doença que vitima sobretudo na infância e contra a, qual o único meio eficaz de combate parece estar na imunização das crianças, que, por isso, cumpre alentar entre nós.

c) Varíola. - Foi em 1796 que, sob a inspecção do grande intendente Pina Manique ("o ditador sanitá-
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1 Um professor de direito administrativo, referindo-se em aula prática à oposição que por vezes os interesses locais fazem à adopção de medidas de polícia sanitária indispensáveis, deu o exemplo de um concelho onde não fora possível impor uma postura que proibia adubar as hortaliças com os esgotos da vila - muito procurados pelos munícipes para esse efeito. Pois no fim da aula um segundanista de direito procurou o professor para lhe dizer que tal sistema de adobação era óptimo e não via motivo para o proibir! Veja-se quanto há a fazer no capítulo de educação sanitária!