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25 DE FEVEREIRO DE 1944 99

rio", no dizer do Prof. Dr. Silva Carvalho), fie criou em Lisboa um "hospital para variolização das crianças", onde, para estreia, foram imunizados, à frente de todas, os alunos da Casa Pia.
De então para cá intensificou-se cada vez mais a profilaxia da varíola pela vacinação, legislando-se em termos de a tornar efectivamente obrigatória. Mas, apesar disso, o flagelo das "bexigas" não desapareceu de Portugal.
Vejamos os números:

[ver tabela na imagem]

O Dr. Fernando Correia (ob. cit., p. 214) calcula em 9 por cento dos casos verificados as mortes por esta doença. Teríamos, assim no ano de 1940, que foi o mais favorável de todos, à roda de 1:000 casos; no ano de 1939 à roda de 3:000 casos!
Computa o mesmo autor em 21,5 por cento os cegos que perderam a vista em Portugal devido à varíola.
A vacinação está generalizada, é gratuita, a todos acessível. Que falta? Penetração dos agentes sanitários nas camadas populares; educação das massas rurais.
É a grande lição a tirar neste caso: a de que sem educação sanitária do povo todas as medidas coercivas são insuficientes.
Repare-se que em muitos países europeus a varíola desapareceu das estatísticas obituárias. Na Alemanha não houve, nenhum caso em 1934 e 1936 e verificou-se um único em 1935; na Inglaterra houve 1 caso em 1935 e 12 em 1936, sem mortes; na Itália em 1936 deixou de haver óbitos por esta causa; na Polónia e na Roménia estava a doença nesses anos já praticamente extinta (S.- D, N., Org. de Higiene, Rapport Épidémiulogique referente a 1936, Genève, 1938).

d) Difteria. - Quanto à difteria:

[ver tabela na imagem]

Entre 1928 e 1934 o número de casos participados foi, em média, de 2:324 por ano e a letalidade da doença de 13,8 por cento, correspondente a uma média de 320 casos também participados à Direeção Geral de Saúde.
Significa isto que a 700 óbitos registados na estatística correspondem, com uma letalidade de 14 por cento, 5:000 casos de difteria. E é à volta desses números que temos andado, portanto, até 1940.
Pelo seu número e alta letalidade, parece que se deve fazer pela imunização vacínica o extermínio da endemia.

Luta contra a lepra

30. Quantos leprosos existem em Portugal? Não o sabemos.
Um inquérito de que o Sr. Dr. Fernando Correia dá notícia (ob. cit., p. 250) apurou a existência de 1:124 no continente, pertencendo a maior densidade ao distrito de Coimbra. Não se sabe em que condições teria sido feito esse inquérito, mas naturalmente seguiu-se o deficiente processo habitual (questionário aos regedores) . Por isso não devem estar muito longe da verdade os cálculos dos Srs. Prof. Rocha Brito "Quadrado estratégico de defesa contra a lepra", no Portugal Médico, 1933, p. 109) e Dr. Fernando Correia (ob. cit., p. 2s1), que condizem quanto ao número de 3:000.
Tivemos outrora uma assistência modelar aos leprosos, com a prática da única profilaxia e da única terapêutica que então se conhecia: o isolamento (Dr. Silva Carvalho, História da lepra em Portugal, 1932, passim). O flagelo decresceu e as cautelas desapareceram. Bastou porém a persistência de alguns focos familiares de infecção e a importação da doença do Brasil, da África e de outros países não europeus, por via de emigrantes de torna-viagem, para o mal reaparecer.
Tem-se reclamado insistentemente a atenção dos poderes públicos para este problema, e, de facto, o decreto n.º 29:122, de 15 de Novembro de 1938, criou e mandou construir a Leprosaria Nacional Rovisco Pais, como princípio da intensificação da luta antileprosa.
O armamento para essa luta tem de consistir no seguinte:
a) Os dispensários dermatológicos nas regiões onde haja numerosos focos de infecção. Ainda aqui o diagnóstico precoce permite o tratamento dos doentes na fase ainda não infectante, mantendo-os no seu meio social com grande probabilidade de cura clínica. Quanto aos que já estejam na fase infectante e aos casos inutilizados, o dispensário descobre-os, regista-os e encaminha-os para os estabelecimentos próprios.
b) A leprosaria ou gafaria destina-se ao isolamento dos doentes infectantes e inutilizados. Deve compreender hospital para tratamento e internamento dos doentes, colónia agrícola constituída por casais para as famílias de leprosos infectantes, mas aptos a trabalhar, e asilo para os mutilados e inválidos.
c) Há que prever casas de saúde para leprosos com capacidade económica para pagar o seu internamento.
d) A profilaxia da lepra exige a existência de creches e preventórios para os filhos dos leprosos, sem o que as crianças estão sujeitas grandemente ao perigo da contaminação.
e) Emfim, impõe-se a propaganda da profilaxia da lepra entre o povo para vencer "a absoluta indiferença com que convive com os gafos, achando muito natural que vendam e preparem géneros alimentícios, sirvam nas casas e nas fábricas, frequentem as romarias, transitem sem ^nenhum isolamento nos navios, comboios e outros meios de transporte. Igualmente o vulgo não pensa sequer no perigo de se servir dos utensílios, louça, copos, vestuário, etc., que são empregados pelos gafos" (Dr. Silva Carvalho, ob. cit., p. 210) - propaganda acompanhada das necessárias providências legais.
f) O Instituto Nacional de Leprologia deve ser o centro de investigação e ensino da luta contra a lepra, preparando o pessoal necessário1.
Não se refere a proposta especialmente à lepra: há que tomar em conta esta modalidade de assistência.
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1 Merece leitura a conferência do Sr. Dr. Uriul Salvador intitulada "Elementos o sugestões para a organização do plano do combate à lepra em Portugal" in Conferências da Liga Portuguesa de Profilaxia Social, 3.ª série, 1936. Veja-se também do Sr. Prof. Rocha Brito, além do estudo citado, a História da Gafaria de Coimbra.