O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

25 DE FEVEREIRO DE 1944 81

mais altos principiais e interêsses, não simplesmente na esfera das- abstracções, mas na cias realidades concretas.

Com efeito, não será ousado augurar que de tal sorte a língua portuguesa, falada por cerca de 60 milhões de pessoais em todos os confins do mundo, que, durante séculos, como provou o saudoso Mestre David Lopes em obra por todos os títulos notável, foi a língua do trato entre europeus è os naturais dos diferentes países e até dos mesmos quando falavam diferentes línguas e ainda hoje sobrevive na forma das vários crioulos: os de Ceilão, Malaca, Tugu e outros 4, venha a tornar-se agente dos mais eficazes no renôvo da latinidade, portador dos sentimentos, virtudes e energias que sempre distinguiram no decurso dos tempos a nobre raça lusa, a que igualmente pertencem brasileiros e portugueses, unidos por abençoados laços, pelos indissolúveis nexos da religião...do sangue e da língua.

Poucas línguas, observa o imortal sonetista das
Pombas, Raimundo Correia, têm hoje uma geografia tam dilatada como a portuguesa língua 3.

Não viceja ela, além Atlântico, sob o sol radioso dos trópicos, pela acção mágica de uma natureza exuberante em florações das mais encantadoras e opulentas de que se pode ufanar?
Com verdade, poderia dizer em seu verbo aurifulgente o académico Salvador de Mendonça, poeta e prosador de assinalados méritos: «se já não somos o Reino Unido de Portugal e do Brasil, podemos considerar-nos ainda a República Unida das Letras Portuguesas)» 6.
Conceito semelhante expressa o ilustre Deputado Sr. Dr. Manuel Múrias, ao escrever: «o Brasil constituo connosco o que poderíamos chamar o Império da Língua Portuguesa - o Império da Cultura Luso-Brasileira, espalhado pelas duas margens e pelo coração do Atlântico e alargando-se pelo Oriente através de Goa, Moçambique e Macau».
Pois se a simples notícia do entendimento académico do 1931, conforme escreveu o antigo secretário da Junta de Educação Nacional, Prof. Simões Raposo, fortaleceu de modo muito sensível o valor das instâncias desse organismo, empenhado na criação dos leitorados da língua portuguesa nos grandes centros universitários!
Unificada agora a língua em bases mais eficientes, é de esperar que se intensifique de maneira persistente e frutuosa a propaganda séria da cultura luso-brasileira hoje mais do que nunca, por motivos fáceis de apreender, alvo da curiosidade e estudo dos países estrangeiros.

Nunca será demais salientar que o Acôrdo, em boa hora celebrado, corresponde ao sentimento nacional de ambos os países.
É grato reconhecer que os espíritos mais nobres da Nação brasileira nunca renegaram; souberam sempre ostentar com ufania os pergaminhos da velha estirpe, enaltecer a força tradicional luso-brasileira, que encerra dentro do maciço do Brasil, a herdeiro da espiritualidade latina no mundo americano, como se exprime o romancista imortal do Canaan, uma nação uniforme pela língua e pelo espírito».
Já em 20 de Julho de 1897, na sessão de abertura da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Nabuco, seu secretário geral, conquanto houvesse por utopia a tentativa de uma unidade literária com Portugal, era de parecer que se deveria caminhar paru a uniformidade da língua escrita:

... A língua é um instrumento de ideas que pode e deve ter uma fixidez relativa; neste ponto tudo precisamos empenhar para secundar o esforço e acompanhar os trabalhos dos que se consagrarem em Portugal à pureza do nosso idioma, a conservai-as formas genuínas, características, lapidarias, da sua, grande época. ... Nesse sentido nunca virá o dia em que Herculano, Garrett e os seus sucessores deixem de ter toda a vassalagem brasileira. A língua há-de ficar perpetuamente pro-indiviso entre nós; a literatura, essa, tem de seguir lentamente a evolução diversa dos dois países, dos dois hemisférios.

E na sessão de encerramento da jovem instituição, em 7 de Dezembro de 1907, o seu primeiro presidente, Machado de Assis, formulava como escopo da Academia o conhecimento e a guarda da língua:

Caber-lhe-á defendê-la daquilo que não venha de fontes legítimas - o povo e os escritores -, não confundindo a moda que perece com o moderno que vivifica ... Guardar não é impor ... E depois para guardar unia língua é preciso que se guarde também a si mesma, e o melhor dos. processos é ainda a composição e a conservação de obras clássicas. A autoridade dos mortos não aflige e é definitiva. Garrett pôs na boca de Camões aquela célebre exortação em que transfere ao a generoso Amazonas» o legado do casal paterno. Sejamos um braço do Amazonas; guardemos em águas tranquilas e sadias o que ele acarretar na marcha do tempo.

Aos portugueses devemos, afirma Elísio de Carvalho, em palavras repassadas de unção lusíada, a grandeza da terra unida e identificada pelo sangue
e pelo espírito da pátria e a opulência da nacionalidade. Tendo conquistado esta porção oriental da América, e só à custa de esforço, coragem e tenacidade, perseverança e trabalho constante, êles nos legaram, após três séculos de sacrifícios, um Brasil grande, forte, íntegro e próspero. ... Com o sangue generoso eles nos transmitiram todas as qualidades primaciais da gloriosa estirpe que deu Nun'Alvares, o Infante Henrique, Camões e Vieira. ... E preciso que voltemos a nossa consciência para a história e que façamos justiça aos nossos avós, àqueles de quem herdámos todos os. impulsos e todos os predicados que nos tornaram aptos para realizar na América esta grande obra de renovação latina 7.

Não resisto à tentação de reproduzir este belo trecho, em que Olavo Bilac defende em transporte de excelso poeta a colaboração entre Portugal e o Brasil:

Daqui a cem anos, cem milhões de brasileiros abençoarão o nosso esforço e cada um desses brasileiros dirá à Pátria, como hoje eu digo, a oração fervorosa do seu amor e da sua fé articulada na suave e poderosa língua portuguesa 8.

4 A expansão da língua, portuguesa no Oriente nos séculos XVI, XVII e XVIII, Barcelos, 1936, p. 26.
5 Citado por Agostinho de Campos, Lisboa, Aillaud e Berírand, Paladinos da, linguagem, 2.° vol., p. 218.
6 Citado por Agostinho do Campos no discurso proferido em sessão da classe de letras da Academia das Ciências de Lisboa em 12 de Junho de 1941.
7 Os Bastiões da Nacionalidade, pp. 79-80.
8 Citado por Almáquio Diniz, Perpétua Metrópole, Portugal-Brasil, p. 14.