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25 DE FEVEREIRO DE 1944 89

dicionando-se a admissão à inexistência de doenças contagiosas e a outras condições médicas e sociais reveladas em prévio exame e por inquérito familiar, devendo também existir nela a escola maternal num ambiente de jardim de infância.
d) O problema da tuberculose infantil é, como se viu, gravíssimo. A mortalidade registada está muito longe de dar idea do número de infecções contraídas nesta idade - casos de adenopatia, que nas classes menos cultas são descurados, ficando as lesões latentes até ao dia, por vezes muito mais tarde, em que entram em franca evolução. Ora importa não só curar estas adenopatias, como evitar que as crianças sãs sejam contagiadas pela convivência com doentes portadores de lesões tuberculosas. Para isso impõe-se arrancar as crianças aos meios familiares infectados e proporcionar às atingidas os meios de cura. Para as crianças pobres que vivam entre tuberculosos a solução é, ou enviá-las para o campo, onde serão entregues a pessoas de família ou a famílias estranhas, mediante subsídio do Estado, ficando sob vigilância médica (sistema de Grancher) ou reüni-las em colónias permanentes de altitude, de campo ou marítimas, onde tenham ar livre, alimentação abundante e boa higiene. As crianças locadas já pela infecção, ma» por forma benigna, devem ser reunidas em colónias-preventórios. Emfim, há as crianças com predisposição tuberculosa, especialmente por sub-alimentação e má habitação, para as quais está aconselhada permanência periódica em colónia, de férias, mesmo em regime de acampamento, na serra, na planície ou à beira-mar: os resultados colhidos nestas colónias revelam bem (tam consideráveis são - em curtos prazos, quanto ao aumento de peso e de estatura, por exemplo) o estado de carência da maioria das crianças do povo, estado que as impede de um desenvolvimento físico normal.

Infância escolar

14. Aos 7 anos chega no nosso País o momento da obrigação escolar - nem sempre, infelizmente, cumprida. Começa então um novo período infantil, que vai até à adolescência e cujos problemas gerais são sensivelmente os mesmos da infância pre-escolar. embora o perigo das doenças deminua à medida que passam os anos (salvo quanto à tuberculoso), e já não surja a necessidade das creches e jardins de infância.
É a escola, que agora retém durante grande parte do dia os rapazes e raparigas. A escola (ou o posto de ensino), que não deveria ser mero local de ministração de ensino literário elementar, mas uma activa oficina de educação. A escola, cujo professor não pode ser mero funcionário encarregado da transmissão dos primeiro os dados do saber, mas onde devia estar um modelador de almas para esse efeito devidamente apetrechado.
Assim, à escola, em colaboração íntima com a família, caberia vigiar física e moralmente os alunos. O professor carece de sólida preparação higiénica e profilática para, por outro lado, ser eficaz auxiliar do médico escolar. E nas escolas primárias é indispensável a assistência médica para prevenir os contágios tam fáceis em aglomerações de crianças e notar e corrigir os defeitos físicos e psíquicos resultantes de um crescimento ao desamparo1.
Outro problema que aqui surge de novo e o da alimentação. Quantas crianças não chegam à escola primária mal vestidas e deficientemente alimentadas - sem maneira de se abafar, aquecer e secar o sem grandes possibilidades de comer melhor pelo dia fora! A cantina escolar é uma instituição cuja generalização em Portugal produziria os mais imprevistos resultados - tam curto é que muitos dos males e das interioridades da nossa gente vêm da deficiência, de sustento e dos maus hábitos alimentares. Dar de comer e ensinar a comer as crianças pobres nas escolas seria- uma obra de misericórdia de projecção nacional.
Vejam-se os números tirados das tabelas comparativas publicadas pelo Dr. Mário Monteiro Pereira no seu livro Crianças escolares, p. 90:

[ver tabela na imagem]

E o citado autor comenta: «Embora a número do observações das crianças portuguesas, quer das crianças de A Voz do Operário, quer das da escola provinciana, seja relativamente pequeno para se poder determinar uma média muito exacta, revelam em todo o caso certas diferenças evidentes. Assim, no que diz respeito à altura, nós vemos que as crianças alemãs, francesas e portuguesas de A Voz do Operário se equivalem no seu conjunto, emquanto as crianças portuguesas da província estão em inferioridade nítida, tendo menos 2, 3 e 4 centímetros. E esta diferença que entre dois indivíduos é pequena, é importante entre duas médias, isto é, entre dois conjuntos de indivíduos».

1 Em 850 alunos das escolas primárias de Castelo Branco notou o Dr. José Lopes Dias, no sexo feminino e masculino respectivamente :
51,5 e 58,6 por cento de linfáticos;
34,8 o 84.3 por cento do defeituosos funcionais da coluna vertebral e do esqueleto;
34,3 e 43 por cento de doentes de cárie dentária, além de consideráveis percentagens de deficientes visuais e doentes dos ouvidos, nariz e garganta. (Palestras de formação técnica às visitadoras escolares, 1941. p. 13).
Um inquérito feito pelo mesmo médico a 16:033 alunos de escolas primárias no distrito de Castelo Branco revelou que:
3:941 andavam mal agasalhados;
3:394 eram insuficientemente alimentados;
839 careciam de interjeições operatórias do nariz e da garganta;
512 eram atardados mentais;
119 eram fatigados por trabalhos rurais precoces e improprios da sua idade;
140 eram excitados, na maior parte, por causa do alcoolismo paterno. (Ob. cit., p. 26).