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11 DE FEVERElRO DE 1941 192-(97)

APÊNDICE

ECONOMIAS NACIONAIS

1. Sejam quais forem os vencedores da guerra actual, um ponto há que parece não oferecer dúvidas: serão sensivelmente diferentes das de hoje as bases em que assentará a vida económica e política do futuro.
A economia mundial já fora muito abalada pelo conflito de 1914-1918. As descobertas científicas e os aperfeiçoamentos tecnológicos que dele resultaram, acompanhados de vastas operações financeiras derivadas do próprio custo da guerra, tiveram como consequência alterações de ordem industrial e agrícola dentro dos países europeus, americanos e asiáticos ; e a transferência de largos tratos de territórios de um para outro país e a formação de novas nacionalidades levaram a modificações importantes na própria estrutura económica de extensas regiões da Europa central e oriental o mesmo de zonas de outros continentes.
O conflito de agora foi gerado em grande parte pelo mal-estar económico que se seguiu à Grande Guerra e que resultou directamente da aparição de factores complexos, alguns inesperados, que os homens não souberam compreender.
Nem doutro modo se explica a grande discrepância entre organismos produtores que podem assegurar enorme capacidade de abastecimentos de toda a ordem, e a miséria e carência de artigos de primeira necessidade sofridas por grande percentagem da população de todos os continentes. Uma Europa empobrecida e em ruínas, mentalmente anarquizada por ideas teóricas e insusceptíveis de serem apreendidas pela inteligência humana, terá de resolver problemas de vasta complexidade. Entre todos sobressairá com certeza o que tem em conta o aproveitamento e a distribuição dos recursos que constituem a base da vida material dos povos. E por a ele estar ligada, ou dele ser parte integrante, a actividade financeira sofrerá naturalmente modificações consideráveis.
Convém, por isso mesmo, estudar com certa minúcia algumas das causas que mais poderão influir de futuro na vida económica do País, principalmente na parte relativa à produção.
Entre o que mais afecta a actividade económica salienta-se a origem e o quantitativo dos capitais indispensáveis à evolução dos instrumentos fomentadores, porque da sua melhoria ou do seu retrocesso depende o equilíbrio da vida política e social do próprio País.
Uma das alavancas, talvez a mais poderosa, em que se firmou a resistência oposta pelo povo português a sucessivas administrações financeiras mal orientadas e a lutas políticas que obscureceram a mentalidade nacional durante algumas décadas, consistiu exactamente nos hábitos de parcimónia e sobriedade que o caracterizam. Apesar de atrasadas condições de vida agrícola, e não obstante a falia de auxílio ou de inspiração técnica competente, foi possível acumular reservas financeiras, infelizmente invertidas, algumas vezes, em desastrosas aventuras externas.
Nem o Estado nem a finança particular souberam dirigir para empresas progressivas e de utilidade geral o produto, relativamente vasto, da parcimoniosa administração e trabalho, no País, no ultramar, ou em terras estranhas, de elevada percentagem de população portuguesa, sobretudo da do centro e do norte. E as consequências mais claras de imprevidentes métodos d o organização agrícola e industrial foram a desconfiança, muitas vezes fundamentada em ineficiências administrativas, e o alheamento por parte do público das suas actividades. Um dos obstáculos encontrados pelo Estado Novo na exploração das riquezas potenciais do Império, no continente e no ultramar, deve também filiar-se na irresponsabilidade que gozam os que, aplicando fundos alheios, não sabem valorizá-los convenientemente, por virtude de erros ou de outras razões.
Tudo o que acaba de se escrever explica até certo ponto a importância das economias particulares -da poupança nacional- e mostra o cuidado que deve merecer um problema de tam profunda e vasta influência nu vida material do País.

O período que se seguirá à guerra actual virá a caracterizar-se por dura concorrência no comércio e na indústria. O poder da pequena burguesia, do funcionalismo público e particular de salários mais modestos e o peso das classes trabalhadoras, fortemente organizadas em quási todos os países, hão-de exercer notável acção na vida dos povos. Da sua interferência no mundo da formação de capitais resultará por certo o grau de progresso ou mesmo a transformação política das sociedades - modernas.

2. Os capitais a inverter em novos empreendimentos criam-se na poupança; representam, em última análise, o que não foi utilizado no consumo normal. São, ou foram durante largos anos, o supérfluo quo não era despendido por serem demasiadamente grandes os rendimentos ou por virtude do natural instinto do homem, que obriga à constituição de reservas para o futuro. Durante muito tempo, pelo menos desde a revolução industrial, para não falar já em épocas anteriores ao século passado, a maior proporção da poupança provinha, como era lógico esperar, de entidades usufruindo rendimentos elevados. Pessoas com proventos superiores a determinadas quantias não os podiam totalmente consumir e o que sobrava constituía parcela a ajuntar a tantas outras utilizadas no progresso económico. Veio isto assim até a Grande Guerra porque era estável a vida, menos dissipadores os costumes e mais moderados os desejos. Aquele acontecimento obrigou, porém, a fundas alterações na vida dos povos e uma