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192-(98)- DIÁRIO DAS SESSÕES- Nº99

delas consistiu exactamente na diminuição apreciável dos rendimentos individuais, por virtude de maior concorrência, de mais forte percentagem do imposto, ou ainda em resultado de causas diversas que se seguiram a perdas consideráveis nas moedas, nos câmbios e nas dívidas. Com a diminuição dos rendimentos líquidos de indivíduos de grande fortuna veio naturalmente decréscimo perceptível na acumulação de capital deles provenientes, e como o progresso económico no regime de economia privada resulta da aplicação de capitais que antes tinham origem na poupança, houve necessidade de racionalizar a indústria e a agricultura no sentido de obter a máxima produção com o mínimo de capital invertido, o que de resto também era consequência do próprio progresso das ciências aplicadas.
Esta gradual diminuição na percentagem de dinheiro poupado anualmente concorre para explicar muitos fenómenos de ordem política na Europa da segunda e terceira décadas do século XX e pode, com facilidade, verificar-se nas cifras há pouco tempo publicadas relativas à Grã-Bretanha:

[Ver Tabela na Imagem]

Os números, em sua simplicidade, exprimem factores diversos, uns de ordem económica, e política e outros de ordem moral. Todos caracterizam bem o período após guerra. Em primeiro lugar nota-se grande acréscimo nos rendimentos. Quási duplicaram entre 1911 e 1924. Em seguida a crise de 1929 diminuiu-os de cerca de um quarto. Passaram de 4:165 em 1924 para pouco mais de 3:000 milhões em 1930. Mas nem houve idêntico aumento na poupança entre 1911 e 1924, nem sequer rendimentos de 3:500 milhões de libras em 1931 produziram melhoria da percentagem da poupança quando comparada com a de 1911. Ganhou-se alguma cousa, mas consumiu-se muito mais. A sociedade adquiriu em vinte anos hábitos de conforto e bem-estar que reduziram em muito os rendimentos e o supérfluo - e este era exactamente o que se destinava ao próprio progresso económico. Nem tudo, porém, foi gasto em proveito pessoal, porque o exame das cifras mostra logo ter sido consumida parte importante no aumento do imposto - e essa também pode representar melhorias de ordem social.
Os números são estes, se se tiverem em couta os índices de preços:

[Ver Tabela na Imagem ]

Para rendimentos idênticos, que deviam contudo ser muito maiores em 1924, deminuíu apreciavelmente o poupado, quási dobraram os impostos e manteve-se o que foi gasto. Os impostos vieram metade do poupado e metade do consumido.
A queda da percentagem da poupança, se se alargar o raciocínio a outros países europeus, há-de certamente reflectir-se em menor progresso económico, se se continuar a ter em conta, para esse efeito, apenas o livre jogo da oferta e da procura e a iniciativa particular. O nosso continente tornar-se-á tributário de outros mais afortunados, pagando com intensificação de trabalho o que não produzir com o progresso económico. Para que este não afrouxe, outras influências resultantes de melhor organização política e económica terão de ser tomadas em conta.
E este o dilema que ressalta dos números relativas a um dos países mais fortemente capitalizados do mundo. E ele constitue problema angustioso para as sociedades futuras se se mantiver o actual regime capitalista com características iguais, semelhantes ou levemente atenuadas que fizeram época no passado. Do aumento do imposto; de hábitos de conforto material mais entranhadamente vincados nas populações; da desagregação e gradual decadência da alta burguesia, que por si só dispôs durante muitos anos da maior parte dos rendimentos a inverter, resultou deminuição considerável na poupança em país credor de grande influencia na vida económica mundial.

3. Terá o fenómeno idêntica importância em outros países europeus?
Não é fácil responder com o mesmo rigor; pelo menos a respeito da maioria deles. Influências de ordem puramente política, como a concentração de armamentos, e divergência de grande acuidade na sua vida interna -que a perturbaram ou anarquizaram em muitos dos seus aspectos económicos -, impedem conclusões definitivas. Há, porém, dois factores a indicar sérios indícios de que cousa semelhante aconteceu em muitos países. O primeiro refere-se a maiores gastos individuais das populações, nos cidades e nos campos, e o segundo já foi apontado atrás e está relacionado com a percentagem, cada vez maior, do imposto sobre os rendimentos de cada um.
A não ser que a produção nacional melhore bastante, tornar-se-á impossível manter no futuro, em percentagens parecidas com as do passado, o caudal de poupança indispensável ao progresso económico. Isso só parece provável se os sistemas políticos e económicos que orientaram a Europa antes da guerra sofrerem sensíveis modificações.
Se assim for, elas terão como lógica directriz o avigoramento e a influência do próprio Estado na vida económica. Do esforço coordenador que evite o desperdício de capitais em empresas concorrentes, tanto na indústria manufactureira como nos transportes e na agricultura; da execução de obras que no passado eram consideradas anestér exclusivo da iniciativa particular; do aproveitamento inteligente e cuidadoso dos recursos do erário público e de outras actividades podem derivar os elementos precisos para suprir as faltas da poupança, estiolada, que tende a ser cada vez mais reduzida. '

4. Não é fácil estender a análise do fenómeno a Portugal, sobretudo por faltarem elementos seguros relativos à produção e seu rendimento líquido.
A acrescentar a esta dificuldade, o tipo da empresa produtora do País, sobretudo na agricultura, não per-