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23 DE FEVEREIRO DE 1942 259

título de orgulho, e porque não está de momento entre nós, em exercício de mandato, outro oficial da armada que melhor do que eu (Não apoiados) aqui poderia representar a marinha, focar a personalidade do herói que se consagra e trazer-lhe as saudações dos seus camaradas, seja dada a oportunidade, ao mesmo tempo dever e honra, de subir à tribuna nesta sessão de homenagem e consagração à grande figura de português e de marinheiro que é João de Azevedo Coutinho.

Sr. Presidente: há mais de trinta e seis anos, por volta de 1905, era Lord Selborne alto comissário de Sua Majestade Britânica na África do Sul.

Sir Arthur Ruly, governador do Natal.

O domínio inglês, mal ferido ainda da luta prolongada que houve de sustentar contra os boers, nessa guerra que custou à Grã-Bretanha, em pesados sacrifícios, de vidas, a fina flor dos seus exércitos, debatia-se agora com sangrenta sublevação de cafres zulos do Natal, assumindo a contenda gravidade e proporções que chegaram à tornar-se I II quieta II tes.

A revolta, afinal, foi dominada.

Não eram então passados três anos depois que o Transvaal e Orange haviam ingressado no quadro das colónias inglesas da África do Sul.

E no rescaldo da pacificação que seguiu a tam agitado período de lutas e de inquietações, julgou o Bei, entendeu o seu Governo de prudente e hábil política mandar àquelas paragens em viagem diplomática de visita às colónias do Cabo e do Natal, de Orange e do Transvaal figura de alto relevo, capaz de, pelo prestígio político, consolidar a vitória das armas e assegurar aquela unidade moral que é a base indispensável de todo q exercício estável do poder e da autoridade.

Para tam delicada missão escolhia-se o irmão do próprio Rei - Duque de Connaught, que há pouco ainda faleceu.

Acompanhava-o a esposa - duquesa Margarida, filha do célebre general Príncipe Frederico da Prússia, e a filha, Princesa Patrícia!

No séquito, a dama de honor Miss Pelly, o general Sir John Maxwell e o capitão Lord French.

Mais tarde, já na África do Sul, decide-se que as altas personagens visitem Lourenço Marques e ali embarquem de regresso à Europa.

Era Ministro da Marinha e do Ultramar o professor Moreira. Júnior, actual presidente da Academia das Ciências de Portugal. Governador da província de Moçambique, João de Azevedo Coutinho, alma de herói e de epopeia, símbolo da honra e da bravura, o homem com quem a Nação salda hoje, pelos seus representantes na Assemblea Nacional; a dívida que há perto de trinta anos mantém em aberto, restituindo-o de facto e por lei w marinha - a essa marinha que ele tanto amou e tam gloriosamente serviu - e a que jamais em espírito deixou de pertencer.

Apoiados.

A João Coutinho é então cometido o encargo da recepção dos príncipes - recepção que, sem deixar, naturalmente de ser modesta, despida de frivolidades espectaculosas ou descabidas, teria de ser digna do nome e prestígio de Portugal, digna das velhas tradições do País que, através dos séculos, em toda a sua expansão colonial, foi sempre o mais lídimo pioneiro do progresso u1 da civilização.

Ao espírito de João Coutinho logo acode a idea, tam inteligente como audaz, de assombrosa parada da gente mais temida e aguerrida de Moçambique - o desfile, perante os príncipes, de milhares de guerreiros das terras de Gaza e Lourenço Marques - a antiga gente do Gungunhana, que há pouco ainda havíamos castigado t submetido.

A emprêsa, mais que delicada, era arrojada e difícil.

Apresentava sérios riscos.

Havia que congregar e reunir tribos que pouco antes se hostilizavam ferozmente e que, vinte anos atrás, se tinham chocado em combates, os mais cruéis e sangrentos, nas próprias ruas do antigo presídio, a já então florescente cidade de Lourenço Marques.

Ia reunir-se, pela primeira vez, gente que, na campanha de 95 contra os vátuas, se bandeará para campos adversos ao domínio português.

Por demais, incontestado era o perigo de juntar elementos desta origem e no volume de tam grande número - dezenas de milhar de homens assim armados e equipados «m verdadeiro tom de guerra.

Mas ... dificuldades e perigos não os conhecia, por índole, o ânimo forte de João Coutinho sempre que um grande objectivo havia a atingir.

Ë o objectivo impunha-se-lhe agora em toda a grandeza do alto significado político e da sua larga projecção.

Era, na verdade, a prova mais eloquente da eficiência e do valor dos métodos muito próprios da nossa colonização, a manifestação máxima de prestígio sobre o indígena, manifestação de força, testemunho insofismável de segurança, inteira confiança na lealdade dos naturais ao domínio dos portugueses.

João Coutinho não hesita. Decide-se pela resolução que muitos julgariam temerária. Confia ao próprio valor, ao ascendente glorioso do seu peito coroado de vitórias em terras de África, todo o êxito do arriscado plano - em plena consciência do alto significado político, da auréola de prestígio que assumiria o País ante os olhos dos categorizados visitantes - príncipes e altos dignitários do séquito -, esses mesmos que regressavam da colónia onde há pouco ainda tam violentamente ,se tentara sacudir o domínio inglês.

Portugal ia pôr à prova, no cenário imponente de força que João Coutinho se propunha desenrolar diante de estrangeiros - os mais ilustres e da mais alta extirpe -, verdadeiramente a síntese de toda uma história de epopeias e colonização.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E foi assim, Sr. Presidente! Pela primeira vez se juntam armados, sob as cores da bandeira de Portugal, enquadrados na mesma impi, mais de 20:000 dos temidos guerreiros dos régulos das terras de Gaza para a grande e famosa parada.

E quando o tropel imenso da massa majestosa e rutilante de aço desce a trote, do alto de Machaquene, pelo antigo pântano, sobre a tribuna do governador, vigiada apenas por pequeníssima guarda de soldados, e, suspendendo o tropear imponente, estaca em frente da tribuna para lançar os três baiéteos de saudação e vassalagem, que ecoam nas almas dos presentes como hino de glorificação ao nome e poder de Portugal, o príncipe, mal refeito do assombro e emoção pelo deslumbramento feérico do espectáculo, voltando-se para João Coutinho, exclama:

«.Só portugueses são capazes de tam grande maravilha».

E o peito de aço de João Coutinho mais uma vez vibra de orgulho e de emoção - a emoção do quadro que só o seu valor podia ter criado, o orgulho desvanecido de quem tam alto sabia levantar o nome de Portugal.

Vezes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Este episódio da vida de João Coutinho, Sr. Presidente, conservei-o sempre gravado em minha