1024 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 112
acção a grave ameaça de subversão material e moral que se ia infiltrando em variados sectores da sociedade. Não carecia aquela admirável, organização para a defesa civil de quaisquer incitamentos à prática das mais excelsas virtudes ou à afirmarão da maior valentia e rigorosa disciplina.
Eu tive a grande satisfação de ver o entusiasmo com que aqueles milhares de portugueses acorreram, sem que ninguém os chamasse, a oferecer vida e haveres em defesa dos princípios do Estado Novo.
Presenciei, verdadeiramente comovido, as suas primeiras formaturas, nas quais cerravam fileiras, ombro a ombro, patriotas de todas as categorias e idades, rapazes de poucos anos e velhos de cabelos brancos, operários e patrões, estudantes e professores, proprietários e capitalistas, gente das cidades e dos campos marchando com garbo e decisão, obedecendo a chefes improvisados, na maior ordem e disciplina irrepreensível.
É que a todos iluminava a mesma luz espiritual, no propósito calmo, mas decidido, de, ou por si sós, ou ao lado do exército, sempre que preciso fosse, lutarem inflexivelmente pela defesa dos sãos princípios da nossa civilização para a felicidade do povo e prestígio da Pátria.
A organização resultante do citado decreto e seus regulamentos determinou, mas sem prejuízo da respectiva unidade geral, a divisão em múltiplas formações e conveniente distribuição territorial.
Sr. Presidente: as formações da Legião Portuguesa atribuídas à cidade do Porto, sempre rigorosamente integradas nos preceitos regulamentares, não escaparam à influência benéfica que aquele antigo e característico burgo sempre exerceu sobre pessoas e instituições que ali se fixaram.
Eu recordo a preocupação de um distinto engenheiro de nacionalidade francesa, que se domiciliara naquela cidade com sua mulher e filho e mandara este, a meio do curso, concluir os estudos em França, só porque, dizia ele, embora tivesse o maior carinho pela terra e povo, verificara que o rapaz era já mais portuense que francês, e ele queria absolutamente que seu filho readquirisse as qualidades da sua nacionalidade, embora estimasse que mais tarde ele voltasse a fixar-se e a trabalhar no Porto. É geralmente conhecida a influência que ali tem sido exercida sobre escritores, poetas, pensadores e em artistas notáveis, tais como músicos, pintores e escultores, e ainda, e de uma maneira geral, nos que demoradamente ali exercem qualquer actividade.
Todos sabem que, tal como se verificara em Nuremberga, cidade dos mestres cantores, que Wagner celebrou em imorredoura comédia lírica, também a cidade do Porto regista na sua história a passagem luminosa de poetas e outros artistas saídos do comércio e demais classes laboriosas.
Mas não é só nas pessoas que a influência daquele ambiente tão particular se exerce benèficamente.
O vinho precioso dos socalcos durienses, após uma viagem acidentada em pitorescos barcos rabelos, é desembarcado a poucos quilómetros a montante da foz do caudaloso rio Douro.
E após muitos anos de permanência naquele clima excepcional adquire brilhantes e inconfundíveis qualidades, que dele fazem a melhor bebida do Mundo, em toda a parte conhecida por vinho do Porto.
Até a nossa Pátria, cuja independência se cimentara na minha terra, na batalha de S. Mamede, nas cercanias do Guimarães, em que o jovem Afonso Henriques destroçara as hostes castelhanas comandadas pelo conde de Trava, fora baptizada naquele velho burgo e dele recebeu o glorioso nome de Portugal.
Se eu tivesse de continuar nesta ordem de ideias, seria um nunca acabar, tão notória tem sido a influência
da cidade invicta em todas as pessoas, instituições e actividades mergulhadas no seu ambiente inconfundível.
Sr. Presidente: de estranhar seria que as formações da Legião Portuguesa fixadas na cidade do Porto, Bem que por um momento tivessem de fugir à mais rigorosa integração nos princípios que informam aquele patriótico organismo e aos preceitos que regulam a sua actuação, se esquivassem à influência social do meio portuense.
Por isso, quando logo de início assisti, com grande prazer, às primeiras manifestações da faceta assistencial na vasta e simpática obra que a Legião Portuguesa, com perseverança e patriotismo, ia sucessivamente realizando na cidade do Porto, nenhuma dúvida tive em filia-los na influência da bela tradição que ali se tem verificado através dos séculos no capítulo da benemerência.
Desde a bendita obra das Misericórdias, que no Porto atingiu o expoente máximo em suas múltiplas manifestações altruístas, aos conventos, onde diariamente se distribuíam refeições, e às diversas confrarias e irmandades que ali mantêm asilos e hospitais, desde as instituições de caridade de iniciativa privada às diversas fontes de generosidade que diariamente valem a infortúnios transitórios e definitivos, tudo na cidade do Porto revela com eloquência quanto aquele ambiente tem sido propício aos mais belos sentimentos da solidariedade cristã.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Sr. Presidente: pelo elucidativo relatório e contas da comissão administrativa da assistência social da Legião Portuguesa na cidade do Porto relativo a 1946, e que foi largamente distribuído nesta Assembleia, já V. Ex.ª e os nossos ilustres colegas puderam avaliar o desenvolvimento de tão grandiosa obra.
Iniciada pelo dedicado legionário Dr. Silva Leal, com a colaboração valiosa de outros legionários ilustres, dos quais destaco o nome prestigioso do dinâmico, aprumado e saudoso capitão Eduardo Romero (Apoiados), que infelizmente já não é deste Mundo, ajudada pela câmara municipal e outras autoridades locais, acarinhada de uma maneira geral por todos os portuenses, e contando também com auxílios da junta central da Legião Portuguesa e do próprio Governo, a obra realizada em tão poucos anos é incontestavelmente grandiosa e traduz-se eloquentemente em doze refeitórios-cantinas da própria Legião, no fornecimento de alimentação a oitenta e oito cantinas-escolares do Porto, Gaia e Matosinhos e a quarenta e quatro cantinas de outras tantas empresas fabris.
Para se fazer ideia da alimentação distribuída, citarei o número de refeições diárias, que andam por vinte e duas mil, e informarei V. Ex.ª de que a sopa, saborosa e nutriente, fornecida por aquele benemérito serviço de assistência corresponde a quarenta e quatro pipas diárias!
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Não vou citar os números correspondentes ao enorme valor do considerável acervo daquela obra de assistência da Legião Portuguesa na cidade do Porto, porque V. Ex.ªs poderão consultar o relatório onde tudo se discrimina e justifica.
Mas bastará citar que as obras complementares que devem concluir-se no ano corrente orçam por 7:500.000$!
Outra nota digna de registo é que à administração tem sido inteiramente alheio o espirito lucrativo, para que tudo - capital imobilizado e em circulação e o esforço inteligente e devotado da ilustre comissão administrativa da assistência social e dos seus devotados colaboradores - se traduza em benefícios para aliviar infortúnios e facilitar a vida a tantos dos que não dispõem de recursos para maior fartura.