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29 DE FEVEREIRO DE 1992

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Mercê do seu débil estado de saúde, e após exames médicos, a operação é marcada para terça-feira, por diagnóstico de temperatura alta.

Manuel Ferreira sai da sala de operações cerca das 21 horas e 40 minutos.

«Perguntei ao Dr. Benjamim como tinha corrido a cirurgia, respondeu-nos que tudo correra muito bem e que no Natal já estava em casa», dizia-nos com dor e revolta a filha, Isabel Ferreira.

Entretanto a morte ocorre perto das 23 horas.

«Ficámos só nós no quarto com uma empregada de limpeza. Os médicos foram imediatamente embora. A respiração do meu pai era aflita. O organismo rejeitava o soro, mas a empregada, que lhe segurava a mão, dizia que era devido à posição em que se encontrava o braço. Daixámos de o ouvir respirar, entrou a enfermeira e tomou-lhe o pulso.»

Foi o pânico, a enfermeira accionou o alarme e aí apareceu outra colega de trabalho dizendo que estava a fazer cartões de boas-festas.

A enfermeira que assistiu à operação, descontrolada, gritava: «O médico? A médica?» Não estava nenhum deles.

O telefone não funcionava, a enfermeira pede moedas para ir à cabina pública falar ao Dr. Benjamim, só contactável à uma hora da manhã, ou à Dr.a Leonor Martins, que se encontrava no jantar de aniversário de Lopes Graça.

«Tinha problemas cardíacos», diria Leonor Martins à família.

Acusa a filha: «Se tinha problemas cardíacos, o que não foi diagnosticado no electrocardiograma efectuado previamente, os médicos não se iam embora. Se sabiam que tinha problemas, não abandonavam o doente.

O meu pai morreu porque não foi assistido.»

O director clínico, Dr. Mafra, teria dito à família que «a equipa médica é que tem de assumir responsabilidades»; ele nada teria a ver com o caso.

Nenhum dos médicos quis assumir a responsabilidade da certidão de óbito; passada só na quarta-feira à tarde pelo delegado de saúde a fim de que o corpo pudesse ser autopsiado no Instituto de Medicina Legal em Coimbra, conforme as exigências da família, que pretende apurar responsabilidades.

«Não queremos dinheiro. Apenas pretedemos que não aconteça a mais ninguém a dor que estamos a sentir. Entregámos o meu pai vivo para ser sujeito a uma operação de rotina, que nos disseram demorar 15 a 20 minutos... e depois morre assim!»

Cinquenta contos de depósito é quanto a Clínica pede quando o doente dá entrada, a título de depósito. Diariamente, pelo quarto, 9900$, não estando aí incluídos os tratamentos administrados.

«Dizia-nos o Dr. Mafra que a Clínica é como um hotel, garante-se o quarto, o resto são responsabilidades à parte», desabafava Isabel Ferreira!

A Clínica de Santa Iria um hotel... com passagem para a outra vida.

Refira-se que O Templário tentou o contacto com os envolvidos no processo, o que não conseguiu. Era--nos sempre dito que não estavam.

Entretanto registaram-se naquela noite, na Clínica, alguns desacatos, pelo que o director solicitou a presença da PSP, que se deslocou até lá. Pretendia o director que a PSP usasse a força e pusesse na rua os familiares da vítima. Claro que os agentes interroga-

ram os responsáveis da Clínica como é que poderiam fechar a porta e pôr na rua pessoas em estado de choque, a quem tinha acabado de morrer um familiar chegado e devido a negligência médica, conforme alegam.

Apurámos que apenas o Dr. Mafra deu a cara. O Dr. Benjamim teria ficado escondido na Clínica até os ânimos acalmarem.

Ainda o caso da Clinica de Santa Iria (*)

Recebemos dos familiares de Manuel Ferreira o pedido de publicação do texto que se segue:

Eu, Maria Isabel Ferreira Barbosa Marques, filha de Manuel Ferreira, industrial da Quinta do Falcão, que faleceu no passado dia 17 de Dezembro na Clínica de Santa Iria, L.da, em Tomar, cumpre-me o dever moral de informar todos os cidadãos desta cidade das circunstâncias em que ocorreu a sua morte.

No passado dia 10 de Dezembro o meu falecido pai é vítima de um atropelamento na E. N. n.° 358, ao km ± 16 (estrada essa que atravessa o lugar da Quinta do Falcão e que nem passadeiras para protecção destes habitantes e nem sequer placa com limite de volo-cidade tem), nesse mesmo dia recebe os primeiros socorros no Hospital Distrital de Tomar, sendo detectada uma fractura na tíbia da perna esquerda. O médico ortopedista de serviço não compareceu no dito hospital até à hora em que a família, vendo as precárias condições em que se encontrava o doente, decidiu assinar o termo de responsabilidade e levar o sinistrado para casa. Nesse mesmo dia houve uma conversa telefónica com o Dr. Benjamim Ari Kruzer, um outro ortopedista que também faz serviço nesta cidade de Tomar. No dia seguinte, eu, Maria Isabel, falei pessoalmente com o Dr. Benjamim, tendo o mesmo passado pelo Hospital de Tomar a fim de tomar conhecimento do tipo de fractura que o meu pai sofrera. Cerca das 16 horas o Dr. Benjamim deslocou-se a casa do meu falecido pai, a fim de lhe dar conhecimento do seu estado (uma vez que estava no uso das suas capacidades). Foi então que ficou marcada a operação para sexta-feira, dia 13. No dia 12 a família solicitou uma ambulância a fim de fazer o transporte do sinistrado para a Clínica de Santa Iria, L.da, onde ficaria internado até ao dia 17, dia do seu falecimento. Após a saída de casa, e antes do internamento, o meu pai fez um electrocardiograma e uma radiografia à perna fracturada e outra ao tórax. Exames esses solicitados pelo médico ortopedista, Dr. Benjamim. No momento em que o meu pai dava entrada na dita Clínica, qual não foi o nosso espanto quando nos deram conhecimento de que ele teria de subir as escadas pelos seus próprios meios, porque esta não estava munida de qualquer acessório que facilitasse a subida ao 1.° andar (local onde estão situados os quartos). Deitado na maca, seria totalmente impossível subir devido, aos cantos que as escadas fazem. Teve de se apoiar num ombro do bombeiro e num outro ombro do filho, e eu, de cócoras, à frente lhe levantava a perna engessada (tudo isto poderá ser testemunhado pelo bombeiro que efectuara o transporte e também por três outras pessoas que se encontravam na entrada da Clínica e que a qualquer momento lhes posso solicitar que testemunhem o que presenciaram). No dia 13 fez

(*) Publicado no semanário O Templário, de 17 de Janeiro de 1991.