O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

29 DE FEVEREIRO DE 1992

52-(45)

Quando seriam provavelmente 23 horas e 30 minutos, surge uma nova enfermeira, que é apanhada de surpresa com os nossos gritos de dor (era esta a tal enfermeira que mencionei que tinha a cara inchada devido ao abcesso dos dentes e que mais tarde me deu um comprimido para a dor de cabeça, tomando ela outro de seguida, dizendo-nos que o tomava devido à dor de dentes na presença de várias testemunhas). É quando a mesma me solicitava moedas para apelar a não sei quem num telefone público que se encontra no outro lado da rua. Seria esta a única enfermeira que se prontificou a ajudar-nos em tudo o que estaria ao seu alcance.

Cerca das 24 horas e 30 minutos surge o director da clínica, Dr. Rosário Mafra, quando a mesma já se encontrava invadida por diversos familiares. Quando o mesmo ia a entrar à porta principal o meu irmão abordou-o, perguntando-lhe: «O senhor é médico?» Tendo o director da Clínica retorquido: «Não, venho visitar um doente.» Quando surjo nas escadas, e reconhecendo-o, gritei: «Este é o director da Clínica.» Como era de esperar, os presentes revoltaram-se com todas estas injustiças.

Quando já passava da 1 hora da madrugada, pedi ao meu cunhado para me levar novamente a casa do médico, tendo sido o meu cunhado quem bateu à porta, ficando eu sentada no carro. Quando o médico surgiu, apenas lhe disse: «Senhor doutor, matou o meu pai.» E ele respondeu-me: «Eu deixei-o bem» (até àquela hora tinha-se mantido incomunicável).

Quando cheguei novamente à Clínica o médico desaparecera. Parecia um autêntico sonho: todos os directos responsáveis desapareciam como por encanto (primeiro as enfermeiras, quer a chefe quer a de serviço, depois a médica anestesista e por fim o médico ortopedista).

Chamámos o nosso advogado de família cerca das 2 horas da madrugada, o qual apenas podia presenciar a nossa dor e revolta e limitar-se a ouvir os comentários do director da Clínica, que repetia constantemente que a Clínica apenas cedia os quartos e equipamentos e que o restante seria da total e exclusiva responsabilidade dos médicos.

Outro ponto que me esqueci de mencionar foi o facto de que aquando do internamento do meu falecido pai tive de fazer um depósito de 50 000$ a título de caução e que diariamente pagaria 9900$ pelo quarto e todos os tratamentos, exames, sala de operações, honorários do médico operador e da médica anestesista ou qualquer outro extra (e dormida de um familiar no quarto, o que já se tinha verificado) seriam pagos posteriormente.

Por todos estes factos que acabei de mencionar leva--me a crer que ainda há alguns médicos que levam a medicina a brincar, como se de bonecos se tratasse: estraga-se, deita-se fora e quando houver oportunidade, compra-se outro. Mais uma vez realço o facto de não haver um único médico de serviço permanente ou pessoal especializado, o que evitaria provavelmente a morte do meu pai.

Escrevi este depoimento com uma dor profunda pela morte do meu querido pai, mas aliviando-me um pouco a revolta por ter podido transmitir à população em geral o modo como que tudo se processou. Cada um de vós poderá agora fazer um juízo deste acontecimento trágico.

Houve quem já nos acusasse publicamente que actuamos mais com o coração do que com a cabeça, mas para todos os que pensam desse modo desejo-lhes que num futuro muito próximo não lhes suceda um caso idêntico ao meu.

Maria Isabel Ferreira

Solicitadas vistorias

Apurou O Templário que os familiares de Manuel Ferreira solicitaram já à Ordem dos Médicos uma vistoria à Clínica de Santa Iria a fim de que se «possam inteirar de como vai o funcionamento da mesma».

«E como não poderia deixar de ser, penso que tudo isto que acabao de relatar seja o suficiente para que V. Ex.as possam abrir um processo contra os médicos envolvidos e a Clínica», refere-se no documento.

Entretanto foi também feita uma exposição ao Ministério da Saúde, onde se requer igualmente uma vistoria à referida unidade.

«[...] espero que seja feita uma vistoria a esta clínica para que V. Ex.as se possam inteirar de como vai o funcionamento da mesma. Mais uma vez realço o facto de não haver um único médico de serviço permanente ou pessoal especializado, o que evitaria provavelmente a morte do meu pai.»

Apesar dos contactos efectuados, O Templário não conseguiu obter o resultado da autopsia efectuada em Coimbra, no Instituto de Medicina Legal.

Requerimento n.° 343/VI (1.a)-AC de 10 de Fevereiro de 1992

Assunto: Situação na fábrica de Fiação de Tomar. Apresentado por: Deputado Agostinho Lopes (PCP).

Os trabalhadores da fábrica de Fiação de Tomar continuam sem receber o salário do mês de Dezembro, 50% do 13.° mês e a segunda semestralidade relativa aos créditos em atraso, vencida em 31 de Janeiro.

Também em contradição com o previsto no plano de viabilização, não tem existido investimento significativo e necessário para a continuidade da empresa.

Nos termos constitucionais e regimentais aplicáveis, requeiro ao Ministério do Emprego e da Segurança Social os seguintes esclarecimentos:

1) Que informações tem da situação na fábrica de Fiação de Tomar?

2) Que medidas pensa desencadear para que sejam assegurados aos trabalhadores os seus direitos?

Requerimento n.° 344/VI (1.a)-AC

de 10 de Fevereiro de 1992

Assunto: Linhas férreas do Sabor, Corgo e Tâmega. Apresentado por: Deputado Agostinho Lopes (PCP).

Aos olhos das populações transmontanas estão encerradas as linhas ütLSabor, do Tâmega e o percurso Chaves-Vila Real da linha do Corgo. Na linha do Tua começou a «encenação» com as propostas rodoviárias alternativas.