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II SÉRIE-C — NÚMERO 10

essa, toda a gente quer!... Portanto, esta defesa da alteração do escudo está a custar não sei quanto, em divisas, ao Banco de Portugal. O Sr. Deputado Rui Carp, pelos vistos, tem a informação de que custou muito pouco, mas eu não sei quanto foi. No entanto, é natural que tenha sido muito.

Julgo que todos gastaríamos que as regras do jogo fossem respeitadas e que houvesse a ombridade de dizer «estamos a defender o valor do escudo para ver se conseguimos evitar problemas que possam dificultar a concertação social em relação ao valor que estipulámos no Orçamento, para não termos de refazê-lo.»

O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.* Deputada Helena Torres Marques.

A Sr.* Helena Torres Marques (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro das Finanças: Tinha uma perspectiva sobre o que se estava a passar, mas ela ficou bastante clarificada com a intervenção do Sr. Deputado Rui Carp.

Ainda bem que estas reuniões são gravadas, para que o que dizemos conste para o futuro.

Percebo o alívio do Sr. Deputado Rui Carp, através destas adjectivações estrambólicas, com a saída que o Governo encontrou para a situação em que estamos. Na verdade, ele deveria estar tão preocupado com as posições que assumiu na semana passada que não se lembrava de qualquer argumento que pudesse invocar para defender o que então disse. Por isso, a intervenção que, hoje, o Sr. Ministro das Finanças fez deve parecer-lhe uma coisa perfeitamente extraordinária.

A minha leitura do que se passou, realmente, com uma certa tentativa de distanciamento, é a seguinte: o Governo, agora como disse o Sr. Ministro, não podia ter uma posição indiferente à que a Espanha tomou, mas, no entanto, teve-a na tal «quarta-feira negra», com todas as consequências que daí adviriam.

Em minha opinião, como o Governo tinha apresentado o Orçamento e ele ia ser discutido, não lhe convinha, nessa altura, tomar essa posição.

Mas ainda o discurso do Sr. Priineim-Ministn) estava no ar, ainda os discursos dos Srs. Deputados do PSD —que nunca têm dúvidas sobre nada, e só têm de fazer referências elogiosas ao que se passa— se faziam ouvir, quando veio uma nova turbulência e, desui vez, o Sr. Ministro disse que nós não podíamos ficar indiferentes em relação á Espanha.

Acho que fez muito bem em não ficar «indiferente», o que não percebo é por que consideram uma desvalorização o que aconteceu à peseta e não consideram uma desvalorização o que aconteceu ao escudo, sabendo eu muito bem — e não volto a repeti-lo, Sr. Ministro —, o que é o realinhamento, o que é...

O Sr. Presidente: — Sr." Deputada, desculpe interrompê-la.

Sr. Deputado Rui Carp, pediu licença para interromper a Sr." Deputada Helena Torres Marques?

O Sr. Rui Carp (PSD): — Sr. Presidente, é só para dizer que mantenho e confirmo tudo aquilo que disse, na semana passada, na Asssembleia. Só gostava que a Sr* Deputada tentasse ser mais perceptível naquilo que está a dizer porque, até agora pelo menos eu tive dificuldade em perceber o que a Sr." Deputada está a querer dizer.

O Sr. Presidente: — Sr." Deputada peço-lhe o favor de falar mais próximo do microfone porque está a sentir-se alguma dificuldade na sala em perceber-se o que está a dizer.

A Oradora: — Muito obrigada Sr. Presidente.

Sr. Deputado Rui Carp, agradeço a sua interrupção, mas pedia que só o Sr. Presidente me interrompesse ou, então, devia ter-me perguntado se não me importava de ser interrompida nas outras vezes.

Portanto, o que estava a dizer é que percebo, em termos políticos, por que não houve o primeiro realinhamento e que percebo, também em termos políticos, por que é que, desta vez, houve realinhamento. E convém que fique claro que nós nunca pusemos senão a perspectiva de haver um realinhamento porque achávamos que era necessário que houvesse. Não um realinhamento para beneficiar as empresas, mas para não prejudicar mais a situação da economia portuguesa.

Entenda Sr. Ministro, que é essa a nossa perspectiva e o que pensamos que deve ser feito.

Mas, quando o Sr. Ministro fala em «fazer uma actuação indicativa e preventiva», está a fazer um convite à especulação porque o que diz significa que isto é preventivo em tudo o que se relaciona com o que se vai passar a seguir, logo, está convidando a que se diga: «vai passar-se Isto a seguir». Aliás, todos os jornais o dizem, como diziam antes.

O que aconteceu este fim-de-semana era algo que toda a gente sabia como o Sr. Ministro, tão bem como eu, sabe o que se está a passar.

Assim, o que continuo sem perceber das respostas que o Sr. Ministro entretanto já deu é o motivo por que o Governo tomou a medida que parece ser a medida normal e acertada tomada por unanimidade e de acordo com lodos os outros governos, e, a seguir, o Banco de Portugal está a actuar ao contrário do que o Governo disse que queria fazer. Isto é que não dá para entender. E, eu gostaria que o Sr. Ministro respondesse a isto concretamente. E, já que o Sr. Deputado Rui Carp tem acesso às verbas que o banco central gasta para aguentar o escudo, gostaria que os outros Deputados desta Casa também tivessem acesso a essas verbas.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Lino de Carvalho.

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): — Sr. Presidente, foi quase tudo dito, mas ainda gostava de colocar esta reflexão ao Sr. Ministro: aquilo a que chamaria «a perversão do raciocínio da maioria e do Governo» é devido ao facto de assentar todo o seu raciocínio e o seu discurso naquilo a que eu chamaria «um certo fundamentalismo monetário», completamente desligado das suas repercussões na economia real.

Quando várias Deputados falaram aqui nas sinais enviados à economia e nos sinais enviados aos diversos sectores produtivos, que se baliam, de há uns meses a esta parte, com condições desfavoráveis nas suas relações com as outras economias, face às diferenças dos custos cambiais e dos custas financeiros, a questão que se colocava era a da necessidade de aproveitar estas novas paridades, ou melhor, este novo realinhamento, para permitir abrir essas perspectivas para que sobretudo os sectores que se têm debatido com mais dificuldades possam ter algum alívio no seu aperto e