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1698

Em virtude de resolução da camara dos senhores deputados se publica o seguinte

(Continuado do n.° antecedente)

Documento n.º 16

Copia — Administração do concelho de Villa Real — N.° 21 — Ill.mo e ex.mo sr. — Chegando ao meu conhecimento que a maior parte das pessoas que no dia 6 do corrente concorreram dos concelhos do Peso da Regua e Santa Martha a esta villa, com o fim de se apresentarem ao ex.mo commissario regio, encarregado pelo governo de Sua Magestade de syndicar do modo porque as differentes auctoridades do districto se houveram nas ultimas eleições municipaes, foram a isso levadas por falsas promessas, e a pretexto de fins differentes d'aquelles que os promotores de tal reunião tinham em vista, acrescendo a isto que essas pessoas eram, na maxima parte, jornaleiros, a quem se distribuiu uma quantia de dinheiro como salario do dia em que aqui vieram, para que o ex.mo commissario regio se não deixe impressionar com falsas apparencias, e com manifestações que nada mais significam do que o resultado de alguns individuos a quem as medidas preventivas, tomadas pelas respectivas auctoridades, frustraram os seus planos, entendi dever proceder ao presente auto de investigação, que remetto em original para V. ex.ª se dignar fazer d'elle o uso que julgar conveniente.

Deus guarde a v. ex.ª Villa Real, 11 de março de 1864. = Ill.mo e ex.mo sr. governador civil d'este districto. = O administrador do concelho, Arthur Jorge Teixeira.

Está conforme. = O primeiro official, servindo de secretario geral, Francisco Antonio de Carvalho.

Auto de investigação para averiguar se muitos dos individuos que dos concelhos do Peso da Regua e Santa Martha concorreram no dia 6 do corrente a esta villa, com o fim de se apresentarem ao ex.mo commissario regio, foram a isso levados por dinheiro que se lhes offereceu e distribuiu.

Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1864, aos 9 dias do mez de março do dito anno, n'esta Villa Real e administração do concelho, aonde eu escrivão estava com o administrador do mesmo, o bacharel Arthur Jorge Teixeira, por elle foi dito que chegando ao seu conhecimento que um grande numero dos individuos (pela maior parte jornaleiros), que no dia 6 do corrente vieram dos concelhos do Peso da Regua e Santa Martha, a esta villa, com o fim de formarem um meeting, para se apresentarem ao ex.mo commissario regio, encarregado pelo governo de Sua Magestade, de syndicar do modo porque as differentes auctoridades administrativas d'este districto se houveram nas ultimas eleições municipaes, foram para isso assalariados, promettendo-se lhes e distribuindo se lhes depois uma quantia de dinheiro, e dando-se a todos um grande jantar no logar e freguezia da Cumieira, concelho de Santa Martha, querendo assim os promotores de tal reunião fazer querer ao ex.mo commissario regio n'um pronunciamento dos povos contra as respectivas auctoridades pelos actos que praticaram nas ditas ultimas eleições, quando tal pronunciamento não passa de alguns individuos que, na impossibilidade de se fazerem amar dos povos, e leva-los a seus fins, pretendem aparentar uma popularidade que não têem; e não sendo taes reuniões mais que a significação da vontade d'esses individuos, realisada pelos meios pecuniarios de que dispõem e espalham a mãos largas, e não o sentido dos povos d'este districto; e para que a auctoridade não possa ser illudida com vãs apparencias, nem se deixe impressionar por falsas manifestações, mandou elle administrador vir á sua presença as testemunhas abaixo declaradas e assignadas, para conhecer até que ponto são verdadeiras as asserções que deixa expostas, e inquerindo as sob juramento, disseram o seguinte:

Antonio Alves Cavallaria, casado, estalajadeiro, morador na rua da Fonte de Chão, d'esta villa, de idade de sessenta e tres annos, perguntado pelo conteudo no corpo d'este auto que lhe foi lido, disse:

Que no dia 6 do corrente, seriam nove horas da manhã pouco mais ou menos, entrou em sua casa um individuo que depois soube chamar-se Fortunato, do logar de Loureiro, concelho do Peso da Regua, e disse a elle testemunha que queria uma cavallariça para seis cavallos, a qual elle testemunha lhe promptificou, e n'ella entraram estes e muitos mais de pessoas que concorreram á reunião que n'esse dia houve n'esta villa.

Que pouco depois começaram a entrar e a agglomerar-se em casa d'elle testemunha, grande numero de individuos, chegando a ponto de occuparem toda, e ainda assim pouco á vontade, entrando uns, saíndo outros, e durando este movimento até ás duas para as tres horas da tarde, hora em que o dito Fortunato tirou do bolso um papel em que trazia escriptos os nomes de muitos individuos e começou a chamar por sua ordem cada um d'estes, e á maneira que iam respondendo, ía o dito Fortunato entregando a cada um d'elles a quantia de 500 réis, fazendo esta distribuição por duzentas pessoas pouco mais ou menos.

Que elle testemunha, quando viu esta chamada e entrega de dinheiro, teve curiosidade de saber a rasão por que se fazia, perguntando a muitos dos chamados qual a rasão por que recebiam este dinheiro; se todos tinham voto e se todos eram do partido da opposição; muitos d'elles lhe responderam, que um individuo por nome Borges, da freguezia de Fontellas, do mesmo concelho do Peso da Regua e outros, tinham feito vir a esta villa uma grande parte dos trabalhadores e jornaleiros das respectivas freguezias, aquém offereceram e agora davam 500 réis por esse trabalho, promettendo-lhe tambem pagar igual quantia no dia 7, se ainda estivessem n'esta villa, e que por isso a maior parte dos que tinham recebido este dinheiro não eram eleitores, e muitos dos que tinham esta qualidade haviam votado nas ultimas eleições com os amigos do governo.

Disse mais:

Que tambem n'essa occasião haviam dito a elle testemunha, que no logar e freguezia da Cumieira estavam duas pipas de vinho e muita comida, para os que quizessem comer e beber.

Nada mais disse e vae assignar com elle administrador este depoimento, depois de lhe ser lido por mim Antonio Manuel Marques, Nogueira, escrivão da administração que o escrevi. = Jorge = Antonio Alves = Antonio Manuel Marques Nogueira.

Francisco de Oliveira Campos, casado, estalajadeiro, morador na rua da Calçada, d'esta villa, de idade vinte e nove annos, perguntado pelo conteudo no corpo d'este auto, que lhe foi lido, disse que no dia 6 do corrente entrou em sua casa um individuo bem trajado e pediu uma cavallariça para um cavallo cinzento em que vinha montado, e uma manta para o cobrir, o que elle testemunha satisfez, e logo depois começaram a entrar em sua casa muitos individuos que vinham para uma reunião que n'esse dia houve n'esta villa, a que concorreu muito povo.

Que alguns d'esses individuos pediram de comer e comeram effectivamente, e quando ella testemunha lhes pediu para que pagassem o importe da despeza, elles lhe responderam que quem pagava tudo era o sr. Torres, e como elle testemunha lhes observasse que nada tinha com este senhor, e que quem lhe havia de pagar haviam de ser os que fizeram a despeza, elles começaram a questionar, e foram-se escapando um a um, de modo que ficou por em bolçar da despeza que haviam feito, que importaria em 3$000 réis, incluindo o prejuizo que n'esse dia teve, e dando conta no fim da tarde que lhe não havia sido entregue a manta que havia emprestado, procurou-a mas não a encontrou, o que o leva a crer que lhe foi furtada por algum d'aquelles individuos, dos quaes não conheceu nenhum.

Disse mais, que ouviu dizer publicamente que na estalagem do Cavallaria foi distribuida a quantia de 500 réis a um grande numero de individuos, que n'esse dia concorreram á reunião.

Nada mais disse, e vae assignar o seu depoimento com elle administrador do concelho, depois de lhe ser lido por mim Antonio Manuel Marques Nogueira, escrivão que o escrevi e assigno = Jorge = Francisco de Oliveira Campos = Antonio Manuel Marques Nogueira.

Domingos de Carvalho, casado, estalajadeiro, morador no Tabulado d'esta villa, de idade de setenta annos, perguntado pelo conteudo no relatorio d'este auto, que lhe foi lido, disse:

Que no dia 6 do corrente foram a sua casa varios individuos dos que concorreram á reunião popular que n'esse dia teve logar n'esta villa, a fim de comer e beber, e logo pagaram, á excepção de uns outros que lhe ficaram a dever meia facha de palha, que no outro dia lhe foi paga por Sebastião José Claro da Fonseca, d'esta villa.

Disse mais:

Que um d'aquelles individuos perguntou a elle testemunha se conhecia o Cerdeira da Regua, ao que respondeu negativamente, e o mesmo individuo lhe redarguiu então, que era elle o que pagava a todas as pessoas que tinham vindo á reunião, e que esta gente vinha toda a favor do Torres.

Disse mais:

Que o sujeito que lhe disse isto era de Jugueiros.

Nada mais disse, e por não saber escrever assignou o seu depoimento elle administrador com o seu nome por inteiro, depois de lhe ser lido por mim Antonio Manuel Marques Nogueira, escrivão que o escrevi e assigno.